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29/09/2022
Meningite meningocócica pode ter evolução rápida

Já há surto em São Paulo

Segundo especialista, grande preocupação é que a meningite meningocócica pode ter evolução muito rápida para agravamento do quadro clínico

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Em razão do atual surto de meningite meningocócica localizado nos distritos da Vila Formosa e Aricanduva, bairros da zona leste da capital paulista, e da possibilidade de evolução rápida para forma grave da doença, a Prefeitura intensificou a vacinação na população das áreas afetadas. Especialista, no entanto, reforça que a vacina é indicada para todos, embora na rede pública só esteja disponível no calendário para a imunização de crianças, adolescentes e adultos em situações especiais, além de aplicação em casos de surto da doença.

Na terça-feira, 27, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS) informou que intensificou a imunização nas regiões onde foram registrados cinco casos de meningite meningocócica do mesmo tipo C, entre 16 de julho e 15 de setembro deste ano: um bebê de 2 meses e adultos de 20, 21, 42 e 61 anos de idade. Um mulher, de 42 anos, morreu em 2 de agosto.

Prefeitura de SP confirma uma morte por meningite na zona leste da cidade

“A grande preocupação é que a meningite meningocócica pode ter evolução muito rápida para a forma grave da doença. Quando existe o aumento de número e casos, como está acontecendo agora, configurando um surto, há indicação de vacinação para pessoas da região. Mas quem puder mesmo de outras regiões, vale a pena se vacinar e se proteger contra a doença”, afirma Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo ela, depois de tomada uma dose, é recomendado que a pessoa repita a aplicação daqui a quatro anos. “Embora não faça parte do calendário adulto de vacinação, por ser uma doença que afeta mais crianças e adolescentes, é importante que a aplicação seja repetida daqui a quatro anos em adultos. No entanto, doses posteriores em adultos, se não forem feitas na rede pública de saúde, devem ser feitas na rede privada, assim como públicos de outras idades não cobertas pela rede pública”, disse. Veja mais informações sobre vacinas abaixo.

Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, atualmente, a imunização está sendo feita na área de abrangência de quatro Unidades Básicas de Saúde (UBSs) locais: UBS Formosa II, Assistência Médica Ambulatorial (AMA)/UBS Integrada Guarani, UBS Jardim Iva e UBS Comendador José Gonzalez.

Também está sendo realizada busca ativa de pessoas entre 3 meses e 64 anos de idade para receberem a vacina, entre moradores e trabalhadores da Vila Formosa e Aricanduva. Já foram imunizadas 7,4 mil pessoas na região nas últimas duas semanas, de acordo com a pasta.

“Para receberem a vacina, pessoas de quaisquer idades que residem na região devem apresentar comprovante de endereço e, no caso de quem trabalha nas proximidades, basta apresentar comprovante trabalhista, como crachá, holerite, carteira de trabalho atualizada ou declaração com nome da empresa, endereço e carimbo”, informou em nota.

Logo após as notificações de casos, também foram adotadas ações de prevenção e controle pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), como o fornecimento de medicamentos preventivos para pessoas consideradas próximas (parentes ou quem mora na mesma casa).

A vacinação é a forma mais efetiva de proteger contra a meningite. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Outros dois surtos registrados neste ano na capital paulista

Neste ano, outros dois surtos de meningite meningocócica foram registrados na capital paulista. O primeiro aconteceu entre os meses de janeiro e março, no Jardim São Luís, na zona leste da cidade, onde ocorreram três casos e duas pessoas morreram. No segundo, entre os meses de maio e junho, na região do Pari, zona central, foram dois casos, com um óbito.

A SMS esclarece que se considera surto da doença meningocócica quando há ocorrência de três ou mais casos do mesmo tipo em um período de 90 dias na mesma localidade.

Conforme a pasta, na região do Pari, embora tenham ocorrido menos de três casos, foi classificado como surto em razão do tamanho da população local.

