Macrófagos do baço e do fígado se comunicam para regular a intensidade da resposta imune frente a produtos de patógenos. Teoria pode servir de base para novos tratamentos contra sepse e doenças infecciosas em geral
Publicado: 25/11/2021 Atualizado: 26/11/2021 as 16:32
Por: Da redação
Arte: Simone Gomes
Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP descobriram que macrófagos do baço e do fígado se comunicam e atuam na regulação da inflamação sistêmica – resposta natural do sistema imune a infecções mais graves. A descoberta abre novas perspectivas para entender melhor a importância da comunicação entre órgãos em infecções graves ou generalizadas — o que pode servir como base para estudar novos tratamentos para a condição. A pesquisa foi publicada na revista Science Signaling.
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Macrófagos são células do sistema imune responsáveis por fiscalizar alterações nos tecidos, induzindo à produção de proteínas, chamadas de citocinas, que “avisam” o organismo que há um agente infeccioso que precisa ser eliminado. Até então, acreditava-se que os macrófagos do baço eram os maiores produtores de TNF – a primeira citocina pró-inflamatória liberada durante uma infecção. No entanto, segundo o pesquisador Alexandre Steiner, coordenador do estudo, esse papel parece ser dos macrófagos do fígado, que, por sua vez, recebem um estímulo do baço.
“Em modelos animais de inflamação sistêmica, nós verificamos que a produção de TNF no fígado foi aumentada pelo leucotrieno B4 (LTB4) liberado pelo baço. O LTB4 é um mediador derivado do metabolismo de lipídios que participa da regulação da inflamação”, explica. Segundo ele, muitos estudos mostravam que quando o baço é retirado, os níveis de TNF ficam reduzidos. “Isso nos surpreendeu, pois agora acreditamos que o TNF diminui devido à falta do estímulo do baço no fígado, e não porque o baço é o principal produtor. O baço deixa de ser visto de forma isolada”, completa.
A regulação da inflamação sistêmica, feita pela comunicação entre baço e fígado, é importante para que haja um equilíbrio na resposta imune. Indivíduos que produzem pouco TNF são imunossuprimidos (apresentam uma resposta imune menos eficaz), enquanto o excesso de TNF pode resultar em uma inflamação sistêmica exacerbada, causando danos ao organismo. “Falhas nesse mecanismo de regulação podem ajudar a explicar a sepse, infecção generalizada, que é a principal causa de morte nas UTIs, chegando a 65% no Brasil.”
Perspectivas
De acordo com Steiner, os tratamentos experimentais da sepse foram por muito tempo baseados em bloquear a resposta imune como forma de frear a inflamação. “Hoje sabemos que essa estratégia não é eficiente. Foram mais de 100 estudos clínicos tentando bloquear diferentes pontos da resposta imune e nenhum deles teve um efeito significativo na redução da mortalidade. Então o que precisamos fazer nesse caso é aprender a regular o sistema imune de forma mais fina, em vez de bloqueá-lo.”
O pesquisador acredita que, através do entendimento maior das interações entre órgãos, futuramente será possível desenvolver estratégias para uma medicina personalizada – isto é, formas de ativar mais o sistema imune ou reduzir a sua atividade, dependendo da necessidade de cada paciente. “A ativação do sistema imune poderia ser feita por meio da administração de leucotrieno B4 ou de outro composto similar, por exemplo. Ao mesmo tempo, para diminuir essa atividade, podemos aplicar um antagonista de leucotrieno B4 – que não impede a produção de TNF e o combate à infecção, apenas reduz.”
A linha de pesquisa de Alexandre Steiner visa a avançar o conhecimento acerca das interações multilaterais entre o sistema imunológico e os vários sistemas fisiológicos em casos graves de infecções (sepse) e inflamação sistêmica – Foto: ICB
O estudo foi feito em modelos de inflamação sistêmica induzida por lipopolissacarídeos (LPS), que são fragmentos de bactérias. Agora o grupo pretende analisar esse mecanismo em doenças infecciosas propriamente ditas e entender em quais circunstâncias há uma maior ou menor ativação do eixo baço-fígado. “Além disso, buscamos compreender qual é a influência da obesidade, do envelhecimento e de outras condições nesse contexto”, conclui Steiner.
Da Acadêmica Agência de Comunicação
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