Doria obteve 51,75% dos votos válidos contra 48,25% de Márcio França (PSB). A vitória do tucano é a sétima do PSDB, que está no comando do estado há 24 anos.
O empresário e ex-prefeito da capital paulista João Doria (PSDB) foi eleito neste domingo (28) governador de São Paulo no segundo turno. O resultado só foi confirmado com 98,49% das urnas apuradas às 19h34. O tucano no total obteve 10.990.160 votos, o que corresponde a 51,75% dos votos válidos, contra 48,25% de Márcio França (PSB), que obteve 10.248.653 votos. Uma diferença de 741.507 votos, ou 3,5%. Votos nulos foram 3.543.394, 13,71%, e brancos foram 1.054.978, 4,08%
Depois de 16 anos, a eleição para o governo de São Paulo foi para o segundo turno, a última vez foi em 2002, entre Geraldo Alckmin (PSDB) e José Genoino (PT).
Ao comemorar a vitória, Doria enalteceu o apoio da mulher, Bia Doria, e de aliados, e disse que a partir de agora o PSDB não tera mais "muro".
"Vamos governar para todos os brasileiros de São Paulo. A nossa gestão será da transparência, liberal, inovadora. Conosco será a nova política. Nós a partir de janeiro estamos aposentando a velha política de São Paulo", disse Doria.
Doria vence em 60% das cidades do interior de São Paulo; França tem mais votos na capital e litoral sul.
Doria perde 20 zonas eleitorais do 1º para o 2º turno na capital paulista e termina com 41,9% na cidade onde foi prefeito.
"São Paulo vai liderar a nova política, progressista, desenvolvimentista, para gerar empregos, atrair capital externo, gerar recursos no agro, turismo, indústria, tecnologia e ciência."
Doria falou também sobre o futuro do PSDB. "Respeito os líderes que ajudaram a fundar e construir o PSDB. Não vamos desrespeitar a história desses nomes. Temos que interpretar essa eleição com muita humildade. PSDB precisa sintonizar com o momento atual e o momento futuro do nosso país. Faremos isso sem ofender ninguém, sem atacar a história de ninguém."
"Não recebi ligação de Fernando Henrique Cardoso nem de Geraldo Alckmin. A partir de 1º de janeiro, no meu PSDB, do Bruno Covas, do Bruno Araújo, tem lado. Estará ao lado do povo, ao lado do Brasil", disse Doria.
Márcio França
Em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul, Márcio França (PSB) falou em respeito aos resultados e disse que ligou para João Doria, a quem desejou "toda sorte do mundo".
"A gente sai frustrado porque não era o que a gente queria, mas tenho a compreensão de que eleição é assim: acaba uma, começa outra. Foi assim a minha vida toda. Eu já disputei, com essa, 17 eleições, de algum jeito, ou apoiando alguém, ou fazendo campanha pra mim mesmo. E em todas elas, saibam, na maioria eu ganhei, mas saio do mesmo jeito, com mais vontade se fazer política, de poder ajudar as pessoas", declarou França.
A vitória do tucano é a sétima do PSDB, que está no comando do estado há 24 anos. Mario Covas foi o primeiro tucano a governar o estado. Ele interrompeu a gestão do à época PMDB, hoje MDB, que se manteve no Palácio dos Bandeirantes de 1983 a 1995.
Doria foi eleito após uma campanha marcada por acusações de seus adversários de que ele deixou a prefeitura da capital paulista antes de terminar o mandato. Doria saiu da prefeitura em abril, depois de 15 meses, para poder disputar a eleição para governador.
Aos, 60 anos, foi a primeira vez que o tucano disputou o cargo. Doria foi afilhado político do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e foi eleito no primeiro turno em 2016 para a Prefeitura de São Paulo.
Os dois tucanos tiveram um mal estar depois de Doria anunciar apoio ao candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) antes do primeiro turno das eleições.
No segundo turno, Doria chegou a ir até o Rio de Janeiro para tentar se encontrar com Bolsonaro, mas não foi recebido pelo candidato à presidência. Bolsonaro afirmou, após a tentativa de encontro, que Doria é oposição ao PT e que lhe desejava boa sorte.
Alckmin chegou a dizer que Doria o teria traído durante uma convenção nacional do partido em Brasília. Antes de o partido definir o nome que disputaria a presidência, Doria declarou que deveria ser o escolhido, passando por cima do ex-governador.
Prefeitos tucanos de cidades paulistas chegaram a declarar apoio ao candidato Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo. Questionado sobre a atitude dos prefeitos, Doria afirmou: "Eu não vejo racha, eu vejo depuração. As esquerdas se unem, as esquerdas se aglutinam e se aglutinam em torno do Márcio França. E é bom que façam isso, porque temos um campo mais claro, de esquerda".
O diretório municipal do PSDB em São Paulo expulsou Alberto Goldman, ex-governador, que declarou voto em Fernando Haddad (PT) para a presidência, e o secretário estadual de Governo, Saulo de Castro, e mais 15 filiados por infidelidade partidária. Eles recorreram às instâncias superiores do partido.
Promessa de cumprir mandato
Em 2016, durante a campanha para assumir a chefia do Executivo municipal, Doria garantiu, em entrevista ao G1, no dia 21 de setembro de 2016, que se fosse eleito, cumpriria "todo o mandato". "Serei prefeito por quatro anos e sem reeleição", disse Doria à época.