De janeiro até segunda-feira, 26, foram notificados 56 casos de doença meningocócica em toda a capital. Durante o mesmo período de 2019 (janeiro a setembro – ano anterior à pandemia) foram registrados 158 casos da doença, queda de 64,5%. Foram nove mortes, ao todo, neste ano até o momento, ante 28 registradas em 2019.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirma que realiza monitoramento epidemiológico contínuo junto aos 17 Departamentos Regionais de Saúde (DRS). Neste ano, foram registrados 2.841 casos de meningite em todo o Estado.

“A vacinação é fundamental para proteger a população contra diversas doenças. A atualização da caderneta e a adesão às campanhas auxiliam no aumento das coberturas vacinais e, consequentemente, aumentam a proteção”, acrescentou a nota.

O Ministério da Saúde informa que foram registrados em 2022, até o momento, 5.821 casos e 702 óbitos por meningite por diversas etiologias no Brasil.

A meningite é uma doença que mata e pode deixar graves sequelas, principalmente a bacteriana, que tem letalidadade em torno de 20% no País. A vacinação é a forma mais eficiente para proteger contra a doença.

A meningite meningogócica é transmitida por um grupo de bactérias chamadas meningococos, e provoca inflamação na meninge, membrana que envolve o cérebro e a medula espinhal. As meningites podem ser causadas por infecções de vários microrganismos, como fungos, vírus e bactérias. A transmissão se dá por meio das vias respiratórias, ou seja, pelo ar. Pode deixar sequelas neurológicas, auditivas e dores crônicas.

No Brasil, o mais comum é o tipo C (que envolve 80% dos casos), seguido do tipo B. Os tipos A, W e Y são menos frequentes. As vacinas são consideradas a melhor forma de prevenção contra a meningite e são específicas para cada sorogrupo.

 

Como é transmitida?

O tipo bacteriano é transmitido de pessoa para pessoa por gotículas e secreções do nariz e da garganta, mas também há bactérias passadas pelos alimentos. As virais dependem do tipo de vírus. Há casos de contaminação por contato com pessoas e objetos infectados e até por picada de mosquitos, de acordo com o Ministério da Saúde.

“É uma doença que pode ser grave. A transmissão acontece de pessoa para pessoa pelo contato respiratório. Então, o uso de máscara facial protege contra a transmissão. É uma doença para qual a vacina está disponível par crianças e adolescentes, por isso é importante atualizar a carteira de vacinação”, explica a infectologista da Unicamp.

Quais os sintomas da doença?

Costuma começar com febre, dor no corpo, dor de cabeça e um sinal que preocupa muito é o aparecimento de manchas na pele. Isso indica a necessidade de atendimento médico de urgência para coleta dos exames e início da administração de antibióticos.

Além disso, no início do quadro clínico, a meningite pode não ser de diagnóstico fácil. Os sintomas variam conforme a idade do doente. Veja a seguir:

Sintomas e sinais mais frequentes no bebê:

Febre, mãos e pés frios (dificuldade de circulação)

Baixa atividade (criança “largadinha”) ou irritabilidade, choro intenso e inquietação

Rigidez de nuca (dificuldade para flexionar a cabeça)

Recusa alimentar

Gemidos e sonolência, com dificuldade para despertar

Manchas vermelhas na pele

Convulsões

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Fontanela abaulada (moleira abaulada)

Vômito e diarreia

Sintomas na criança maior, no adolescente e no adulto:

Febre alta

Dor de cabeça

Vômitos, muitas vezes em jato

Rigidez de nuca (dificuldade para flexionar a cabeça)

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Sonolência

Convulsões

Dor nas articulações

Aversão à luz

Qual a meningite identificada no atual surto da cidade de São Paulo?

Segundo a Prefeitura de São Paulo, todos os casos são de meningite meningocócica do mesmo tipo C.

Quais as diferenças nos tipos de transmissão, de acordo com o Ministério da Saúde?

