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05/07/2020
Carlos Zéfiro

Autor erótico , desenhista , funcionário público atuante nos anos 50 a 70 , sua verdadeira identidade só foi revelada , dias antes de sua morte em 1992 .

Durante todo este tempo em que produziu , clicherou e promoveu seu acervo também chamado de “ Catecismos “ , povoou a libido da juventude com os mais deliciosos contos eróticos proibidos na época .

Sendo funcionário público , viveu entre o povo , dentro do povo , compartilhando , saboreando , vivenciando o dia a dia deste povo classe baixa / média , suas sacanagens , seus problemas e suas agruras .

Atento á tudo , descobria farfalhamentos , libertinagens , sacanagens , grandes cantadas , amores proibidos , traições , sonhos e decepções entre o povo que fazia a época produtiva do país . Tudo isso era relatado , em linguagem simples , direta e certeira e desenhado em traços toscos , com pouca técnica mas tremendamente fálica entre os milhares de apreciadores.

A revista “ Playboy “ , importada , proibida para menores de 18 anos , lacrada , aparecia nas bancas mas seu preço era proibitivo e só os executivos e pessoal de mais posse financeira , tinha acesso á ela .

Trabalhando , na época , no centro de S Paulo , eu sabia quais Bancas de Revistas possuíam estas preciosidades e para ter acesso á elas era preciso ser triado , cadastrado veladamente pelo dono da banca pois este comércio dava policia para ele .

Como estes “ Catecismos “ eram manuscritos , desenhados á mão e impressos em impressoras simples , comuns e grampeados á mão , uma á uma , só apareciam de mês em mês , sempre as quintas feiras da semana . Cada Banca tinha uma senha , uma marca , um lembrete de que a remessa estava á disposição . A discrição era total .

Me lembro bem que meus amigos , companheiros de batalhas , colegas de profissão , me ligavam e avisavam = Chegou na Banca do Manuel Portugues na Pça João Mendes . Na hora do almoço , lá ia eu da R Barão de Itapetininga ( onde trabalhava ) até a Pça João Mendes , comprar a preciosidade . Uma vez lida , começava o rodízio .

Comunicavamos por telefone , = Tens aí o João Cavalo ? Já leu o Trifeneta tarada ??? Tem prá troca ??? Estou procurando = Nestor e a mulher do chefe ..........e por aí ia .

Eu trabalhava na época com artes gráficas e cheguei a pensar transformar os Catecismos em livretos melhor trabalhados , mais editados , melhor apresentados mas , pensei bem e concluí que o que alimentava a libido do pessoal era a linguagem direta , o desenho tosco e a história picante que povoava nossas mentes .

Tinham histórias hilariantes de senhores mais velhos , executivos , chefes que foram fraglados por suas esposas com Catecismo na sua maleta executiva e provocou quebra páu entre o casal . Riamos muito ao saber destes casos . Problema de esposa fuçadora nas coisas do marido .

Enfim , foi uma época mágica . Hoje a internet escancara para qualquer moleque , a suruba clássica á cores e ao vivo e a molecada nem presta mais atenção nas pegadas de João Cavalo , Dito Mandingueiro , Tonho do Boné e Paulão Tripé .

Acabou-se a poesia , acabou-se o segredo , acabou-se a adrenalina juvenil .

Fred Assoni