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22/02/2018
Coisas de País de primeiro mundo

Festa de formatura

Faz poucos dias estive num dos supermercados do meu bairro e enquanto escolhia o que comprar uma música com carinho dedicada aos fregueses se insistia em ser ouvida e até decorei a sua intelectual letra “Eu conheço o meu amor pelo cheiro, Eu conheço o meu amor pelo cheiro”. Essa frase musical maravilhosa e muito repetida me fez pensar como os seres humanos atuais são evoluídos. A música tão contagiante daquele supermercado me fez lembrar que eu recentemente estive numa “festa” de formatura. Eu não quis comparecer lá, mas, me insistiram dizendo que não iria haver muito barulho e que depois do jantar iria haver um baile. Com isso fui convencido a ir a tal festa e minha mente até imaginou um bom baile com os padrinhos dos formandos, os pais deles, seus avôs e convidados todos dançando embalados por músicas agradáveis e suaves.

Antes e durante a cerimônia de formatura os quitutes que precederam o jantar estiveram ótimos. Lá no palco os formandos se revezaram ao pronunciarem pelo microfone suas considerações pertinentes ao evento em questão, incluindo agradecimentos, elogios e etc. Perguntei pra minha nora: Você está entendendo o que os alunos estão falando ao microfone? Ela respondeu que não. Então lhe falei que os estava ouvindo bem, prestando bastante atenção, mas não os estava entendendo. Também perguntei o mesmo pra uma das minhas netas e ela também não estava entendendo direito o que eles falavam. Então deduzi que nós, a minha nora, a minha neta e eu estávamos com problemas auditivos, porque, todos os presentes naquele evento aplaudiam e ao mesmo tempo gritavam de emoção como se entendessem tudo o que os formandos falavam.

E logo começou o baile. Foi lá defronte ao palco donde antes os formandos receberam os seus diplomas (canudos). Cada valsa “gostosa”! Não foram executadas por orquestras como as de Silvio Mazzuca, de Severino Araujo, de Orlando Ferri e etc. Foram sim “executadas” por um DJ (disc jockey). Primeiro para os formandos com seus padrinhos, depois para os pais e depois para quem quisesse valsear também. Depois... Depois... Depois... O baile naquele espaço restrito teve uma animação furiosa. O DJ e um cara que subiu ao palco promoveram um show com a cumplicidade de muitos dos que estiveram lá presentes. Todos cantavam, ou melhor, todos gritavam repetidamente uma frase enquanto dançavam, ou melhor, se gesticulavam ou se mexiam como se dançassem ao ritmo dos gritos.

Eram frases curtas que todos repetiam várias vezes iguais como era repetida aquela frase “musical” do inicio desta crônica que eu ouvi quando de minhas compras naquele supermercado. Mas os cantos aos gritos mais eram fomentados pelos milhares de lâmpadas coloridas, que, intermitentes em seus apaga e acende, pareciam que estonteadamente até iluminavam o barulho (risos). Rindo perguntei pra uma das minhas filhas: Isso é baile, isso é música? Ela me respondeu assim: Ah pai, isso é coisa de jovem. Se fosse coisa só de jovem por que vi lá no meio da farra pessoas que de jovem nada tinham? Lá bem próximo do “baile” observei bem as suas faces e percebi nelas muita empolgação para “aquilo” que era coisa de jovem, já não tanto só pra jovem. Era também para os bem adultos jovens de espírito.

Já estando com os ouvidos implorando para que eu saísse daquele lugar e também com os olhos reclamando do estontear que provocavam aquelas lâmpadas tipo pisca-pisca, resolvi me afastar daquele local vertiginoso. Já no exterior daquele prédio para eventos vi um segurança daquele local e disse pra ele: Aqui fora está mais gostoso, está mais fresquinho. Ele concordou e acrescentou “mais fresquinho e sem a poluição sonora que tem lá dentro”. Então pensei “ainda bem que não sou só eu que sou chato” (risos).

Entretanto enquanto estive naquele local festivo me comportei como se nada me desagradava. É preciso se comportar assim para se viver bem em sociedade. Se alguém fosse me perguntar se aquele evento estivera bom, eu já estava preparado para responder: Ah, está maravilhoso, estupendo, não imaginei que fosse estar tão bom assim (será que sou hipócrita e não sabia?). E faz pouco tempo li algo que alguém escreveu assim: Os brasileiros não gostam de estudar, mas, eles gostam de festa de formatura (risos). Quem escreveu isso generalizou, mas, tem verdade nisso.

E não é que por causa dessa festa de formatura eu sofri uma ameaça? Como será que poderei me defender dela? Uma das minhas netas vai se formar em seus estudos neste ano e já me intimou comparecer na formatura dela também. Socooooorrooooooo (risos). Não sabia que para ser avô é preciso também ser vítima dessas responsabilidades. Mas se ela me convidar para ser seu padrinho... Se formos fotografados e aparecermos no Facebook para os parentes e para os amigos... Até que vou gostar de comparecer na formatura dela também e... Viva a vaidade!

Altino Olympio