Entre as ocorrências, 99% são virais ou bacterianas. “A meningite causada por bactérias, como a meningite pneumocócica, que tem maior incidência entre crianças pequenas, e a meningite meningocócica, que pode afetar todas as faixas etárias, podem se desenvolver de forma mais grave, causar infecção generalizada, levando o paciente a óbito rapidamente. Já a viral evolui de forma mais leve, sendo a cura espontânea e sem sequelas”, afirma Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Há ainda meningite causada por fungos e parasitas, mas é algo muito mais difícil de ocorrer.

Geralmente, as bactérias que causam meningite bacteriana se espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Já outras bactérias podem se espalhar por meio dos alimentos, como é o caso da Listeria monocytogenes e da Escherichia coli.

Meningite viral

As meningites virais podem ser transmitidas de diversas maneiras a depender do vírus causador da doença. No caso dos Enterovírus, a contaminação é fecal-oral, e os vírus podem ser adquiridos por contato próximo (tocar ou apertar as mãos) com uma pessoa infectada, tocar em objetos ou superfícies que contenham o vírus e depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos ou ao trocar fraldas de uma pessoa infectada, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus. Já os arbovírus são transmitidos por meio de picada de mosquitos contaminados.

Meningite causada por fungos

Geralmente os fungos são adquiridos por meio da inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos) que entram nos pulmões e podem chegar até as meninges. Alguns fungos encontram-se em solos ou ambientes contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos. Já um outro fungo, chamado Candida, que também pode causar meningite, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar.

Meningite causada por parasitas

Os parasitas que causam meningite não são transmitidos de uma pessoa para outra, e normalmente infectam animais e não pessoas. As pessoas são infectadas pela ingestão de produtos ou alimentos contaminados que tenham a forma ou a fase infecciosa do parasita.

Quais vacinas protegem contra a meningite?

Desde julho, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) recomenda a ampliação dos públicos aptos a receber a vacina meningocócica C (Conjugada), que envolve trabalhadores da saúde e crianças até 10 anos. A extensão do público-alvo vai até fevereiro de 2023.

A meningocócica C faz parte do Calendário Nacional de Vacinação, sendo indicadas duas doses, aos 3 e aos 5 meses de idade, e um reforço preferencialmente aos 12 meses de idade. Segundo a nova orientação do Ministério da Saúde, se a criança de até 10 anos não tiver se vacinado, deve tomar uma dose da meningocócica C. Já os trabalhadores de saúde, mesmo com o esquema vacinal completo, podem se vacinar com mais uma dose.

Embora a faixa etária com maior risco de adoecimento seja das crianças menores de um ano de idade, adolescentes e adultos jovens são os principais responsáveis pela manutenção da circulação da doença. Desta forma, o Ministério da Saúde está disponibilizando temporariamente a vacina meningocócica ACWY para a faixa etária não vacinada entre 11 e 14 anos.

O imunizante está disponível no Calendário Nacional de Vacinação para adolescentes entre 11 e 12 anos, mas até junho de 2023, quem tem entre 13 e 14 anos também poderá receber a dose. Segundo a pasta, a ampliação tem como objetivo reduzir o número de portadores da bactéria em nasofaringe.

Em crianças menores, a meningocócica ACWY não está disponível na rede pública. Na rede privada, a vacina que inclui o tipo C é a conjugada quadrivalente ACWY, ao custo médio de R$ 360 por aplicação. Geralmente, é administrada em quatro doses até um ano de idade, dependendo da marca da fabricante. Também é recomendado um reforço entre os 5 e 6 anos e outra dose aos 11 anos. Pode ser aplicada em adultos.

Embora esteja atrás somente do tipo C em número de casos, em média 20%, a meningocócica B somente está disponível na rede particular. Ela custa, em média, R$ 600 e é administrada em três doses entre 2 meses e um ano e meio. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também indica a imunização para grupos de alto risco, como portadores de HIV.

