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14/10/2024
Diversas crônicas Altino

[22:38, 10/13/2024] Altino Olímpio: Crônica antiga corrigida

A idade de oitenta anos não tem o mesmo efeito para todos. Nessa idade tem quem a tem como a idade das melhores reflexões. Mas, parece que a maioria dessa idade apenas continua a viver sem refletir sobre o mundo, sobre a vida e sobre si mesma. Nessa idade, que, para a maioria dos que a possuem ela já beira a morte, a morte é bem mais lembrada do que quando se é mais jovem. Em 2019 a média de longevidade brasileira era de 76.6 anos. Entretanto, benvinda é a idade de oitenta anos, que, ultrapassando a média nacional de longevidade ela está a provocar pensamentos sobre o passado e como nós nos encontramos neste presente relembrando nossos enganos e desenganos ocorridos pela trajetória de nossas vidas até agora. 

Nessa fase da vida pode estar o deixar das ilusões, o deixar das superstições, o deixar das vaidades, o deixar dos desejos, o deixar das ambições, o deixar das esperanças e até o deixar da importância que sempre se pensou ter neste mundo onde só ele é a importância, pois, não precisa de nós para poder existir. Não é ele que vive em nós, nós é que vivemos nele. Mas, de donde veio a ideia de que somos importantes sendo como somos imperfeitos, tendo muitos defeitos iguais aos de muitos outros? Talvez a nossa importância tenha vindo da preferência, que, como acreditam, Deus tem por nós, os seres humanos, e que, como dizem, todos têm uma missão “importante” a cumprir nesta vida cheia de percalços como são os sofrimentos. 

Cada pessoa tem seus próprios pensamentos sobre a vida ou até mesmo nem os tenha. Uma pessoa inteligente e realista não tem certezas sobre o que, como e para que é a nossa vida neste mundo, o único que “podemos” saber que nos existe. Na idade de oitenta anos, menos ou mais, como exemplo aqui, ao se lembrar sobre a aproximação da morte, isso muda as nossas prioridades. Tal idade avançada mais está para o se esvaziar do que se preencher com conceitos outros.  

O desaprender torna-se mais importante que o aprender. O calar se torna mais necessário do que o falar (risos). Enfim é na velhice que se adquire maior compreensão do que seja útil ou inútil para o viver neste mundo donde nada é permanente e nem ninguém. Quanto aos que se queixam da velhice seria bom que eles se lembrassem daqueles que morreram jovens ainda e não tiveram a mesma sorte de outros que viveram ou que vivem por muito mais tempo, tendo tempo de relembrarem das alegrias passadas e dos ridículos que foram alguns de seus envolvimentos com algumas pessoas (risos).

https://www.youtube.com/watch?v=omCwd3HlpW0

Altino Olimpio
[22:44, 10/13/2024] Altino Olímpio: Tempos do fogão a lenha

Eram nas cinzas do fogão a lenha anteriores ao fogão a gás que as batatas doces ficavam assadas. Isso, antes do surgimento do chuveiro elétrico que para sempre substituiu os chamados banhos de bacia de água quente. O saudoso gato amarelo e o cachorro preto e branco chamado de Lulu foram sempre presenças queridas. Subindo pelo quintal por sobre o gramado usado para estender roupa lavada, próximo ficava o barracão oficina do pai e outro acoplado para guardar a lenha para o fogão. Defronte ficava o pé de caqui que fazia sombra para a horta de verduras variadas que esverdeavam o chão até mais acima quando terminava no pé de laranja. 

Depois do pé de laranja havia uma valeta por onde as águas pluviais escorriam para o esgoto que terminava no rio. À esquerda depois do barracão de lenha o terreno tinha pouca vegetação, mas, ela rodeava o pé de nona cujos seus frutos eram bem doces e parecidos com os então araticum. Mais acima havia o cercado do galinheiro que tinha poleiro para as galinhas subirem para o dormir da noite. Mais acima o abacateiro e ao lado dele a amoreira era para o piquenique dos pássaros. No restante do terreno pés de mandioca e pés de batata doce escondiam seus alimentos que ficavam enterrados e ocultos. 

Impossível esquecer aqueles dois cabritinhos peraltas que davam chifradas com os seus pequenos chifres. Aqueles céus azuis dos dias ensolarados que enfeitavam os pássaros que no bem alto do espaço pareciam representar a liberdade de viver. No fim das tardes se ouvia a barulhenta algazarra do bando de pardais nas árvores. E as borboletas, então, o voar delas parecia um bater palmas com suas azas coloridas. E os beija-flores voando para trás e parando no ar antes de se aproximarem das flores para sugarem o néctar delas. Tudo fazia parte de um espetáculo da natureza que mais envolvia os meninos que viviam integrados nela. 

