Ela corria pela calçada da cidadezinha onde morava, com aquele vestidinho branco de poás macios que formavam florezinhas em seus desenhos...Tinha também aquela faixa na cintura de veludo vermelho, que ela tanto se orgulhava. Sonhou tanto com aquele vestido e naquele dia de seu aniversário ela o ganhou da tia que a criava na época.
Mas a sua felicidade mesmo, era porque agora ela completava “uma mão cheia”, sim, finalmente ela tinha 5 anos e quando as pessoas lhe perguntassem ela poderia mostrar a mão e dizer: - Tenho tudo isso de idade.
Nunca tivera um bolo de aniversário e claro sonhava que, um dia quem sabe, haveria uma festa com muita gente cantando para ela... E como quem sonha sonhos puros, sempre alcança. Quando ia completar 9 anos, finalmente ela conseguiu a promessa que teria sua festa.
No dia tão almejado, ela recebeu a incumbência de ir comprar os 12 ovos, para que uma tia que sabia fazer bolos lindos, enfeitados com bonecas, pudesse fazer o dela.
Ele era branquinho como neve, todo salpicado de coco, não tinha bonequinhas enfeitando, afinal elas eram caras demais, mas tinhas flores verdadeiras coloridas que se chamavam “Beijinhos” e ela ficou feliz assim mesmo.
Sua primeira festa, seu primeiro bolo, os primeiros presentes, ah e aquela bolsinha de palha cor de laranja com sempre vivas num raminho enfeitando o fecho... foi o melhor presente, ela amou e jamais esqueceu.
Aos 15 anos ela teve outra festa, dessa vez maior, com muitos convidados e muitos penetras, agora ela sonhava com um vestido branco de princesa, mas teve, na verdade, um cor-de-rosa, reformado de uma roupa usada, que no final das contas ficou bonito também.
Hoje, relembrando esses fatos, penso como o mundo de uma criança pode ser lindo, como pequenos gestos dos adultos podem realizar sonhos, podem deixar lindas lembranças de amor!
Estou falando em aniversários que marcaram minha vida, porque aprendi com isso, que comemorar é preciso, porque cada ano vivido é com certeza uma conquista, uma dádiva, uma benção.
Os anos passaram para mim, hoje completo 65 anos. Sessenta anos me separam daquela menininha de vestido branco, mas quando me lembro dela, é sempre com um sorriso de doce lembrança...
A alegria de ter chegado até aqui, me deixa muito feliz...
A sensação de missão cumprida quando chegamos nessa idade, é plena.
Ter filhos criados, netos e até bisneta, não é sinal de velhice e sim de vitória.
Agora, posso pensar na minha vida, fazer as minhas vontades, tentar realizar os meus sonhos.
Até minhas rabugices são mais bem toleradas, porque afinal “estou velha”, e com isso vou soltando os freios, pisando mais fundo no acelerador da vida, descobrindo belezas nunca dantes avistadas por pura falta de tempo...
Até arrisco umas aventuras nunca outrora imaginadas, porque afinal, “estou velha” e todo velho é meio doido, segundo o que dizem.
Tenho uma cliente amiga que costuma dizer: “Selma, estamos queimando os últimos cartuchos”!
Então eu digo: que queimemos esses com muito barulho, muitas cores e enfeitando os céus!
Pois é...
“Estou muito feliz no meu aniversário, porque ficar velha é tudo de bom”
kkkkkkk
Selma Esteticista