A pneumocócica conjugada 10-valente (VPC10) faz parte desde 2010 do calendário de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). Protege contra pneumonia e também meningite. São dadas duas doses de VPC10 com intervalo mínimo de 2 meses no primeiro ano de vida da criança e um reforço com um ano de idade.

A vacina pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13), que é mais abrangente, protegendo contra 13 sorotipos de pneumococos, está disponível na rede pública somente para indivíduos com idade maior ou igual cinco anos de idade, incluindo adultos nas seguintes condições: HIV/Aids, paciente oncológico, transplantados de órgãos sólidos e transplantados de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea).

Na rede privada, a pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13), geralmente, é administrada em quatro doses até um ano e três meses de idade, dependendo da marca da fabricante. Ela custa em torno de R$ 280.

A vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib) está disponível na rede pública e particular. A proteção contra a meningite provocada pela bactéria Haemophilus influenzae tipo b pode ser aplicada individualmente, mas geralmente é administrada pela vacina hexavalente, que também protege contra difteria, tétano, coqueluche e hepatite B e poliomielite, ou pela pentavalente, que protege contra as mesmas doenças, exceto contra a poliomielite.

No SUS, é disponibilizada em três doses: aos 2, 4 e 6 meses de idade. Na rede particular, quatro doses são aplicadas entre dois meses e um ano e meio de idade. Pessoas com doenças que comprometem a imunidade ou a função do baço (órgão que tem papel fundamental na proteção contra essa bactéria), ou aquelas que tenham retirado cirurgicamente esse órgão, devem tomar a vacina. A vacina individual custa em torno de R$ 150. O preço da pentavalente e hexavalente fica em torno de R$ 250 cada uma.

A vacina pneumocócica 23-valente (Polissacarídica) está disponível na rede pública para toda a população indígena acima de 5 anos de idade, sem comprovação da vacina pneumocócica conjugada 10-valente (VPC10). Para a população a partir de 60 de idade (institucionalizada), a revacinação é indicada uma única vez, devendo ser realizada cinco anos após a dose inicial.

Na rede privada, esta vacina, no entanto, é indicada para crianças acima de 2 anos, adolescentes e adultos que tenham algum problema de saúde que aumenta o risco para doença pneumocócica (diabetes, doenças cardíacas e respiratórias graves, pessoa sem o baço ou com o funcionamento comprometido do órgão, por exemplo) e para pessoas a partir de 60 anos como rotina. Não é recomendada como aplicação de rotina em crianças, adolescentes e adultos saudáveis. O preço dela está em torno de R$ 200.

Além das vacinas descritas acima, ao nascer toda a criança toma uma dose única da vacina BCG, que protege contra a meningite turberculosa. A imunização impede que o bacilo de Koch, bactéria responsável pela tuberculose, instale-se nas meninges. É dada na rede pública e também na maternidade gratuitamente. Em momentos em que está em falta e é recomendada a aplicação ao sair do hospital, pode ser dada na rede pública ou na particular. O custo na rede privada é em torno de R$ 130.

Como está a vacinação na capital paulista?

Como parte do calendário vacinal de rotina na rede pública de saúde, o imunizante contra a meningite meningocócica C deve ser aplicado em bebês aos 3, 5 e 12 meses. O de meningite meningocócica ACWY atualmente é aplicado na faixa etária de 11 a 14 anos de idade, pois a vacinação foi ampliada no último dia 19 no município também para adolescentes de 13 e 14 anos, até junho de 2023, conforme definição do PNI.

“É fundamental que pais e responsáveis mantenham a vacinação de seus filhos em dia para protegê-los das chamadas doenças imunopreveníveis, como meningite meningocócica, poliomielite, difteria, coqueluche, sarampo, caxumba, entre outras. Vacinas salvam vidas e isso ficou ainda mais evidente na pandemia de covid-19″, afirmou o secretário municipal da Saúde, Luiz Carlos Zamarco.