Com sintomas semelhantes, Ataque Isquêmico Transitório é um alerta para ameaça de AVC
O cardiologista Cesar Castello Branco Lopes esclarece que o AIT é um subtipo do Acidente Vascular Cerebral e ambos são causados por problemas na circulação sanguínea do cérebro
O Ataque Isquêmico Transitório tem reversão espontânea, daí a razão pela qual é chamado de transitório –
Do nada, uma pessoa começa a apresentar dificuldade para falar, se locomover, os pensamentos ficam confusos. Nem sempre, contudo, esses sintomas são de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), mas podem ser um AIT (Ataque Isquêmico Transitório), como explica Cesar Castello Branco Lopes, médico neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP: “O AIT é uma sigla que se refere ao Ataque Isquêmico Transitório, que é um subtipo de AVC, ou seja, o Acidente Vascular Cerebral, que são doenças causadas por problemas na circulação sanguínea do cérebro”. Quando se fala de AVC, é preciso mencionar que há dois tipos principais: o hemorrágico e o isquêmico.
“Nos AVCs hemorrágicos, nós temos rompimento de artérias que levam a sangramentos dentro do cérebro e, no caso do subtipo isquêmico, nós estamos falando de entupimento dessa artéria, uma obstrução ao fluxo de uma determinada artéria. Sempre que a gente fala de um AIT, a gente está falando de um subtipo isquêmico, ou seja os AITs são causados por interrupção no fluxo sanguíneo de um vaso cerebral, um entupimento de uma artéria. Esse entupimento, essa obstrução sanguínea, leva a uma falta de oxigênio e a falta de oxigênio leva a um comprometimento do funcionamento do cérebro”, diz Lopes.
Reversão espontânea
O especialista acrescenta que o Ataque Isquêmico Transitório tem reversão espontânea, daí a razão pela qual é chamado de transitório. “Esse entupimento da artéria melhora espontaneamente e o paciente não fica com sequelas neurológicas. A duração desse evento pode variar de minutos a algumas horas. Já no caso do AVC, essa obstrução de fluxo sanguíneo não tem uma melhora espontânea, então, o paciente fica com sequelas neurológicas, caso ele não seja tratado a tempo.” Mas como devemos agir no caso de suspeita de AIT?
“Quando a gente está diante de uma pessoa que se apresenta com qualquer sintoma ou sinal sugestivo de um comprometimento, de um problema de funcionamento do cérebro, a gente deve pensar que ela pode estar tendo um AIT ou um AVC. Que sintomas são esses? Dificuldade para falar, dificuldade para se comunicar, fraqueza e perda de sensibilidade numa região do corpo, perda de visão, vertigem, tontura súbita que dificulta o caminhar, ou seja, que tem dificuldade de equilíbrio e de coordenação. Esses sintomas são sugestivos de algum problema cerebral. Então, diante desses sintomas, é importante que essa pessoa seja levada para um hospital o mais rápido possível. Os sintomas do AIT, do AVC isquêmico ou do AVC hemorrágico são os mesmos, a gente não consegue diferenciar se a pessoa vai ter um AIT, se ela vai ter um AVC isquêmico ou um AVC até hemorrágico, com sangramento dentro do cérebro, antes que ela seja levada para o hospital”, alerta o especialista, antes de acrescentar que não se deve esperar pela melhora dos sintomas. Isso significa que, quanto mais rápida a avaliação médica, melhor. A demora em tratar pode aumentar o risco de sequelas.
Investigação das causas
Quando se sofre um AIT, é realizada uma investigação completa para descobrir a causa do problema e, desse modo, prevenir novos eventos neurológicos. São realizados exames cujo intuito é tentar achar a causa que levou à interrupção do fluxo sanguíneo cerebral. “Na fase aguda, a gente pode usar medicações para prevenir novos eventos, como os antiagregantes plaquetários, como um AAS, por exemplo, mas a gente sabe que o tratamento mais eficaz é tratar a causa do AIT. Alguns pacientes podem passar por procedimentos ou cirurgias para tratar a causa do AVC, um exemplo é a cirurgia, direcionada para tratar placas nas artérias do pescoço, que às vezes podem causar o AVC ou AIT.”
Estima-se que uma a cada quatro pessoas ao longo da vida irá apresentar um AVC. Por esse motivo, é muito importante a conscientização sobre o tema e sobre como saber agir em uma situação de risco. Lopes complementa: “Os fatores de risco relacionados ao AIT são muitos, como pressão alta, diabete, tabagismo, colesterol alto e obesidade. Problemas no coração e arritmias também podem aumentar o risco de a pessoa ter um AIT. É possível prevenir a doença por meio do tratamento, do controle dessas condições médicas, pelo controle dos fatores de risco e também por meio da promoção de saúde e mudança do estilo de vida”.