Com ônibus grátis há dez anos, Agudos (SP) livra empresas de vale-transporte.
País em protesto Agudos (SP) se antecipou --e muito-- às manifestações pela tarifa zero no transporte público. Há dez anos, passageiros circulam de ônibus pela cidade de 34 mil habitantes sem pagar passagem.
Apesar da aprovação de moradores e empresas, ações de vandalismo levaram a prefeitura a equipar parte da frota com câmeras. A criação de um cartão de identificação também está em análise.
Diariamente, os 16 veículos da frota levam uma média de 9.000 pessoas. A prefeitura mantém 25 funcionários no setor --20 deles, motoristas.Ao ser apresentada nas eleições de 2000, a proposta de tarifa zero do grupo político do ex-prefeito José Carlos Octaviani (PP) recebeu críticas e manifestações de descrédito. "Eu mesmo achava um absurdo", diz ele. "Hoje, é visto como obra social."
A prefeitura gasta R$ 120 mil por mês para manter o serviço. A cidade do centro-oeste paulista tem orçamento anual de R$ 92 milhões.O atual prefeito, Everton Octaviani (PMDB), sobrinho do ex, afirma que não é fácil manter o benefício. "É pesado. Hoje, a passagem custaria no mínimo R$ 1,50. Com a economia, o morador pode ter alimentação e vestuário melhor, por exemplo. Tem grande alcance social."
E político também. Ao disputar a reeleição, em 2004, Octaviani obteve 68% dos votos válidos, ante 33% na primeira eleição, antes da gratuidade. Quatro anos depois, elegeu o sobrinho, um jovem inexperiente na política.
Em 2012, as eleições foram mais inusitadas: Everton foi o único candidato.
O transporte gratuito chama tanta atenção que há até quem tenha escolhido Agudos para morar por isso, como o pintor de móveis Moisés de Moura, 27, há seis meses na cidade.
A possibilidade de economizar fez com que trocasse São Manuel pela cidade vizinha. "Agudos mostra, numa época difícil, que dá para ter transporte gratuito", diz.
O serviço também atrai empresas, que ficam livres de gastos com vale-transporte.
A Provence, confecção de lingerie de Bauru (SP), instalou sua fábrica numa área de 5.000 m². "A redução nas despesas com transporte foi significativa", diz a empresária Marinez Conticelli Manflin.
Para manter o transporte gratuito, o prefeito diz que é preciso conter despesas. Os cargos de confiança, por exemplo, caíram pela metade em 13 anos.
OUTRAS CIDADES
Em Ivaiporã (a 400 km de Curitiba), com 31,8 mil habitantes, o transporte é gratuito há 12 anos. Segundo o prefeito Luiz Carlos Gil (PMDB), o "passe livre" custou R$ 520 mil em 2012 aos cofres públicos. O orçamento anual do município é de R$ 50 milhões.
Em Pitanga (a 338 km de Curitiba), com 32,6 mil habitantes, o serviço gratuito começou em fevereiro de 2012, com números mais modestos. Dois ônibus levam cerca de 400 usuários por dia, a um custo de R$ 12 mil mensais.
CRISTINA CAMARGO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM AGUDOS (SP)