Sensação de 70 graus?
Nos últimos dias, também começaram a circular na internet projeções de que a sensação térmica pode chegar aos 70°C em algumas partes do país.
Essa estimativa se baseia numa tabela do Grupo de Climatologia Aplicada ao Meio Ambiente da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).
A ferramenta cruza duas informações: a temperatura e a umidade do ar.
Se os termômetros baterem 41°C e a umidade estiver em 80%, por exemplo, a sensação térmica de fato beira os 70°C, segundo essa tabela.
Mas outros órgãos de meteorologia, como o InMet e o MetSul, estimam que a sensação térmica pode chegar a até 50°C em alguns locais.
Hirota pondera que a sensação térmica é uma medida muito variável.
"As sensações térmicas previstas nesses modelos levam em conta um padrão de medida, com condições específicas", diz ela.
"É por isso que relógios de rua, aqueles que medem a temperatura, podem dar diferentes valores. Isso vai depender se o sol bate diretamente ali, a sensibilidade dos dispositivos, os ventos..."
E essa variabilidade toda acontece também com os seres humanos.
"Temos fatores externos que influenciam na sensação térmica, como umidade, vento, sombra e temperatura", diz a pesquisadora.
"Mas cada pessoa pode ter uma sensação individual, que depende da idade, do nível de desidratação, entre outros fatores", complementa ela.
Isso acontece porque possuímos uma série de "termostatos", que sentem a temperatura do ambiente e tentam regular para que o corpo fique sempre mais ou menos em 37 °C.
Em dias muito quentes, uma maneira de fazer isso é através do suor: a liberação de líquidos literalmente resfria a pele para mantê-la dentro dos limites aceitáveis para nossa própria sobrevivência.
Porém, como explicado mais acima, esse processo de transpiração é influenciado por uma série de fatores externos — uma umidade elevada, por exemplo, dificulta a liberação de líquidos pelo organismo, o que faz a sensação térmica subir.
O mesmo acontece com um indivíduo que não está hidratado o suficiente (ele não tem um estoque de água a ser liberado) ou com os mais velhos (cujo "termostato" fica um pouco mais impreciso pelo processo natural do envelhecimento).
Por isso, nesses dias de muito calor, é ainda mais importante fazer uma boa hidratação com água e frutas, usar roupas leves, arejar ambientes fechados e buscar o abrigo de sombras sempre que possível.
Todos esses cuidados ajudam o corpo a lidar melhor com a temperatura extrema e aliviam a sensação térmica individual.
E essas ações serão cada vez mais necessárias num cenário de mudanças climáticas.
"Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas apontam que eventos extremos, como secas, frio, chuvas e ondas de calor já estão mais frequentes", lembra Hirota.
"Isso não é algo para o futuro. Já vemos acontecer agora mesmo.