E se tudo isto não passar?
E, então, somente assim, completamente só, saberei que este amor sem precedentes, seguirá.
Banhado de ausência, de um adeus desventurado, nasceu eterno, sem corpo e sem direito ao carnal deleite.
E se tudo isto não passar?
Condenado viverá aquele abraço que não ousei dar.
Amarrada e esganiçada não pararei de gritar: minha fúria, em no seu existir, não mais me achar.
Ah mas e se tudo isto não passar?
Em que história desvelada poderei me acorrentar?
Em que esquina fresca hei de fumar, meu último cachimbo, antes do sepultar?
Volta para mim liberdade mundana.
Me liberta dessa consciencia insana.
Soltem minhas asas, porque preciso voar.
E sem menos, eu creio que haverei de encontrar, mesmo com tanta impaciência de se tudo isto não passar.
Porque se tudo isto não passar, onde se acostara a boemia sedenta e infinda que insiste em minha alma cantar?
Cantar ao som da velha harpa melodiando os uníssonos tragos esbraseantes a clamar seu nome, por esta garganta que se afoga na saudade do que nunca foi e tampouco será.
Mas e mas, e se tudo isto não passar?
Onde poderei deparar com um correio volante para em sua porta me despejar?
Em que boteco encontrarei seu frescor e implorarei por seu amor?
E só assim, poderia pousar minhas temblorosas mãos e seu alento espirar.
Sai de mim sopro de adeus.
Deixa minha vontade viajar.
Porque sem ela já não irei mais estar.
Ah! Mas e se tudo isto não passar?
Não posso partir sem meu último beijo dar.
E assim, meu eterno amor entregar, de peito aberto e no amargo solo da improvisada sala de estar.
Faz de mim seu invocado despertar.
Traga minha dor e aceita este amor, sem mais questionar.
Porque se isto não passar, não haverei de aqui querer estar.
E se tudo isto não passar?
Não colherei flores.
Não pularei troncos caídos nos jardins enfeitados com fautosas borboletas.
Morrerei vagarosamente, rendendo-me a ilusão de seu olhar.
Com a mão em meu ventre, sussurrarei que só ansiava com você uma vez habitar!
E serei como brisa de mar.
E então, só se tudo isto não passar, divagando entre as palavras derradeiras de quem deixa de tocar a realidade, tão pouco desejada, e caoticamente desajeitada: dançarei em seus braços, até não mais enumerar: o fim dos dias, trancafiada em meu mundo, no silêncio inquebrantável do que jaz, sem nunca permanecer.
Como eu queria que “se tudo isto não passar”, deixar minha vida escoar.
Pelas mãos do cego destino, sempre a atordoar.
Mas haverá de passar!
Com tantos “ar”, assim passará .
E voltarei a levianamente caminhar, de mãos dadas contidas, ao afago do luar.
Daniele de Cassia Rotundo