Durante seu mandato ficou conhecido por vestir uniformes de funcionários, como de gari e pintor, por exemplo, durante a execução do Programa Cidade Linda.
Paulistano, Doria nasceu em 16 de dezembro de 1957, filho do publicitário e ex-deputado federal João Doria e de Maria Sylvia Vieira de Morais Dias Doria.
Logo após o golpe militar em 1964, seu pai, publicitário e marqueteiro político, que se elegera deputado federal teve o mandato cassado, o que fez com que a família se exilasse em Paris por 2 anos.
De volta ao Brasil, a mãe de Doria instalou uma fábrica de fraldas em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo e Doria foi estudar na Escola Estadual Professora Marina Cintra, na rua da Consolação.
Durante a campanha, em 2 de setembro, o então candidato visitou a escola. Doria foi recebido pela diretora e visitou a parte administrativa, conversou com alunos em uma sala de aula e tirou fotos com outros que estavam no horário do intervalo.
Em 1970, aos 13 anos, Doria começou a ajudar sua mãe na fábrica. Mais tarde, por meio das relações do pai, conseguiu um estágio em um departamento de Rádio, TV e Cinema de uma agência de propaganda.
Doria fez faculdade de Comunicação Social na FAAP e logo assumiu uma diretoria na antiga TV Tupi. Depois, tornou-se diretor na Rede Bandeirantes e ficou à frente da MPM, maior agência de propaganda do país na década de 80.
Hoje, Doria é casado com a artista plástica Bia Doria e tem três filhos. Ele tem dois livros lançados: “Sucesso com Estilo” e “Lições para Vencer”.
Sua grande marca está no Grupo Doria, grupo de Comunicação e Marketing composto por seis empresas: DoriaAdministração de Bens, Doria Editora, Doria Eventos, Doria Internacional, Doria Marketing & Imagem e LIDE (Grupo de Líderes Empresariais).
Foi no LIDE, que atualmente possui 1.650 empresas filiadas e que representam 52% do PIB privado brasileiro, que Doria se consolidou líder empresarial e articulador entre os empresários.
Também atuou como Publisher da Doria Editora que publica 18 revistas segmentadas voltadas para empresários e o público de classe A, entre elas: LIDE, Caviar LifeStyle, Gabriel, Meeting & Negócios, Mulheres líderes e Oscar.
Doria foi secretário Municipal de Turismo, além de presidente da PAULISTUR entre 1983 e 1986, na gestão de Mário Covas na Prefeitura de São Paulo. Posteriormente, presidiu a Embratur e o Conselho Nacional de Turismo, de 1986 a 1988.
Processos
Doria é réu em três ações cíveis por improbidade, propostas pelo Ministério Público, por violação aos princípios constitucionais da administração pública e por enriquecimento ilícito.
Em uma das ações, o ex-prefeito de São Paulo é investigado por usar o slogan da sua campanha em 2016 em ações e projetos da Prefeitura, em benefício próprio e para proveito pessoal durante a gestão, entendeu o promotor Nelson Sampaio, que ingressou com o processo na 6ª Vara da Fazenda Pública.
A defesa de Doria ingressou com pedido de agravo de instrumento de decisões interlocutórias do magistrado que ainda não foram julgadas. O MP foi citado para se manifestar e a última movimentação é de 6 de setembro, com petições anexadas na 1ª Instância. O caso ainda não foi julgado.
Em outra ação, Doria foi condenado, em 24 de agosto, por improbidade e com suspensão dos direitos políticos por 4 anos pela juíza Carolina Martins Cardoso, titular da 11ª Vara da Fazenda Pública, por usar o slogan da Prefeitura em ações pessoais.
A Justiça aceitou o pedido do MP de que o uso da marca configurava “promoção pessoal do administrador público”. A assessoria de Doria disse à época que iria recorrer da decisão.
Polêmicas na Prefeitura
Os 15 meses da gestão de Doria na Prefeitura de São Paulo foram marcados por polêmicas como a megaoperação que prometeu acabar com Cracolândia da região da Luz, área central de São Paulo, e a promessa de distribuição da farinata, espécie de granulado feito a partir de alimentos próximos do vencimento anunciado para ser entregue nas escolas municipais da capital.
Após a operação contra o tráfico de drogas em maio do ano passado na região da Luz, Doria chegou a afirmar que a Cracolândia havia acabado. “A Cracolândia aqui acabou, não vai voltar mais. Nem a Prefeitura permitirá nem o governo do Estado. Essa área será liberada de qualquer circunstância como essa. A partir de hoje, isso é passado”, disse.
Os usuários de drogas que circulam pela área chegaram a mudar de local, mas voltaram para as ruas onde costumavam circular e o consumo e o tráfico de drogas permanece.
Em relação à farinata, Doria chegou a defender o produto como sendo “um alimento completo”. “O quie seria jogado fora de alimentos, vegetais, frutas, cereais... são totalmente reaproveitados, com segurança alimentar. Uma chícara dessa de alimento é suficiente para uma criança por um dia”, afirmou à época. Após as críticas feitas ao produto, a Prefeitura voltou atrás e desistiu de incluí-lo na merenda escolar.