A sociedade humana vem se moldando ao longo do tempo. Porém, embora os padrões sejam repetitivos, com raras exceções, o protagonismo é almejado e até mesmo cobrado pela sociedade. Existem muitas definições de protagonismo, que embora versem ideias similares, na prática, correspondem a atitudes muito distintas. Então talvez as perguntas que devemos compreender inicialmente são: será que realmente sabemos o que é o protagonismo? Como devemos proceder para atuarmos como protagonistas? Quem pode ser protagonista?
O próprio protagonismo se modificou ao longo do tempo. No passado era creditado para as pessoas que marcavam a história por muitas gerações, porém atualmente pode ser momentâneo, quase um relâmpago, que tem pouca ou nenhuma influencia ao longo do tempo. Desde influenciadores digitais a filósofos e pensadores modernos, assim como pessoas em cargos de liderança, todos podem exercer um papel real de protagonista, porém sua significância geralmente não reverbera além de alguns poucos anos, ou mesmo semanas. Este fenômeno parece estar associado à facilidade de comunicação, principalmente por meio da internet, mas também pela ausência da compreensão protagonista. Papéis de destaque na sociedade nem sempre são aprimorados para um protagonismo efetivo, ou ainda, como classificado por algumas linhas de pensamento: protagonismo histórico.
Somos quase oito bilhões de seres humanos, como fazer com que todos sejam protagonistas? Isso é realmente possível? Sim!!! O protagonismo está muito mais relacionado com o ponto de vista do analisador do que propriamente com a ação do então protagonista. Porém, antes de esclarecer esta parte, devemos considerar o óbvio, não há protagonismo sem coadjuvantes!!! Não é possível uma pessoa ser protagonista em níveis sociais amplos, sem que as pessoas (coadjuvantes) assim o tornem.
Como um exemplo ilustrativo, podemos pensar no protagonismo de uma pessoa responsável por iluminar a noite escura através de uma vela. Neste caso, deve-se considerar que a iluminação noturna gera um papel de destaque na sociedade. Assim, a ação motriz de nosso protagonista é fornecer a luz para a sociedade poder atuar no período noturno. A partir deste exemplo podemos começar a traçar uma linha de pensamento sobre as diferentes óticas do protagonismo. 1. Para as pessoas que só realizam suas atividades durante o dia, o protagonista de nosso exemplo não é reconhecido como tal, pois sua ação não os influencia/ beneficia/ prejudica; 2. Se considerarmos que o nosso protagonista depende das pessoas que fabricam as velas para exercer sua atividade de destaque, ou seja, aqueles coadjuvantes na ação de iluminação, a ação de manter a vela acessa pode ser vista como de menor relevância e pode então perder seu protagonismo perante a sociedade; 3. Se consideramos um modelo clássico de governo, os cidadãos (coadjuvantes) que pagam seus impostos são aqueles que provem a iluminação, pois possibilitam a compra das velas e o pagamento do iluminador. Assim, os cidadãos são responsáveis (protagonistas) diretamente pela “ação protagonista” do iluminador; 4. Ainda com base no modelo do item anterior, deve-se considerar que o governante também possui um papel coadjuvante, devido viabilizar/ organizar a ação protagonista. Mesmo que o governante tenha idealizado a iluminação noturna, assumindo então um papel protagonista, sua ação não necessariamente será destacada por grande parte da sociedade, a qual geralmente não tem conhecimento do idealizador de grande parte das ações e invenções tecnológicas, tipicamente um problema histórico do reconhecimento social (com raras exceções, como Santos Dumont, Alexander Graham Bell, Princesa Isabel, etc). Neste sentido, também é importante ressaltar que, mesmo os inventores de tecnologias utilizadas até hoje, perdem sua relevância histórica ao longo das gerações, pois as mais recentes não “sentiram” o impacto dessas invenções no seu cotidiano, pois já nasceram sobre o conforto destas; 5. Nosso exemplo de protagonista influenciará diretamente na sociedade que depende da iluminação, porém após sua aposentadoria, morte ou mudança de atividade, com sua substituição, seu protagonismo na ação de iluminar será olvidado. Estes aspectos apresentados podem ser aplicados nos diferentes tipos de protagonismo existentes, segundo as vertentes racionais, assim como, pode responder boa parte das perguntas do início deste texto.
O maior protagonista da sociedade é ela mesma, através das células individuais e de seus critérios de reconhecimento. Assim, muitas ações protagonistas podem ser realizadas por coadjuvantes, dependendo do ponto de vista. Também é importante lembrar que, embora diferentes vertentes não atribuam o papel de protagonismo a seus realizadores, mas sim as suas ações, a concepção geral não é alterada, ou seja, depende do olhar do avaliador. Muitos exemplos sobre a importância dos coadjuvantes em ações protagonistas ficam evidenciados na tendência do desenvolvimento através de equipes, o que, às vezes, parece muito dual na sociedade, que cobra o protagonismo individual, mas ao mesmo tempo impõem atividades multidisciplinares ou integrativas impossíveis de serem realizadas apenas por uma única pessoa.
Em suma, todos são no mínimo protagonistas de suas próprias vidas, coadjuvantes em várias ações protagonistas e ainda determinantes (protagonistas) na classificação do protagonismo. Ações de destaque não necessariamente refletem o papel protagonista de quem as realiza, o que evidencia a importância/ necessidade do coadjuvante no protagonismo. Basicamente, podemos utilizar a linha criacionista (“não existe relógio, sem um criador”) para explicar o protagonismo, onde: “não existe protagonismo, sem coadjuvantes”. Assim, talvez um dia, a sociedade valorize adequadamente, por exemplo, na premiação do Óscar, os papéis coadjuvantes em relação aos protagonistas... claro que este é apenas um exemplo simplório para a questão, mas facilita a compreensão da depreciação existente nas ações coadjuvantes.
Matheus Marcos Rotundo