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31/05/2021
Meus queridos, meus velhos, meus amigos!

Eu tenho (tive) sete homens na face da terra, daqueles com "H" maiúsculo mesmo, que chamo de AMIGOS. Cada um exerceu ou ainda exerce um papel importante em minha vida, passada e presente.  O primeiro, assim que soube que eu, com 38 anos, três filhos adolescentes, estava separada de meu marido passou a ser meu guardião. Ele tinha morado no meu prédio e por algumas vezes percebeu os problemas que eu estava vivendo, chegando inclusive a interferir uma certa vez. Virou um verdadeiro dragão amigo, pronto a lançar suas labaredas contra qualquer desavisado que tentasse chegar perto de mim e de meus filhos.

Passava todos os dias na minha casa, mesmo que fosse apenas para dizer um “oi” pelo interfone e saber de todos estavam bem.  Certa vez trouxe um amigo que tinha problemas na coluna para eu cuidar e foi nesse dia que eu soube que na verdade eles eram investigadores de alguma área restrita, pela quantidade de armas que o tal senhor tirou das vestimentas. Este também virou um protetor pois ficou eternamente grato pelo alivio de suas dores. O preço que cobrei foi sua amizade, o que segundo ele era muito caro, mas ele pagaria. E pagou mesmo.Foram anos de proteção de ambos, tanto que as vezes me irritava, só encerrando no dia que conheceram o homem que eu escolhi para me casar de novo, escolha que eles aprovaram totalmente, embora deixando claro que se me ferisse, eles voltariam e não seria para brincar! .

Quando completei 40 anos, meu primeiro dragão apareceu em minha porta as sete horas da manhã, pois queria ser o primeiro a me cumprimentar e não bastando isso, mais tarde reuniu um bando de policiais para cantar parabéns por telefone. Nunca esqueci esse carinho. Infelizmente durante um período de 3 anos que estive fora da cidade, meu primeiro dragão teve um AVC e faleceu. Nem tive como me despedir do meu grande amigo. Tempos depois soube que ele segredou para um conhecido em comum, que me amou em silêncio, pois percebeu que eu o tinha apenas como um irmão. Homem estranho... jamais imaginei!.

O segundo dragão ainda está vivo, velhinho aposentado, mas ainda um dragão a quem sou muito grata pela amizade. Esse que conto agora, quando percebeu que eu tinha dificuldades para lidar com papéis, documentos, licenciamento de carros etc, passou a ser minha agenda, lembrando- me das datas e ensinando o que eu deveria fazer e até vendendo meus carros, quando era o momento. Um espanhol bravo, daqueles de bigodes grandes, mas com muita sensibilidade para música, textos e claro, um bom vinho. Muito vaidoso, ainda é meu cliente.Eu o chamo de “meu espanhol favorito". Infelizmente pouco antes de escrever essa crônica soube que ele estava sendo operado de emergência por causa de um câncer ...Ah meu amigo, estou vibrando por você, ainda vamos rir muito juntos nas nossas sessões de estética e ainda vou receber suas mensagens de pura beleza musical e suas fotos da sua Galícia querida.

