Faz um certo tempo que percebo algo me incomodando muito! Talvez devido a percepção de que cruzei a linha mediana de minha jornada, e/ou ainda, as constantes e cada vez mais recorrentes despedidas, me fizeram refletir e amadurecer para enfrentar um de meus fantasmas! É evidente que no fim de uma jornada, ou com a percepção deste, buscamos a significância desde o início de nossas memórias, onde posteriormente conseguimos compreender o que realmente é/foi importante na nossa vida.

Sempre fui sisudo, polêmico, radical e até mesmo grosso (óbvio que sabem disso), embora conheça todos vocês e tenha plena certeza que sabem o que realmente sinto. Percebi que minhas travas psicológicas vão além da minha capacidade de ação! Isso é frustrante, angustiante e muitas vezes sufocante!!!

Como um simples ato “singelo, verdadeiro e espontâneo” continua a repercutir durante anos da minha existência, sem transformar-se em ação efetiva? Durante muito tempo observei todos nós (família), não me entendam mal, não é uma crítica pejorativa, mas percebi que talvez um de meus fantasmas seja o mesmo de alguns de vocês! Então resolvi dar um passo em direção ao que considero uma caminhada de esperança.

Tivemos uma educação pautada em respeito e honestidade, porém com nítidas travas sobre demonstração de afeto! Novamente, ressalto que não é uma crítica pejorativa, tenho muito orgulho de nossa educação e exemplos. Porém, acredito que devemos sempre buscar melhorar, transpor barreiras, exorcizar fantasmas, evoluir...

Dito isso, gostaria de convidá-los para uma pequena reflexão:

Nossas famílias já passaram por muitas intempéries ao longo desta nossa jornada. Perdemos pessoas queridas, sem ao menos poder se despedir adequadamente, ou ainda, expressar o perdão e amor que sentimos! Todos nos ajudamos em diversos momentos ruins, onde sem o apoio da família, jamais conseguiríamos ter superado! Brigamos? Sim... Muito!!! Mas quem de nossas famílias não recebeu apoio durante períodos tenebrosos? Quem foi deixado de lado? Quando um acontecimento negativo superou as indisposições familiares? Quanto cada um de nós reflete e significa na vida dos outros? Sim... não somos uma "família margarina" que com sorrisos falsos e palavras artificiais mantém uma harmonia fictícia! Somos intensos, talvez exacerbados, por vezes, dramáticos... mas principalmente, somos verdadeiros! E esta verdade é impulsionada por um sentimento raro no cotidiano. Quantos de nós gostaríamos de estar mais próximos? Ter mais contato? Quantos olham algo no mundo e lembram de alguém da família? Quantas vezes desejamos ter a companhia familiar?

Literalmente fomos forjados no aço bruto, com muito suor, trabalho e sacrifícios... Porém, o fio desta espada sempre foi o mesmo: o que nos mantém unidos, conectados!!! Cada um seguiu seu caminho, independente, mas ninguém nunca ficou para trás, foi esquecido ou abandonado.

Com tantas demonstrações de união, força e esperança que vivenciamos ao longo da vida, me pergunto:

Por que não sou capaz de olhar nos olhos de cada um de vocês e dizer "eu te amo"?

Quanto deste sentimento latente fica de lado sem nossa ação de expressão? Independentemente da ligação: irmãos, filhos, primos, sobrinhos, netos e bisnetos... Não importa a relação direta, pois é evidente que somos assim devido a união. Não foram os laços de sangue que construíram nosso respeito e amor!!! Então, em tempo, deixo aqui expresso meu amor e gratidão a todos vocês. Ainda que eu não consiga dizer pessoalmente, estou tentando mudar, não só por mim, mas por todos nós! Acredito que todos devem lembrar disso, refletir o quanto negligenciamos a expressão daquilo que nos mantém unidos: o amor verdadeiro.

O tempo passa... é impiedoso... Assim, suplico: não guardem o melhor para o final, libertem-se das amarras fantasmas e aproveitem para dizer “hoje” o que sentem a muitos anos, pois talvez amanhã seja tarde demais!

"Eu amo cada um de vocês e sou muito grato por compartilhar minha jornada ao seu lado, com erros, acertos, brigas, risadas, lágrimas, mas principalmente com amor"

Matheus  Rotundo