Uma novidade apresentada em agosto, no XVI Congresso Brasileiro de Hipertensão, promete facilitar a rotina dos hipertensos dependentes de medicação diária: a chamada vacina contra hipertensão.
As últimas descobertas apontam para a produção de um anticorpo capaz de atuar sobre a angiotensina II. O presidente e coordenador do congresso, Antonio Felipe Sanjuliani, explica que a angiotensina II é um hormônio produzido pelo organismo. "Em certas condições, ela tem a capacidade de elevar a pressão arterial e induzir à hipertensão. O anticorpo seria capaz, então, de inibir a atuação deste hormônio".
O estudo realizado por cientistas suíços, publicado na revista especializada Lancet em março deste ano, ainda não é conclusivo, já que foi feito com um número muito restrito de pacientes. A previsão para o uso seguro da medida terapêutica também não foi definida, segundo o especialista.
Sobre a possibilidade de a vacina substituir todas as outras formas de tratamento, Antonio Felipe é incisivo: "a vacina atuaria sobre um dos principais mecanismos responsáveis pelo aumento da pressão, mas não em todos. E certamente seu uso não descartaria a necessidade de seguir hábitos saudáveis, nem a possibilidade do uso de outros medicamentos para controlar a pressão".
Ainda de acordo com Sanjuliani, a vacina seria capaz de substituir apenas o grupo de medicamentos que atuam na mesma direção que ela. Ou seja, medicamentos que agem sobre os efeitos da angiotensina II. "Os pacientes que sofrem de pressão alta devido à ação da angiotensina II poderiam se beneficiar, sobretudo, com a praticidade da vacina, tomada a cada quatro meses", fala sobre a proposta do tratamento.
Mesmo nos casos de ação final semelhante, a substituição dos remédios precisaria ser bem estudada. "As drogas atuais voltadas para o tratamento da hipertensão oferecem mais que o controle da pressão arterial. Elas são capazes de produzir efeitos benéficos a vários órgãos e tecidos. Ainda não foi descoberto se essas vantagens são oferecidas pela nova proposta de tratamento", completa Sanjuliani.
Além da comprovação de sua eficácia, os estudos precisam checar a segurança da vacina. O coordenador do congresso explica que a vacina bloqueia o receptor da angiotensina II. Este, por sua vez, desempenha papel fundamental na regulação da pressão e dos líquidos corporais. "Ainda não se sabe o que o bloqueio total deste sistema poderia acarretar diante de situações de desidratação ou trauma", exemplifica.