Eles sempre conviveram relativamente bem na vida dela (o Sonho e a Realidade).
Em sua infância, os sonhos foram muito mais fortes que a inclemente senhora que já nasceu idosa, a dita Dona Realidade.
Pequenina ela não sabia a diferença entre eles.
Ah! A pureza da inocência! Tão suntuosa, poderosa e concreta nesta época de bonecas e contos de fadas, convivendo perfeitamente com o abstrato e etéreo Sonho e a ardilosa Realidade.
E assim, sem alongas Senhorita Inocência, Menino Sonho e Dona Realidade não se distinguiam na pueril Elise que genuinamente imatura, contava em sussurros ao vento seus devaneios entre borboletas e flores desenhadas em sua imaginação.
O que não sabia Elise era que Dona Realidade, surrada com marcas de antigas guerras tolas, latia enjaulada sua vontade enfeitiçada por Inocência que em constante sentinela não permitia que o Sonho se afastasse tampouco que ela (D. Realidade) se aproximasse.
A Vida foi cumprindo seu curso, na companhia destes dois protagonistas Elise crescia e seus sonhos transformavam-se em boas doses de realidade.
No entanto, nas regras da vida, a querida e doce Senhorita Inocência não fica para sempre, cabe a ela um curto período no aprendizado da existência.
Aproveitando a brecha do Tempo, Dona Realidade adentra sorrateira, ceifando as raízes do sonho da alva Elise. Mas essa peleja ela não ganharia: Sonho também havia crescido e impulsionava a jovem que embora soubesse manter os pés alicerçados no chão da vida, caminhava de mãos dadas com ele, transformando por vezes o abstrato em realidade feliz.
Foram muitos os tombos, muitas vitórias da face amargurada da Dona Realidade.
Ainda assim, Senhor Sonho nunca a deixou caída em desgraça.
Em cada derrota ele a levantava com mais força, mais paixão, mais resiliência e Elise mais uma vez bravamente sonhava.
Naturalmente alguns sonhos se perderam no oceano do impossível, outros ficaram dançando com “Um talvez”, e outros regressavam insistentemente.
Estes últimos, em derradeira oportunidade, desgraçadamente enfraquecidos e desbotados das vibrantes cores da Coragem e Juventude, pelo Tempo, tornaram-se frágeis como um sopro moribundo desfalecendo-se como asas partidas de borboletas no passado exuberantes da Esperança.
E neste adágio antagônico entre entregar-se aos braços do contido desejo do sonho e o temor de ferir-se ou ferir, o sonhador esquece de si e nega-se a chance de viver um postumeiro momento de realidade fugaz forjada na mais pura fonte do casto querer.
Sem saber que este breve invólucro do Senhor Sonho na barca do real seria a única, primeira e última vez que Dona Realidade dormiria, enquanto no refúgio desta fina película entre vida e adeus, desapareceria tão brevemente quanto um pestanejar.
Elise fecha seus olhos e já em madura consciência sabe que Dona Realidade veste o disfarce, frequentemente, de implacáveis estigmas incorporados nas vozes que fazem questão de lembrá-la de sua idade, do desgaste de viver.
Uma lágrima timidamente escorre por sua face ainda alva e ela escuta a voz de sua sempre Coragem lembrando-a que dentro de seu corpo, ainda existe aquela menina muito viva, com muitos sonhos que sustentam em seu mais verdadeiro e fiel ideal:
Viver seus sonhos, retalhados e costurados, transformá-los em realidade, quiçá por milésimos de segundos mas que serão guardados para sempre em seu coração, desses tão sedentos momentos pois os sonhos não tem fronteira, os sonhos não tem limites para quem ousa sentir o viver!
Viver é não ter medo de tentar transformar seus sonhos em realidade.
De: Elise
Para: todos aqueles que deixaram de viver seus sonhos.
Selma Esteticista