Agora vou falar do meu amigo "Nenê", dono de uma oficina  que na época, ficava em frente de minha casa, era ele quem acudia cada vez que meu velho carro resolvia deixar-me na mão.Vinha pessoalmente na garagem para faze-lo andar,  e se não fosse possível, emprestava o próprio carro, para que eu pudesse levar meus filhos à escola e era assim que as vezes, eu ficava dias com o carro dele para delírio de meus filhos que adoravam aparecer na porta mostrando um novo modelo.Creio que ele não faz ideia do quanto me ajudou...tornou se grande amigo de meu filho mais novo, que sentia muito a ausência do pai na época. Dessa amizade nasceu uma grande admiração entre eles, que perdura até os dias atuais.Tanto carinho existe, que ouvi recentemente de meu filho, hoje com 42 anos, a seguinte frase: "se existir mesmo essa coisa de vidas passadas, tenho certeza de que Nenê foi meu pai". Obrigada Nenê, obrigada pelo carinho, pelas mil parcelas que você dividia minhas contas com a oficina, por tantos consertos que você não cobrou e pela nossa amizade verdadeira que nos une até hoje.  "Meu pretinho básico", foi sempre assim que eu o chamei! Nós nos conhecemos na primeira vez que aceitei um convite para sair a noite depois da minha separação. Ele também era recém separado, atuava numa das minhas áreas de trabalho e somando sua simpatia, tivemos conversa pelo resto da noite. Ele passou a ser meu acompanhante nos happy hours das segundas feiras. Professor de artes marciais, me tranquilizava estar em sua companhia.Estar com ele era riso certo, sempre se aproveitou do fato de ser negro para falar besteiras, fazer piadas justificando-se da seguinte forma, "sou preto, eu posso!"Aliás, como trabalhávamos de roupa branca, sempre que saíamos juntos após o trabalho, ele costumava dizer: "um preto e uma loira, vestidos de branco, vão dizer que somos um casal de "pais de santo". Paulo sempre disse que sua missão na minha vida, era arrumar-me um bom marido, o que me deixava profundamente irritada, pois na época, eu tinha horror dessa ideia.Foram várias as tentativas, mas todas foram frustradas, eu dizia a ele que se um dia eu tivesse outro homem, ele iria sofrer nas minhas mãos. Certa vez, combinei que iria buscá-lo na academia onde ele estava dando aula de Ninjutsu. Chegando lá, tive a oportunidade de assistir parte do treino e um certo moreno alto e sensual, chamou minha atenção, talvez pelo fato de ter sido o único que não parou o treino para olhar para mim... bem antipático. Quando perguntei ao Paulo quem era a 'figura', ele foi logo dizendo: "nem pense nisso, ele é muito boa gente, muito novo e não vou deixar você machucá-lo".Mas foi ele que eu quis, e quando tivemos a oportunidade de nos reencontrarmos, descobrimos que apesar da diferença de idade, dele ser roqueiro e eu do samba, ser tímido e eu audaciosa, ser calado e eu falante, tipo "Eduardo e Monica", ainda tínhamos coisas em comum. E foi assim que apesar do medo de Paulo, acabei me casando com ele. Estamos juntos à 27 anos numa parceria simbiótica, ele me entende, me aceita, respeita meus sentimentos, tolera minhas crises de geminiana e eu aceito seu jeito "ogro" de ser. Hoje, ele é meu melhor amigo.Obrigada Paulo, você cumpriu sua missão, me arrumou um marido chamado Hélio, mas ficou com tanta inveja que acabou casando com uma mulher chamada Hélia.Nesse momento, Paulo também está lutando contra um câncer, e nós, seus amigos eternos, estaremos juntos para o que der e vier. Amamos você.

E por último, mas não menos importante, vou falar do meu "amigo chefe", aquele que conheci com 18 anos e ele 21, que me deu o primeiro trabalho, ensinou - me uma profissão, foi amigo, foi meu conselheiro, fez até  papel até de pai, tentando evitar meu primeiro casamento que fiz para poder sair de casa, onde não podia mais permanecer e que deu errado com certeza. Ajudou me a entender o que seria a vida de uma mulher casada, e ainda percebendo minha inexperiência sexual, tentou de uma maneira sutil orientar-me, fazendo o papel que minha mãe deveria ter feito.  Ele percebeu tantas coisas... pena que não viu o mais importante, eu estava apaixonada por ele e bastaria um sinal nesse sentido e não teria me casado. Mas assim é a vida, cada um com seus karmas e darmas...Estive trabalhando com ele até às vésperas de meu fatídico primeiro casamento, nossa amizade continuou por mais algum tempo, até que a vida nos separou por 40 anos, quando graças à tecnologia, ele me achou ( acho que já está arrependido disso rsrs). Foi num momento difícil de minha vida que ele apareceu. Eu estava longe de minha cidade, sentia me sozinha sem amigos, passava por uma crise de depressão. Mas como Deus envia anjos para nos acudir, enviou-me ele, meu antigo chefe, que mais uma vez ajudou-me a sair do buraco, ensinando-me a escrever, desabafar e a contar histórias.

Sim ele agora é novamente meu chefe. Está velho, chato, implicante, mas sua voz continua a mesma rsrs! Mesmo assim é com ele que desabafo quando a vida pesa demais, e quase sempre ele me responde: “escreva”! Continua sendo aquele que posso falar qualquer tipo de assunto e é com ele que meu marido divide o peso de aguentar minhas chatices de mulher ... que só acontece as vezes rsrs ...Sou muito grata a ele também, é muito reconfortante saber que podemos contar com amizades sinceras, com pessoas que nos falam o que precisamos ouvir, embora muitas vezes não é exatamente aquilo que queríamos. Brigamos muitas vezes, melhor, eu brigo, porque ele me deixa teclando sozinha. Mas não consigo ficar “de mal” desse rabugento que eu gosto tanto. E assim termino essa crônica que fiz para homenagear todos eles, os homens de verdade, que a vida colocou em meu caminho. Obrigada meus queridos e velhos amigos. 💝 Selma.