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30/03/2020
Coronavírus: perguntas e respostas atualizadas

Embora fique no ar por até 3 horas, contágio do coronavírus ainda é por contato direto.

Por quanto tempo o coronavírus vive no ar? É possível pegar o vírus pela janela da minha casa, mesmo se eu não sair de casa?

De acordo com a microbiologista Natália Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência, a transmissão do vírus é dada por contato direto com secreções.

Quando uma pessoa contaminada espirra ou tosse, e as gotículas ficam no ar ou em uma superfície, a transmissão pode se dar pela aspiração das gotículas ou encostando as mãos nessa superfície e depois levando as mãos ao nariz, boca ou olhos.

Como não é possível saber ao certo se alguém esteve no local antes e espirrou ou tossiu ali, higienizar superfícies de uso comum é recomendado, além de manter distância de pelo menos dois metros de outras pessoas e evitar aglomerações.

Se uma pessoa tossir ou espirrar a uma distância próxima, o vírus pode permanecer no ar, de acordo com estudos, por até três horas na forma de aerossóis.

Porém não há indícios que o vírus ativo possa ser carregado pelo vento. Pesquisadores encontraram o vírus ativo em diferentes superfícies inanimadas, como papelão e plástico, por até nove dias, mas dificilmente ele vai permanecer no ar por mais tempo, diz a bióloga.

"Esse tipo de vírus envelopado precisa de uma superfície para chegar ao hospedeiro, por isso o cuidado com embalagens. No caso do ar, ele é propagado por meio das gotículas de saliva e espirro", completa.

Proteção e tratamentos

Inalação é ineficaz contra Covid-19 e pode espalhar vírus no ambiente.

Inalação pode ajudar a aliviar ou prevenir os sintomas de coronavírus?

Usual método para alívio de tosses ou irritações nasais, a inalação com soro fisiológico não é indicada para os sintomas da doença causada pelo novo coronavírus, a Covid-19.

Isso porque, explica José Eduardo Afonso Junior, pneumologista do Hospital Albert Einstein, o processo pode ser pouco eficaz e ainda perigoso para quem compartilha o ambiente, devendo por isso ser evitada nos casos em que a pessoa desconfie que possa ter o coronavírus.

"Pessoas com infecções respiratórias transmissíveis por gotícula, não só coronavírus, mas influenza também, quando fazem inalação, por ter evaporação, eliminam mais partículas de vírus no ambiente. Em ambiente hospitalar, não se tem usado inalação e nebulização, justamente por segurança. É pouco efetiva comparada a outras possibilidades como bombinha, que não dispersa o vírus no ar ao redor", diz.

Assim, nem em casa o método é recomendável, uma vez que pode acabar contaminando quem está cuidando da pessoa infectada.

Ele explica que o uso de inalação surte mais efeito em tosses carregadas de catarro, por exemplo, que não é o caso de um dos sintomas mais comuns da infecção por coronavírus, a tosse seca.

Higiene e limpeza

Lavar mãos com água e sabão mata vírus; entenda

Toda a campanha em relação ao coronavirus fala em lavar as mãos com água e SABÃO. Dá no mesmo usar SABONETE em lugar de SABÃO já que sabão e sabonete são quimicamente diferentes?

Embora o Ministério da Saúde recomende lavar as mãos com água e sabão ou limpá-las com álcool em gel de no mínimo 60%, a correta higiene das mãos não está clara para a maioria da população.

A ação do sabão ou álcool em gel no vírus é muito simples, de acordo com a microbiologista Natália Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência.

"Qualquer tipo de sabão serve: sabonete, detergente líquido, sabonete líquido... Só não pode usar aquele sabão antibacteriano, por dois motivos: ele mata bactérias, e não vírus; e ele pode também matar bactérias que são protetoras da nossa pele, deixando-a muito mais suscetível a infecções", completa.

A pesquisadora ressalta ainda que o uso do álcool em gel, que já está em falta nos mercados, deve ser restrito a quando se está na rua; em casa, o bom uso de água e sabão basta. (Ana Bottallo)

Higiene e limpeza

Embalagens entregues em casa devem ser limpas para evitar contaminação

Que cuidados devemos ter com embalagens e sacolas de plástico?

