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11/12/2020
A Viagem (com a sogra) - Última parte

Aeroporto

Entramos no avião! Crianças histéricas, já cansadas das férias. O avião não era nenhum Boeing, aliás, os voos domésticos nos estados unidos não são nenhuma glória. Era um modelo para 180 pessoas, bem estreito, pouco confortável e o voo seria de 6 horas. Para complicar, o ar condicionado estava péssimo, sentíamos calor e desconforto. Minha filha sentou-se com os filhos em uma fileira, meu genro, comigo. Sempre me fazendo rir, foi logo dizendo: “Rumo ao Havaí e aguardando as próximas aventuras da minha sogra.”

O voo transcorria na normalidade apesar do calor, até o momento que a comissária de bordo veio servir o lanche, e ao entregar-me o café, derrubou-o todo em cima de mim. Senti o liquido quente entrar pelo meu decote descendo até as partes baixas. Naturalmente queimando tudo por onde passava.

Meu genro, depois da surpresa, teve uma crise de risos e foi logo dizendo: “Começou...”

Fiquei com aquele cheiro horrível de café e na medida que esfriava, o odor aumentava. Mesmo tendo ido ao banheiro para lavar o que fosse possível, o cheiro só piorou, motivo pelo qual toda a família ficou rindo o resto da viagem.

Ao chegar em Honolulu, fomos recebidos pela família havaiana com as honras e tradições que lhes eram características. Recebemos colares de sementes coloridas, e coube a mim um modelo todo preto com flores vermelhas e meu genro me olhando de soslaio, disse: “Até aqui eles sabem que você é bruxa, preto e vermelho, suas cores.”

Para variar, rindo da sogra.

Fomos levados para a casa que ele tinha alugado e na divisão dos quartos, fui enviada para o sótão... quarto de bruxa! Mas na verdade, eles me deram o melhor cômodo, pois o teto era de vidro de onde eu podia ver um céu magnificamente estrelado e ouvir o barulho das ondas do mar, que ficava logo abaixo da casa. Foi assim minha primeira noite no Havaí.

Na manhã seguinte, todos levantaram bem humorados. Ansiosos para conhecer de fato onde estávamos.

A casa tinha vitrais por todos os lados que formavam desenhos coloridos nas paredes e no chão com a luz do sol. Tinha um grande jardim a uns três metros do nível do mar, de onde vimos uns dos mais belos pores do sol de nossas vidas. A praia era particular, e para acessa-la descíamos por uma escada encravada nas pedras em forma de túnel, que passou a ser o lugar preferido das crianças, onde brincavam de caverna.

Diante de tanta beleza eu ficaria ali mesmo. Mas meu genro tinha planos e saímos logo após o café. Nos levou para conhecer o porto onde haviam restaurantes com comidas típicas. Quando pensamos em porto a visão que nos vêm é de águas turvas, escuras, mas lá não era assim, podíamos ver peixinhos coloridos nadando tranquilamente como num aquário maravilhoso em uma sala, mas ali, eles eram livres e foi na mãe natureza que os pintou.

O clima era maravilhoso, lá a temperatura não ultrapassa 33°. Como diz meu genro, Havaí = paraíso.

A cada dia visitávamos uma parte da ilha. Fizemos a volta toda.

Assistimos um campeonato mundial de surf e pudemos ver de perto o tamanho descomunal daquelas ondas.

Uma curiosidade sobre o Havaí é que a maioria das praias não servem para banhos, pois tem pedras e enormes corais em toda a orla, resultado das erupções dos vulcões que por lá existem. Sim, vimos vulcões.

Para mergulhar numa praia meu genro teve que pagar por pessoa e por hora. Ficamos por duas horas, porque segundo ele, o preço era exorbitante. E mais um detalhe, antes de entrarmos na praia tivemos que assistir um vídeo de 30 minutos onde foi explicado como a praia se formou e também as regras que tínhamos que respeitar para estar ali: Não comer, não jogar nenhum tipo de lixo, não deixar chinelos em qualquer lugar, não retirar nada da praia.

Na verdade, tinham mais fiscais na praia que turistas. Mesmo assim foi ótimo, mergulhamos, nadamos com os peixinhos que já acostumados com o ser humano se aproximavam de nós.

Em outro dia fomos a um museu a céu aberto, onde aprendemos os costumes e hábitos dos nativos das ilhas vizinhas do Havaí. São muitas e existe até ali perto um povo que ainda não teve contato com nossa civilização. Aprendemos também alguns passos da famosa dança “Hula” que aliás, ao contrário do que pensávamos, não é havaiana, mas de uma ilha vizinha.

