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12/10/2024
Ele…!

Ele…!

Um dia desses encontrei uma cliente que há muito não via. Foi muito prazeiroso ouvir dela que nunca me esqueceu  não só pelo meu trabalho, mas também porque sempre se lembrava da história que eu lhe contei sobre eu e meu segundo marido. 
Questionou -me porque eu nunca escrevi sobre esse tema, então eu resolvi:
Aí vai…

O ano era 1994, eu recém separada do pai de meus filhos, estava num momento muito inóspito na vida. 
Tinha verdadeira paúra dos homens nessa época. Minha vontade era só maltratar qualquer um que  quisesse se aproximar de mim. E confesso que fiz isso algumas vezes, até com alguns que talvez não merecessem. 
Algumas amigas querendo ajudar a amenizar minhas mágoas e revoltas, me apresentaram a vida noturna e então,  no pouco tempo que frequentei, endureci ainda mais o meu coração ferido. 
Mas foi ali que aprendi minha auto defesa. Casei me muito cedo, não sabia nada da vida. E quando caí das nuvens, o tombo me desnorteou demais. 
Foi numa dessas noitadas que conheci o que hoje chamo de “ meu amigo cupido”!
Um homem ímpar, que passava por situação semelhante à minha, mas que entendeu perfeitamente o meu lado de não querer saber relacionamento nenhum na época. Meu pretinho básico” sim ele é mulato, tornou- se meu guardião, minha companhia , meu confidente… e juntos íamos tentando esquecer ou sufocar nossa dor!
Ele sempre dizia que um dia iria me apresentar o “ homem de minha vida”!
E eu dizia : “ nem pense, nem tente coitado daquele que cair na minha mão”!
Ele era instrutor de artes marciais e era comum eu ir até a academia onde ele lutava. 
Foi numa dessas vezes que eu vi um bonito exemplo do sexo masculino no tatame e quando questionei meu amigo sobre quem seria aquele sêr, ele foi logo dizendo: “ não minha amiga, esse daí eu não deixarei você machucar, ele é muito boa gente”. 
Achei graça, embora olhando melhor para o moçoilo,  achei que talvez fosse “ muita mercadoria para o meu caminhãozinho”…
E assim a vida continuou acontecendo, fui me cansando da vida noturna e resolvi me recolher por um tempo. 
Depois de uns dois meses sem sair de casa, meu amigo ligou-me dizendo que naquela noite eu precisaria ir encontra-lo pois ele queria apresentar-me uma pessoa muito especial,  um antigo amor que ele  acabara de reencontrar. 
Fui logo pensando em recusar dizendo que eu não iria ficar “segurando vela” para ele e a nova namorada. 
E foi então que ele me disse que ia levar um amigo muito especial que estava de férias em Santos. 
Qual não foi minha surpresa quando chegando no local de encontro, estava lá nos aguardando, aquele bonitão que eu vira na academia. 
Também simpatizei muito com a namorada de meu amigo e acabamos por ter uma noite muito agradável. 
O rapaz além de bonito, era muito simpático, dançava bem, tinha bom papo, enfim me surpreendeu. 
Nessa noite eu estava de carro e levei todos para casa, deixando o bonitão por último … todos tínhamos bebido, e pensando nisso, eu dei um corte nas investidas dele, dizendo: “ se amanhã quando vc estiver sóbrio, ainda se lembrar de mim, nós conversamos”!
Confesso que estava curiosa sobre ele. 
Quando contei para minha filha que tinha conhecido um belo homem e que ele me convidara para sair, ela foi logo dizendo: “ mãe, pelo amor de Deus, aproveite a vida, você vai perder o que”?
E foi assim que a partir do dia seguinte de conhece -lo, nós nunca mais nos separamos. 
Ele estudava em outro estado, eu não achava que duraria muito, achei que seria uma aventura e que seria bom enquanto durasse…não queria colocar expectativa, mesmo porque ele era bem mais novo que eu … etc etc. 
Mas não foi isso que aconteceu. 
Quando nossas famílias ficaram sabendo que estávamos namorando, foi um show de horrores. 
Do lado dele: “ eu era mais velha, tinha filhos, separada e blábláblá. 
Do meu lado: “ muito novo pra você, deve ter algum interesse a mais” …
Mas aconteceu que esses argumentos só serviram para nos unir. 
E o que era uma aventura gostosa, passou a ser uma paixão arrebatadora, daquelas que eu só tinha vivido na época de meus 18 anos, e quebrado a cara. 
Nada foi fácil, principalmente para ele que ao falar para os pais que ia assumir o relacionamento comigo, o mandaram escolher entre eles ou eu. 
Não se desafia um homem apaixonado. 
Ele simplesmente saiu. 
Durante os primeiros 6 anos de relacionamento eu não pude sequer levá-lo para conhecer minha mãe e familiares na minha terra. 
Mas com o tempo, eles foram vendo que ele era uma boa pessoa, e o aceitaram. 
Quanto à família dele, infelizmente para eles, não houve mais aproximaçao. 


Os meus filhos passaram da fase do ciúme para a amizade. 
Com ele eu criei um neto, que o chama de “pai”, ajudamos na adolescência de outro que o estima como um “segundo pai”! Meus filhos, todos adultos e casados o chamam para tudo o que precisam nas suas casas, enfim ele é o “ paidrasto” por quem eles têm muito carinho. 
Naturalmente nem tudo foram flores  em nossas vidas… tivemos nossos períodos de crises,  mas com ele aprendi que todos nós cometemos erros. 
Um casamento sólido se constrói tijolo por tijolo, dia a dia. 
Deixei de ser tão radical e entendi que eu também posso cometer erros no aprendizado da vida. 
Aprendi que perdoar é se libertar. 
Que somos livres e que se estivermos com alguém é única e exclusivamente porque existe sentimento e respeito. 
Entre nós não existe segredos, nossa conversa é franca, verdadeira, não poderia ser diferente, pois eu sou transparente com meus sentimentos e ele sabe disso melhor que ninguém. 
Nos casamos três vezes em cerimônias e períodos diferentes e foi tudo muito lindo, com a participação de meus filhos e amigos. 
E assim vivemos hoje em paz, com amor, cumplicidade e muitas risadas. 
Cumprimos nossas missões, somos só nós dois agora junto com nossos pets, 
e no dia 31 de outubro, completamos 30 anos juntos. 

Essa é minha homenagem a você Helio, o amor amigo que a vida me deu🩷💙

Selma