Ano e govêrno começam nesta 4ª feira de cinzas.Depois de sessenta dias, foram divulgadas pesquisas sobre a aprovação do atual governo. A avaliação é relevante para a economia na medida em que indica a maior ou menor capacidade de obter a aprovação da reforma da Previdência.
O governo Bolsonaro chegou a 38,9% de aprovação na pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Ao contrário do que muita gente fez, não dá para comparar esta avaliação do início do mandato de Bolsonaro com o dos governos FHC, Dilma, Lula e Temer. As metodologias das pesquisas são muito diferentes.
Embora a aprovação pessoal do presidente Bolsonaro tenha sido elevada (57,5%), alguns analistas esperavam um percentual maior para esta fase inicial do mandato.Dois fatores limitam percentuais mais elevados de aprovação do governo.
Em primeiro lugar, a sequela da crise. Depois de passar pela pior recessão da história em 2015/16, a economia tem registrado uma recuperação lenta em 2017/18, crescendo ao ritmo de 1,1% ao ano. Embora não seja responsabilidade do atual governo, isso afeta sua avaliação.
Em segundo lugar, a política se tornou mais polarizada, a exemplo do que aconteceu em outros países, tornando mais difícil a consolidação de uma maioria esmagadora de aprovação.
Chamaram atenção os resultados em relação à reforma da Previdência: 45,6% desaprovam, ante 43,4% que aprovam. Isso também não surpreende. Em todos os países em que houve reforma da Previdência, a medida nunca foi popular. Aumentar o tempo de serviço e diminuir os benefícios não costuma agradar a arquibancada.
Há, contudo, uma consciência crescente de que tais mudanças são necessárias e inadiáveis. Em particular, existe apoio à retirada dos privilégios. Mas persiste um gigantesco desafio de comunicação por parte do governo diante da força das corporações e lobbies.
Há, igualmente, necessidade de uma postura de estadista por parte das lideranças políticas no sentido de lutar pela reforma, independentemente do seu grau de popularidade. Neste sentido, causaram apreensão, na semana passada, as declarações do presidente cedendo de forma aparentemente precipitada em relação a aspectos do projeto recém-apresentado ao Congresso.
Isso explica, em parte, o comportamento negativo dos indicadores financeiros nos pregões de quinta e sexta-feiras, com a queda na semana de 3,2% do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores). Em contraste, as expectativas nas bolsas internacionais foram positivas em virtude dos sinais favoráveis a um acordo entre China e EUA.
Não há previsão de muitos indicadores econômicos no mercado doméstico nesta semana de Carnaval. Chama a atenção apenas o número de inflação do IGP-DI (Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna, calculado pela Fundação Getulio Vargas).
Depois da quarta de Cinzas, ou mais provavelmente na próxima segunda, os mercados vão se movimentar com maior volume. Há uma concentração de indicadores importantes que serão divulgados na semana do dia 11. Aí começará o ano no Brasil; e o governo Bolsonaro.
Gesner Oliveira