Sempre me “revejo” sozinho sentado na beira do rio que passava perto de donde eu morava. Até parecia que ele me dizia: Viva bem os bons momentos da vida porque eles passam e nunca voltam como foram antes. Crescer e ficar adulto é como se viajar para longe da natureza, longe da simplicidade do existir para um nunca mais voltar a ser a inocência que tanto diferencia uma criança livre e despreocupada de um adulto repleto de responsabilidades que o atormenta e o impede de viver momentos de paz e tranquilidade. Vivemos uma vida que não tem volta. Lembranças e recordações não substituem o que já se viveu alegremente. É triste não ter para onde voltar a não ser para a realidade atual que é uma reviravolta ou mudança de tudo o que existiu de bom no passado. 

https://www.youtube.com/watch?v=mu4YmzrMGWg
Altino Olímpio
[22:47, 10/13/2024] Altino Olímpio: Moda abrangente

Nós vivemos na era das calças rasgadas. Pode ser nos joelhos, pode ser nas cochas e assim caminha a humanidade, sempre na moda e não há quem discorda. Às vezes assisto vídeos de outros países e vejo que nas suas cidades as calças rasgadas também fazem parte de seus cotidianos. E essa moda é uma das mais bonitas que já vi. Quem teria sido o gênio que a inventou? Deveria ganhar o Prêmio Nobel por essa invenção. Mas, já vi também moças usando calças cheias de remendos com tecidos de outras cores bem diferentes da cor do tecido da calça, que, sem ter qualquer furo ou rasgo é enfeitada com eles, com os remendos. Essa moda e as músicas atuais tão emocionantes que se ouvem, irradiadas que são por várias lojas do comércio estão a comprovar que a humanidade evoluiu muito nestes últimos anos. Fico triste pensando na minha vó, coitada. Nos tempos dela não havia essa moda de calça rasgada que em muito enfeita as mulheres. E pensar que nesta época tão evoluída é raro existir pessoas que sejam sugestionadas por qualquer moda.  

Altino Olímpio
[22:52, 10/13/2024] Altino Olímpio: O trevo de quatro folhas

A infantilidade sempre existiu nas pessoas, principalmente naquelas ingênuas que acreditavam em tudo o que lhes falavam. Nos meus tempos de criança falavam que aquele ou aquela que encontrasse num jardim qualquer um trevo de quatro folhas teria muita sorte na vida. Lá em casa onde eu morava havia no quintal à sombra do abacateiro ou da amoreira e perto do galinheiro muitos trevos espalhados que até ocultavam a cor do chão que ficava sob eles. Crianças eram ingênuas e eu como criança que também era me vi procurando um trevo de quatro folhas, mas, sem nunca encontra-lo. Como nunca o encontrei, acredito que seja por isso que nunca tive muita sorte na vida e mais, tive azar (risos). Naqueles tempos de quando eu ainda era garoto existiam muitas superstições, das quais, muita gente acreditava nelas como sendo verdades.      

https://www.youtube.com/watch?v=wXnaruxkVqQ

Altino Olímpio
[22:53, 10/13/2024] Altino Olímpio: E a folha não caiu

Aquela moça estava acamada por estar adoecida. Para as pessoas que foram visita-la, ela, olhando para fora do quarto de donde estava, através da vidraça dele, ela lhes mostrou uma pequena árvore que ficava entre a parede (vidraça) de seu quarto e a parede oposta de outra casa. E ela disse para todos, que, por causa das tempestades de neve, quando caísse a última folha daquela árvore, ela iria morrer. Ela parecia bem convicta disso. Um velho que também foi visita-la, também ouviu dela o “quando a última folha daquela árvore cair eu vou morrer”.

Com a chuva de neve dos dias seguintes as folhas da árvore iam mesmo, caindo e cada vez mais foi restando poucas. Mas, no amanhecer e no raiar de um outro dia depois de uma noite de tempestade, olhando pela vidraça a moça viu que uma última folha da árvore resistiu à tormenta da madrugada. Então, para ela, isso esteve a significar que ela não iria morrer. Que felicidade e ela exaltada dizia para as pessoas que foram visita-la “eu não vou morrer, a última folha não caiu”. 

Entretanto, interferindo com a alegria daquele dia, alguém disse para a moça, que, aquele velho que também a tinha visitado, fora encontrado morto, havia morrido de frio, talvez por ter ficado muito tempo fora de casa e ao relento. E naquela árvore só contendo uma folha, de repente, um forte vento derrubou o pequeno galho que a sustentava, mas, a folha não caiu. Mas, como? Ela ficou suspensa no ar imóvel e sem cair? 

Mas, olhando-se para a parede oposta já citada, alguém tinha pintado uma folha fazendo-a parecer como se estivesse na árvore toda desfolhada. Isso, veio a explicar porque o velho pintor morreu de frio. Morreu por pensar salvar aquela moça que cismava que iria morrer quando caísse a última folha daquela árvore. Esta narrativa é sobre um filme e sobre uma história de época de Natal que assisti quando ainda era jovem.

Alti