Diante da pandemia de coronavírus, é preciso cuidado extra em relação ao que trazemos para dentro de casa. Ao tocar em superfícies, a pessoa deve deve evitar pôr as mãos no rosto em seguida. A lavagem das mãos deve seguir a forma recomendada pelos especialistas -com água e sabão por pelo menos 20 segundos e esfregando todas as áreas.

As sacolas plásticas de supermercado devem ser evitadas e substituídas pelas bolsas reutilizáveis de pano, que precisam ser lavadas com água e sabão antes e depois do uso.

As embalagens devem ser jogadas fora ou, quando for o caso, higienizadas com álcool 70% ou solução de água sanitária (duas colheres de sopa para cada litro de água).

Segundo Bernadette de Melo Franco, pesquisadora do Centro de Pesquisa em Alimentos da USP, não há evidências científicas de que seja possível a transmissão da doença pelo manuseio de papel, como livros ou jornais e revistas impressos. No entanto a recomendação da microbiologista é que as mãos sejam corretamente lavadas antes e depois da leitura, como uma medida preventiva.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz, em sua página de internet, que o risco de contrair o vírus que causa a Covid-19 de um pacote que foi movimentado, transportado e exposto a diferentes condições e temperaturas, como é o caso dos jornais e outras encomendas, é baixo.

Já a International News Association (Inma), uma das principais organizações de mídia do mundo, publicou estudo segundo o qual não houve nenhuma contaminação por jornal até agora.

Grupos de risco

Em suspeita de coronavírus, remédios de pressão alta não devem ser suspensos antes de ordem médica

Qual é a recomendação para pessoas que sofrem de pressão alta e utilizam medicamentos bloqueadores de receptores da angiotensina (BRA) e inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA)? E quais anti-inflamatórios podem intensificar a infecção?

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, pesquisas indicam uma maior taxa de letalidade por Covid-19 em pacientes hipertensos e cardiovasculares. Entre os contaminados portadores de doenças crônicas, hipertensos morrem em 6% dos casos e cardíacos em 10,5%. Pacientes acometidos por essas doenças costumam ter quadro mais sério de infecção.

De acordo com estudo publicado no dia 11 de março por pesquisadores do Hospital da Universidade de Basileia, uma possível explicação para o agravamento da infecção por Sars-Cov-2 em hipertensos tem a ver com o fato de que o vírus se liga a enzimas presentes no sangue (chamadas ECA2).

Essa categoria de enzimas permanece em grande quantidade no sangue quando se ingerem medicamentos como inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e bloqueadores de receptores de angiotensina (BRA).

Os dados, entretanto, foram obtidos em laboratório e não se sabe ainda ao certo sua ação "in vivo".

De modo geral, pacientes não devem interromper nenhuma medicação contra doença crônica sem ordem médica.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou nota dizendo que não recomenda a suspensão dos medicamentos, sob pena de agravar o quadro cardiovascular, que também dificulta a recuperação em casos de Covid-19 ou qualquer doença infecciosa.

Já quanto à possível associação de anti-inflamatórios como o ibuprofeno agravarem o quadro da doença, a Organização Mundial de Saúde (OMS) descartou restrição e disse que não há recomendação contra o uso do medicamento para tratar os sintomas de infecção por coronavírus.

Suspender medicamentos de uso contínuo sem ordem médica não é recomendado, segundo especialistas

Contágio e transmissão

Não há registro de coronavírus e gripe ao mesmo tempo, diz médico

Quem já está gripado por vírus influenza pode ficar também infectado pelo novo coronavírus? Qual o risco desse paciente?

Tanto a gripe quanto a Covid-19 são doenças virais respiratórias. Ter as duas infecções ao mesmo tempo não é algo comum, segundo Jamal Suleiman, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

"Em medicina, dificilmente se pensa na associação de vírus. Até o momento, não há nada descrito sobre a associação das duas coisas [coronavírus e influenza]", afirma.

