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15/02/2023
O sopro da vida

Esta vida é um sopro.
Sopro que sopra para cima, para baixo, para os lados, sopro que rodopia no vendaval das paixões...
Sopro que dorme na calada da noite; sopro que alimenta um outro sopro, pequenino este, mas que cresce e começa a soprar também, devagarinho, tanto, que inspira cuidados.
Sopro materno que dorme quando o filho dorme, mas cujo sopro do amor não dorme jamais. Nem sequer cochila.
Sopro do amor supremo, Divino e generoso. Incondicional...
Sopro de dor, de cólera, de angústia, de medo, de dúvidas, de júbilo diante das vitórias conquistadas com labuta, encharcadas de infinita paciência.
Sopro seco de cansaço, sopro úmido da tristeza, impregnado do pranto sincero da saudade.
Este sopro teu parou de soprar quando aquele outro sopro mais forte que soprava cuidando três vezes, cansou e parou de soprar.
Por um instante, apenas.
Voltou soprando quando soprou para te buscar. Quando o sopro sábio dos sábios soube que chegou a tua hora.
Teu sopro, mãe, soprou um beijo hoje, o mais longo do sopro da tua vida. O mais cálido, o mais perfumado, o mais envolvente.
O sopro do adeus para quem fica, ainda soprando na cadência do cotidiano.
Dois sopros de vida unidos, que nem mesmo o sopro irremediável da morte separou.
Soprarao eternamente ao ritmo de uma Ave Maria, aquecendo juntos os sopros que geraram e que acalentam numa doce canção de ninar.
Sopre, sopro de pai e de mãe e abençoe soprando, num sopro feliz de sopro cumprido.
Sopro que se transformou em lanterna que clareando a bruma, sempre conduzirá a um porto seguro.

Andelot en Montagne, domingo, 11 de agosto de 2019


Edna Morel