Numa das teias da vida milimetricamente confeccionadas: encontros, desencontros e o tempo ensaiam uma obra de teatro com tantos personagens quanto cada um imagine.
Quiçá seja única e encapsule toda razão de estar e existir.
Sem dúvida por vezes esta teia delicada é remendada por linhas coloridas, dando um toque de encontro mágico na falácia dos sonhos feitos pelas coincidências.
Desencontraremos?
Encontraremos?
Talvez.
Talvez um encontro embotado, sem olhares, palavras.
Tão genuíno que não acontece no subconsciente dos encontrados.
E aqui não há quem encontre.
Não há porque o encontro ficou pendurado no tênue fio daquele tempo que não existiu pela falta do própria tempo que cada um criou.
E porventura nossos braços encostem-se, roçando levemente nossas peles e nada mais acontecerá, porque não houve tempo de virar e encontrar com verdade.
E seria lindo sentir seu perfume, preenchendo aquele espaço em que nos coincidimos mas no vazio ficou pela pressa de chegar a uma direção que deveras nos guiará ao desencontro colossal, e a eternidade talvez e somente talvez exista para infinitamente prolongar este desencontro fatal.
E a história termina sem começar, um encontro cego, surdo e mudo.
E nestes encontros não há adeus, até logo.
Eles pairam pelas esquinas, nos becos, nas escadas, no elevador, desnudos de significado, prontos e em si terminados.
E se fecharmos os olhos e um sopro encontrar a brisa de nossos sentidos, e então , talvez possamos sentir o encontro invisível, o encontro de quem sempre se encontra nos sonhos, nos pesadelos, nos medos, nas alegrias, nas tristezas.
Aquele encontro beirando o sagrado, além de paredes fronteiriças, limites horizontais, convizinho vertical.
E assim não o verá, tampouco o apalpará e inegavelmente saberá que ali foi para encontrar.
O último momento do seu tempo será um desencontro perpétuo.
Um desencontro divino cravado no próximo momento de um encontro. E somente neste tempo, será seu legítimo encontro.
Às coincidencias:carruagens adornadas de encontro aos encontros e desencontros.
E o que é encontrar, se não anelar-se em sentimentos, com almas vivas, com almas mortes, com o inconstante?
Encontraremos o que late em nossos corações, o que faz luz em nossa razão.
Em algum recanto, o encontrado, seja uma pedra descolada ou aquela pessoa distante; reluzirá.
Reluzirá como um algo, conhecido ou não, que ressoará nos tempos esboçados ridiculamente pela vaidade da crença de controlar os encontros e desencontros.
E se todos estamos fardados para o desencontro, onde nos encontraremos?
Nos encontraremos naquele sussurro cômico gravado em ouvido fino.
Nos encontraremos nos bares da distante Boêmia, tão pronto a brisa sopre seu cheiro requintado.
Nos encontraremos em sonhos, e poderei tocar seu rosto, apertar suas mãos, recostar em seu peito e abraçar sua alma no silêncio da calada noite.
E sem embargo, ainda seguiremos nos encontrando porque assim designamos às nossas vontades, todas talhadas nos rincões de nossos corpos esparsos.
Seguiremos nos encontrando ainda que o tempo tenha apressado as partidas num desencontro negligente e lágrimas saudosistas.
Daniele de Cassia Rotundo Lima