Com sintomas comuns aos do novo coronavírus, a gripe pode ser evitada com a vacina contra o vírus influenza, cuja a campanha nacional está em andamento. "Quando alguém adoece com sintomas gripais, se a pessoa tiver sido vacina contra o influenza, tiramos isso da hipótese diagnóstica, o que facilita para pensar numa outra eventualidade", diz o médico.

Contágio e transmissão

Ainda é incerto por quanto tempo doente transmite novo coronavírus

Se uma pessoa tiver sintomas leves, mas melhorar, ela continua transmitindo o vírus? Se sim, por quanto tempo?

A transmissão do vírus pode ocorrer enquanto persistirem os sintomas clínicos, como tosse seca e febre, que podem se manifestar num período de 2 a 14 dias. Segundo o Ministério da Saúde, embora seja possível a transmissão após a resolução dos sintomas, o período de transmissibilidade do novo coronavírus ainda é desconhecido.

Infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Jamal Suleiman afirma que testar os pacientes é fundamental para saber se a pessoa não tem mais a doença. Além disso, o teste permite identificar qual é o número real de infectados e, dessa forma, fazer o isolamento médico.

Por ser um vírus novo, ainda não há resposta se é possível uma nova infecção e sobre a imunidade adquirida após ter a doença.

"O que a gente sabe é que toda pessoa que se expõe a um agente agressor microbiológico, como o vírus, produz substâncias voltadas para a proteção, o que chamamos de anticorpos. O que a gente precisa entender é se esses anticorpos vão ter uma ação efetiva duradoura, transitória, parcialmente efetiva ou inefetiva", diz o infectologista.

Grupos de risco

Hipertensão pode agravar quadro infeccioso do coronavírus, mas suspender medicação não é o correto.

Gostaria de saber qual o grau de risco dos hipertensos. Apenas idosos hipertensos pertencem ao grupo de risco, ou jovens hipertensos também? Hipertensos com pressão controlada estão no grupo de risco?

De acordo com Roberto Kalil Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, os pacientes hipertensos, como qualquer portador de doenças cardiovasculares, são um grupo de risco não somente para a Covid-19 mas para qualquer doença infecciosa.

"Quando uma pessoa está debilitada, qualquer infecção pode afetar o coração. Por isso os [doentes] cardiovasculares são grupo de risco no surto de coronavírus, porque eles já têm um quadro de imunodeficiência e qualquer contágio vai dificultar a recuperação."

Para Kalil, está claro que a seriedade e possível gravidade do caso aumentam com a idade.

Pacientes hipertensos mais velhos -acima de 60 anos- tendem a ter um quadro mais sério, pois sua recuperação é mais difícil. Nesses casos, o cardiologista recomenda que esses pacientes evitem ir ao hospital se notarem sintomas iniciais de gripe, pois podem contrair o vírus.

Se o paciente tiver qualquer sintoma que possa estar associado à contaminação por Sars-Cov-2, como febre e tosse, não deve haver suspensão do seu medicamento de hipertensão, mas sim consultar o médico cardiologista responsável.

"Nós recomendamos muito aspirina como remédio para paciente cardíaco. Aí surge a notícia que não pode de jeito nenhum tomar [aspirina]. Depois, o paciente tem um quadro clínico grave decorrente de problema cardíaco, que vai ser pior do que o coronavírus. Quem pode suspender medicação é o médico, com ordem médica. Não se deve fazer isso sozinho", completa.

Por fim, o especialista conclui que a manutenção da pressão é fundamental para um paciente hipertenso e que, se a pressão está controlada, é preciso seguir com a medicação, observando ainda todas as medidas já indicadas pelo Ministério da Saúde, como lavar as mãos e evitar sair de casa.

Contágio e transmissão

Comportamento do novo coronavírus pode ser igual ao do que causa Sars e imunidade de rebanho pode surgir, diz especialista.

Se adquirimos imunidade contra um vírus com vacina ou com contato prévio com ele, e como não existe vacina contra o novo coronavírus, não poderíamos considerar que a infecção é inevitável -e forçando a barra, necessária? Como fica o futuro de alguém que não é infeccionado agora?

