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29/09/2020
Ciclone-bomba e a reserva florestal de Caieiras

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70% da reserva florestal da Cia Melhoramentos ainda está preservada, mas no ritmo atual deve chegar a zero no fim do século

Em algum momento da sua vida você já deve ter ouvido falar que o Brasil era um país sortudo por não ter desastres naturais. É raro ouvir que houve um furacão, um terremoto ou um tsunami por aqui. Ou pelo menos, era. Em julho, as notícias de um ciclone-bomba na Região Sul assustaram as pessoas. O estrago não foi pequeno e o registro não é só dos ventos. Recentemente há muito mais notícias de fortes chuvas, terremotos e furacões que mesmo sem afetar tanto o Brasil causam prejuízos em vários lugares do mundo.

Se nunca houve essas coisas por aqui, como elas estão aparecendo agora? E por que os desastres naturais têm sido cada vez mais frequentes? No Examinando nós falamos sobre os efeitos das mudanças climáticas e o prejuízo econômico e social delas para o planeta.

Quando falamos nos Círculos Polares já imaginamos um lugar muito frio, coberto de neve, com pinguins e ursos. Mas este ano o lugar virou notícia por registrar nada menos do que 38 graus Celsius. É a média da temperatura registrada no Rio de Janeiro em pleno verão. Geralmente a temperatura no círculo Polar no verão chegava a no máximo 20º. Ou seja, alguma coisa está muito errada.

Aqui no Brasil foi o ciclone-bomba, com ventos de até 130 km/h, que chamou atenção para as mudanças no clima. O fenômeno causou mais prejuízos no estado de Santa Catarina, onde deixou mais de 10 mortos e milhares de pessoas sem energia elétrica. Também derrubou árvores e retirou telhados de casas.

Pela extensão do dano e pela quantidade de cidades afetadas, o fenômeno foi considerado a pior tempestade a atingir Santa Catarina desde que se tem registro. Foi pior do que o furacão Catarina, um ciclone tropical que se formou no oceano e tocou a terra no litoral catarinense, destruindo 1.500 casas e matando 11 pessoas em 2004.

Mas o que é um ciclone-bomba, afinal?

O ciclone ocorre quando há o encontro de um centro de baixa pressão com outro de alta pressão. Funciona assim: primeiro, a temperatura do mar supera os 27 ºC. Devido a essa temperatura, a água começa a evaporar, o que gera umidade e colabora para a formação de nuvens. Há então, um centro de baixa pressão. Ao chegar lá em cima, esse ar que evapora se depara com um vento seco, sem umidade, aquilo que chamamos de frente fria. Essa representa um centro de alta pressão, que resfria o ar, jogando ele novamente para baixo. Então, o ar fica preso em um grande vai e vem: esquenta e sobe, esfria e desce. E isso gera o ciclone.

Mas esses são apenas alguns exemplos das mudanças climáticas que vêm acontecendo no planeta. O continente europeu, que costumava ter um inverno rigoroso, com temperaturas muito abaixo de zero, e um verão mais ameno, registrou em 2018 e 2019 temperaturas de mais de 40 graus. As pessoas se molhavam em fontes públicas pra aguentar o excesso de calor.

Um dos motivos pra esses fenômenos naturais e essas mudanças repentinas de temperaturas é o aquecimento global. As mudanças climáticas devem causar grandes transformações em todo o mundo: o nível do mar vai subir, a produção de alimentos pode cair e algumas espécies talvez sejam extintas.

A previsão dos cientistas até o fim do século não é nada animadora. Um calor insuportável deve castigar a Índia. Temperaturas acima de 50 graus Celsius poderão impedir as pessoas até de saírem de casa. Por causa do calor, boa parte do Oriente Médio pode ficar inabitável. Em Paris, a temperatura média deve aumentar de 6 a 7 graus.

O planeta está agora quase um grau mais quente do que estava antes do processo de industrialização. De 2015 a 2018 foram os quatro anos mais quentes da história. Se essa tendência continuar, as temperaturas podem subir entre 3ºC e 5ºC nos próximos 80 anos.

Alguns graus podem não parecer muita coisa, mas estudos mostram que se os países não tomarem uma atitude contra esse movimento, o mundo pode enfrentar mudanças catastróficas. O nível do mar vai subir, a temperatura e a acidez dos oceanos vão aumentar e a nossa capacidade de produzir alimentos como arroz, milho e trigo estaria ameaçada.

As mudanças climáticas têm forte impacto na economia. Além do custo da reparação dos danos cada vez maiores e mais frequentes, prejudicam diretamente a produção agrícola e alteram até padrões de consumo.

O Fórum Econômico Mundial lançou um movimento batizado de O Grande Reset, que prevê a geração de oportunidades com a transição para uma economia de baixa emissão de carbono. A emissão do carbono é um dos motivos que agravam o aquecimento global. A proposta é usar as tecnologias da chamada indústria 4.0 para promover uma nova economia, focada na sustentabilidade.

Além disso, outro movimento que norteia essa busca por uma economia e ações sustentáveis é o Acordo de Paris, que é um pacto em que diversas nações se comprometeram a reduzir as emissões de carbono em até 80% até 2050 com o objetivo de manter a elevação da temperatura global em apenas 2 graus. Mas os dados mostram que a meta ainda está bem longe de ser atingida e que as ações atuais não têm sido suficiente pra alcançar o objetivo.

Mas o tema ambiental vai muito além do meio ambiente. A discussão também recebe cada vez mais atenção do mercado financeiro. É crescente a preocupação com eventos catastróficos com potencial de gerar grandes crises no mercado. No final do ano passado, o Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais, publicou um documento no qual alerta que as mudanças climáticas podem ser o gatilho de uma nova crise financeira global, e por isso, cuidar no meio ambiente é importante para a nossa economia e para a nossa sobrevivência.

Fonte: Revista Exame



Edson Navarro - Economista