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07/06/2019
Bordado nas estrelas...

Nas suas poucas horas vagas, ela costumava correr ao encontro de seus trabalhos manuais.

Através deles ela viajava.

Viajava para perto, para longe, para lugares nunca antes tocados pelo olhar do mundo. Eram espaços sagrados que só existiam para ela, em seus sonhos, suas memórias, e sua alma.

Entre as manualidades que ela costumava fazer, o bordado sempre foi seu favorito.

Ela achava incrível o colorido das linhas.

Encantava-se como aquelas linhas tingidas que sozinhas só refletiam cores, quando juntadas, misturadas, às vezes, até aleatoriamente, conseguiam exprimir o que ela sentia, definindo as formas de um bordado.

Quando começou a bordar, ainda criança, pensava como é que as “moças bordadeiras” sabiam onde colocar cada cor, fazendo com que os desenhos ressaltassem nos tecidos como se tivessem vida.

Um dia já adulta, ela finalmente entendeu: não era apenas técnica, mas sim um sentimento, inspiração que brota do coração, uma verdadeira magia onde agulha e linha sintonizam uma orquestra de som e cores, e juntas, materializam no tecido as emoções daquele maestrina (reais ou fantasias). Ela sentiu o êxtase das “moças bordadeiras”, a sensação de terem em suas mãos os instrumentos que tecem sonhos.

Como ela compreendeu o destino inquietante daquelas mãos?

Uma menina, pela qual ela guardava uma afeição especial, enamorou-se por um de seus bordados. Ela na verdade, era mais que alguém querido, era a lembrança viva de uma amada irmã de alma, um ser repleto de luz. Tao repleto que o Criador quis seu retorno breve para o astral, deixando para os que a amavam, um vazio imensurável.

Naquele momento, a bordadeira sentiu que deveria fazer um trabalho único para esta filha: a filha de sua amiga que se foi.

Tudo foi mágico, desde a escolha do tecido, seu pensamento seguia de pronto para sua amiga.

Quando por fim começou a bordar, sentia uma leveza nas mãos, como se agulha e linha, tivessem vontade própria, como se elas saltassem sobre o tecido, sem que a bordadeira pudesse interferir. Suas mãos eram guiadas por algo maior que sua própria vontade.

E, assim os pontos foram sendo desenhados um a um, deixando sobre o tecido uma harmonia de cores alegres, que se casavam, e resplandeciam uma luz especial, nunca antes visto pela bordadeira.

Ela notou que quem bordava ali, era ela sim, mas quem na verdade a inspirava, era aquele ser de luz que trazia para o tecido, um pouco de seu imenso amor pela mocinha tão especial, sua filha.

E foi com esse estado de alma pairando nas nuvens, a cada encontro com o bordado, que ela finalmente terminou o trabalho.

Como de costume, fotografou antes de entregá-lo e, então recebeu uma grande surpresa: as bordadeiras amigas queriam saber que luz era aquela que tinha nas cores das linhas, no tecido, em cada ponto. Ansiosas questionavam qual método que ela havia utilizado.

Qual afinal a técnica que ela havia usado?

Não havia segredo nenhum...

Esse bordado foi feito por mãos comuns, com linhas e tecidos comuns, mas com a LUZ DE UM SER ESPECIAL QUE AGORA MORA NO CÉU.

 

Selma Esteticista