O Neto
Rachel de Queiroz

O Neto é, realmente, o sangue do seu sangue. 
Com a idade chega a saudade de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Meu Deus, para onde foram as minhas crianças? Transformaram-se naqueles adultos cheios de problemas que hoje são "os filhos", que têm sogro, sogra, cônjuge, emprego, apartamento, prestações... Você não encontra de modo algum suas crianças perdidas. São homens e mulheres, não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da espera, da gestação ou do parto, lhe colocam nos braços um bebê. Completamente grátis!
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade, longe de ser um estranho é como um filho seu que lhe é devolvido. 
E o espanto é que todos reconhecem o seu direito de o amar com extravagância!
Tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice
São amores novos, profundos e felizes, que vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. 
E quando você embala o menino e ele, tonto de sono, abre os olhos e diz: 
"Vovô" "Vovó!", seu coração estala de felicidade, como pão no forno!