Segundo Carlos Menck, virologista e professor do Departamento de Microbiologia do ICB-USP, a princípio pouco se conhece sobre o comportamento do novo coronavírus, apenas que ele tem alto índice de mutação.

"É diferente da gripe suína, que é um vírus mais estável e não mutou. De vez em quando aparecem uns 'pedaços' [referindo-se a fragmentos de material genético] dele em outros vírus, mas a taxa de mutação é baixa".

Agora, segundo o pesquisador, o problema de um vírus como o Sars-Cov-2 e até mesmo o da influenza, a gripe, que sofrem mutações a cada nova estação, é que a cada nova forma ele está fugindo do nosso sistema imunológico, e isso dificulta a produção de vacinas.

Porém pouco se sabe ainda sobre como o coronavírus vai se comportar na nossa sociedade.

De acordo com Menck,na epidemia da Sars (síndrome respiratória aguda grave) em 2002 tinha-se a ideia de que não era possível a cura [do vírus] porque ele também sofria mutações rapidamente, mas a epidemia se foi, e pode ser que seja o mesmo com esse novo coronavírus.

Uma medida importante, ressalta, é a possibilidade de fazer testes na população depois, até mesmo para saber quem contraiu o vírus. Se for um número grande de pessoas que foram assintomáticas, isso ajuda a criar a imunidade de rebanho, de acordo com o pesquisador.

"O fato é que muitas pessoas vão ser infectadas ainda, se não tomarmos medidas drásticas de isolamento social", completa.

Convívio social e isolamento

Doentes devem ir ao médico com acompanhante e, se possível, isolamento deve ser individual.

Se estou com sintomas severos do coronavírus, é melhor que eu vá ao hospital sozinha? Se tiver mais de uma pessoa contaminada na mesma casa, elas devem ficar separadas ou podem ficar juntas?

O desconforto respiratório associado a pelo menos mais um dos sintomas da Covid-19 alerta para a necessidade de procurar atendimento médico. Ao fazer isso, o infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Jamal Suleiman, orienta que a pessoa vá acompanhada até a unidade de saúde.

"É uma situação em que a vida da pessoa está em risco, então você precisa socorrê-la. Os cuidados no trajeto são os mesmos que devem ser adotados por toda a população", diz. Ao espirrar ou tossir, o doente deve cobrir nariz e boca com lenço de papel e descartá-lo em seguida; se não for possível, deve tapar o rosto com a parte interna do braço, e não usar as mãos.

Na unidade médica, o paciente e seu acompanhante receberão máscaras. Na sequência, a pessoa será avaliada e encaminhada para a estrutura adequada de tratamento, conforme a gravidade. Já o acompanhante será monitorado e precisará ficar em isolamento pelo período recomendado pelo médico.

A expectativa é que, com a ampliação dos testes, conforme anunciado terça-feira (24) pelo Ministério da Saúde, o diagnóstico possa ser feito mais rapidamente, além de permitir testar os acompanhantes, algo que o médico afirma que não tem sido possível até o momento.

"Se tudo der certo", diz o médico, será possível confirmar rapidamente se o acompanhante também está doente. "Se o teste der positivo, ele vai para o isolamento. Se ele der negativo, ele vai para quarentena", afirma.

O isolamento médico é para pessoas com sintomas ou que tiveram contato com a mesma e deve seguir uma série de recomendações, enquanto a quarentena é o isolamento social, determinado por autoridades para evitar o trânsito de pessoas e desacelerar o contágio. Em ambos os casos, a pessoa deve permanecer em casa.

O infectologista recomenda que, caso mais de uma pessoa de uma mesma casa esteja com sintomas do novo coronavírus, se houver essa possibilidade, cada pessoa fique em um quarto, seguindo todas as recomendações para o isolamento.

"O ideal é que cada um fique isolado, porque a gente ainda não tem clareza se a troca constante do vírus entre as pessoas pode piorar a situação de um ou de outro", diz.

Fonte: Folha de São Paulo