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14/10/2020
Minhas andanças por ai

No domingo de sol quente da tarde em que a cidadezinha parecia deserta, por longo tempo estive conversando com duas amigas. Conversa vai e conversa vem, uma delas disse pra outra que era estranho eu não gostar de futebol, de novelas e não frequentar religião. Expliquei que quando eu tinha dez anos de idade eu era corintiano. Mas me perguntei o que me interessava se a bola bateu na trave, se foi gol ou se não foi, se houve pênalti ou não, se o juiz roubou e etc. Refleti então que nada disso tinha alguma coisa a ver com a minha vida. A partir de então nunca mais me interessei por futebol, nunca mais assisti o chamado futebol profissional, mas, até aos ciquenta anos de idade eu joguei futebol de salão.

Quanto as novela eu disse que elas só irritam e eu não as suporto. E não consigo entender como as pessoas têm paciência de seguir seus capítulos numa determinada hora do dia. Aliás, nem televisão assisto mais e faz tempo. Quanto à religião desde muito jovem eu questionava se deveria frequentá-la. Na faze adulta as reflexões sobre as contradições que eu acreditava perceber me tornaram livre do compromisso religioso. Citei para as amigas que, na segunda guerra mundial, um dos fatos mais lamentáveis foi o extermínio de seis milhões de judeus e de tantos outros nos campos de concentração dos alemães. Muitas vidas de crianças também foram ceifadas sem piedade. Presos lá, os pais só tinham como socorro, “salvação ou proteção” apelar para as divindades. Quantos deles não imploraram em diárias orações para que eles e seus filhos se salvassem daquele martírio?

Resumindo, não houve nenhuma atividade celeste contra tais atrocidades humanas e nem proteção para as vítimas. Isso pra mim já foi suficiente para pensar que nas maldades ou bondades terrenas os céus não interferem. Daí a Cesar o que é de Cesar e... Entretanto, qual foi a minha surpresa? As duas amigas mais velhas do que eu nunca ouviram falar que houve uma segunda guerra mundial que matou milhões de pessoas. Incrível! Será que não se lembravam da época do “pão preto do tempo da guerra?” Não havia como o Brasil importar trigo refinado, o branquinho e nem gasolina. Mas insisti vocês já devem ter visto na TV alguma reportagem sobre a grande guerra, filmes sobre os campos de concentração e etc. e elas responderam que não.

“Ligando uma coisa com outra” no dia que estive em Jundiaí para visitar uma prima, há uns três ou quatro anos atrás, na volta e vindo pela hora do último trem ele só chegou até Caieiras, pois, houve um defeito na rede elétrica. Já passava da meia-noite quando consegui ser “socorrido” por um taxi que me trouxe até Perus donde moro. Na conversa com o motorista durante o trajeto não me lembro como surgiu o assunto de guerra. Citei então algo ocorrido na segunda guerra mundial e o rapaz, evangélico, que se dizia morador de um bairro de Caieiras de nome Laranjeiras nunca soube de tal guerra.

Falei-lhe que era impossível ele não saber, pois, tal fato já tinha sido muito divulgado pela mídia, pelo cinema e etc. Citei-lhe alguns fatos que existiram durante a guerra e até da participação dos brasileiros, mas, ele de nada se lembrou e persistiu no nunca ter sabido que existiu uma guerra de tamanha proporção. Como aquelas amigas não tinham sabido da guerra, então, devo acreditar que o motorista do taxi, de fato, também não sabia. Quantas pessoas mais, inclusive aquelas que nasceram no tempo da grande guerra aqui neste país nunca souberam que ela existiu? Às vezes a simplicidade de tais pessoas surpreende. Sendo assim elas vivem suas vidas simples sem se decepcionarem ou se preocuparem muito com o mal que possa advir de indivíduos perversos que atormentam a humanidade.

Altino Olimpio