Outro passeio interessante foi numa criação de ostras, onde havia a “pesca da pérola”. Por um custo alto, tínhamos o direito de escolher uma ostra no viveiro e se tivéssemos sorte, encontraríamos uma pérola. Eu tive a sorte, encontrei uma pérola rosada. A cada encontro desses, faziam uma comemoração com sinos e sirenes. Mas meu genro: “Isso não é sorte, você é bruxa, sabia qual ostra escolher!”

O que mais me tocou foi quando fomos em “Pearl Harbor”. Ali existe um verdadeiro monumento para aqueles jovens de idade entre 18 e 25 anos, que foram brutalmente assassinados em um ato covarde de guerra. Um silencio que chegava a ser ensurdecedor, uma sensação angustiante tomou conta de todos nós. Ali estão todos os nomes dos jovens mortos. Os que estavam dentro dos navios, jamais foram sepultados. Pode-se ver nas profundezas límpidas daquele mar estranhas bolhas de ar que sobem o tempo todo para a superfície.

Vimos também uma cena ímpar: um senhor japonês ajoelhou-se diante de um monumento e chorou como se pedisse perdão.

Saímos de lá sem dizer uma palavra. Aquele dia estava acabado para todos.

Chegou finalmente o dia do casamento, motivo pelo qual fomos ao Havaí. Foi maravilhoso participar de uma festa tão típica onde todos vestiam roupas coloridas, as mulheres com flores naturais nos cabelos e os calçados da maioria dos convidados eram chinelos parecidos com as nossas havaianas. Todas as damas de honra usavam colares de pérolas legítimas, presenteados pela noiva. O altar foi montado em um salão de frente para o mar. A noiva entrou ao som de tambores tocados magistralmente pelos nativos. Todos os convidados usavam colares havaianos e lá estava eu com meu colar preto e vermelho, fascinada pela alegria, poesia e magia no ar. Se não me segurassem eu sairia dançando na frente dos tambores.

Numa manhã enquanto os outros dormiam eu e meu genro sentamos na beira da praia. Ele, absorto em seus pensamentos. Eu, seguindo um instinto, peguei um pedaço de coral dos muitos soltos pela praia e comecei a esfregar em uma inflamação que tinha no pé (conhecida como olho de peixe) que estava me incomodando há muito tempo. Conto isso para dizer que dias depois, o tal olho de peixe saiu e meu pé ficou curado. Fica a dica: quem tiver olho de peixe, vai até o Havaí passa um coral virgem e ficará bem.

Quando partimos do Havaí eu percebi que estava doente. O tempo não estava firme, no meio da viagem começou uma tempestade terrível. O avião caia em vácuos de ar, sacudia tudo, caiam coisas dos carrinhos e a situação ficou mais feia ainda quando caíram as máscaras. As pessoas gritavam de pavor!! Eu procurei saber onde estávamos e entendi que se acontecesse o pior cairíamos no mar. Nos demos as mãos e rezamos enquanto meu netinho achava que estava num escorregador e gritava: “De novo! De novo!! iupiiiiii!!!!!”

Só quando o avião saiu da tempestade foi que percebi que estava com uma das mãos enterrada na cabeça careca de um senhor que estava sentado na poltrona da frente. Quando meu genro e filha viram isso, o homem estava gritando comigo e eu sem entender o que estava acontecendo continuava enterrando as unhas na cabeça dele, pensando ser o encosto da poltrona onde me segurei firmemente durante a tempestade. Eles fingiram que não me conheciam. Acho que naquela careca ainda existem as marcas das minhas unhas.

Chegamos sãos e salvos em Los Angeles, com a graça de Deus. Eu me sentia cada vez mais doente tendo momentos de febre e mesmo sem entender o que estava acontecendo, passei a tomar antibióticos que tinha levado, mas não querendo preocupa-los, não comentei o fato. Afinal ainda iriamos para a Disney.

E fomos. Dessa vez com a mãe do meu genro junto, o que muito me ajudou pois fizemos companhia uma à outra e eu pude contar a ela que me sentia doente.

Este era o passeio mais esperado das crianças, eles se divertiram muito.

Dias depois embarcamos para o Brasil, trazendo conosco lembranças indescritíveis dos passeios e das aventuras em família.

Sou e serei eternamente grata a minha filha e ao meu genro por tudo o que me proporcionaram nesta e em outras viagens que tive o prazer de acompanha-los, não só no exterior como no Brasil.

Amei o México. E Amo vocês Daniele e Denis. Aguardo novas aventuras pós pandemia.

Obs.: o casal em questão, hoje mora em Houston, Texas, para onde irei viver novas experiencias muito em breve se Deus permitir, afinal eu sobrevivi ao COVID e à pneumonia que trouxe da estação de esqui... lembram da pinha?

Fim.

Selma Esteticista.