30/04/2010
Castelo de areia

Castelos de areia

Sol a pino. Maresia. Ondas ritmadas. Na praia está um menino.

Ajoelhado, ele cava a areia com uma pá de plástico e a joga dentro de um
balde vermelho. Em seguida, vira o balde sobre a superfície e o levanta.

Encantado, o pequeno arquiteto vê surgir diante de si um castelo de
areia.

Ele continuará a trabalhar a tarde inteira. Cavando os fossos. Modelando
as paredes.

As rolhas de garrafa serão as sentinelas. Os palitos de sorvete serão as
pontes. E um castelo de areia será construído.

Cidade grande. Ruas movimentadas. Ronco dos motores dos automóveis.

Um homem está no escritório. Em sua escrivaninha, ele organiza pilhas de
papel e distribui tarefas. Coloca o fone no ombro e faz uma chamada.

Como que num passe de mágica, contratos são assinados e, para grande
felicidade do homem, foram fechados grandes negócios.

Ele trabalhará a vida inteira. Formulando planos. Prevendo o futuro.

As rendas anuais serão as sentinelas. Os ganhos de capital serão as
pontes. Um império será construído.

Dois construtores de dois castelos. Ambos têm muita coisa em comum:
fazem grandezas com pequeninos grãos...

Constroem algo do nada. São diligentes e determinados. E, para ambos a
maré subirá, e tudo terminará.

Contudo, é aqui que as semelhanças terminam. Porque o menino vê o fim,
ao passo que o homem o ignora.

Observe o menino na hora do crepúsculo.

Quando as ondas se aproximam, o menino sábio pula e bate palmas.

Não há tristeza. Nem medo. Nem arrependimento. Ele sabia que isso
aconteceria. Não se surpreende.

E, quando a enorme onda bate em seu castelo e sua obra-prima é arrastada
para o mar, ele sorri...

Sorri, recolhe a pá, o balde, segura a mão do pai e vai para casa.

O adulto, contudo, não é tão sábio assim. Quando a onda dos anos
desmorona seu castelo, ele se atemoriza...

Cerca seu monumento de areia, a fim de protegê-lo.

Tenta impedir que as ondas alcancem as paredes. Encharcado de água
salgada e tremendo de frio, ele resmunga para a próxima onda.

“É o meu castelo” diz em tom de afronta.

O mar não precisa responder. Ambos sabem a quem a areia pertence...

Talvez você não saiba muito sobre castelos de areia. Mas as crianças
sabem.

Observe-as e aprenda. Vá em frente e construa, mas construa com o
coração de uma criança.

Quando chegar a hora do pôr-do-sol e a maré levar tudo embora, aplauda.

Aplauda o processo da vida, segure a mão do pai e vá para casa.


A vida tem sua dinâmica própria, e obedece a leis transcendentes que nem
sempre conseguimos compreender totalmente...

Mas o certo é que a roda da vida gira e nos oferece lições importantes
para serem apreendidas e vividas.

Resta-nos conhecer e confiar. Observar e aprender.

Por isso, vá em frente e construa, mas construa com o coração de uma
criança.

E quando chegar a hora do pôr-do-sol e a maré levar tudo embora,
aplauda.

Aplauda o processo da vida, segure a mão do Pai e vá para casa.


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