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04/01/2018
Desejos que só ficam nos desejos

Infelizmente já comecei o ano novo que nos deixa mais velhos, contrariado com alguns amigos e conhecidos. Eles me enganaram, mentiram. Desejaram-me um feliz Natal e feliz Ano Novo, mas, só fui infeliz. No Natal uma tosse constante dessas de doer garganta e até de provocar falta de ar, mais me manteve isolado no quarto durante o dia. Fiquei sem voz e nem pude participar da comemoração desse dia com os filhos e os netos e com outros que aqui em casa estiveram se entretendo “comestivamente” com o clima festejo de tal data. Os amigos e conhecidos me traíram, pois, foram sós com palavras que eles me desejaram felicidades. Deduzi que eles nada me desejaram a não ser me desejarem palavras. E palavras... Que seria do mundo sem elas? Elas estão em todos os lugares, nas frases de otimismo, nos mantras que produzem algum efeito especial, nas orações, nas previsões do futuro, nas promessas, nas verdades e nas mentiras e etc.

Antes da véspera do primeiro dia do ano novo já me abandonaram. Todos daqui de casa partiram numa viagem e eu fiquei sozinho vendo navios mesmo estando longe do mar. Como é triste ficar na solidão (mas, que solidão maravilhosa). A idéia do suicídio me surgiu algumas vezes, mas, observando os meus gatos que não descuidam de mim, sempre onde estou eles estão também, então, isso fez com que eu não me sentisse tão solitário e me esquecesse de pensamentos trágicos. Naquele silêncio que me faz acreditar até no que eu não acredito, saboreei as boas refeições que eu mesmo preparei, dormi como quis e acordei quando quis. Que pena que não posso comer o silêncio, ele é tão gostoso (risos).

À meia-noite de quando se inicia o ano novo eu nem sai de casa para ver os fogos de artifício do meu bairro, aliás, do bairro donde moro, pois, eu não tenho bairro. Como já assisti a esse espetáculo extasiante algumas vezes pensei: Pra que ver tudo de novo? Os estrondos eu os ouvi bem. Isso sim é que é democracia. Todos têm o mesmo “direito” de ouvir, embora, os animais, principalmente os cachorros possam sofrer com essa nossa democracia. Por “falar” em cachorro, na minha triste solidão, na minha tosse e rouquidão, ainda tive que limpar cocô da cachorra da minha filha.

Mas, aqueles amigos e conhecidos do “feliz Ano Novo” para mim, quando eu for encontrá-los... Vou desejar-lhes a mesma felicidade que eu tive no Natal e no Ano Novo. Duvido que eles aguentem o que eu aguentei (risos). Até me caiu um dente que estava frouxo como são os aposentados mais velhos e agora a prótese superior que chamam de ponte fica solta e até pula da boca quando preciso falar. “Adeus ano velho, feliz ano novo. Que tudo se realize no ano que vai nascer. Muito dinheiro no bolso. Saúde pra dar e vender.” Que bom que as palavras substituem os fatos. Elas sempre animam a quem possa estar desanimado.

 

Altino Olympio