Na rua onde morava, muito movimentada por sinal, eu raramente passeava a pé, com a agenda lotada, tinha pouco tempo para saídas.
Mas, às vezes, quando possível, eu gostava de caminhar por ela ouvindo o burburinho e vendo vitrines, e confesso que amava visitar as lojas tipo “One Dólar”, ou “R$ 1,99”.
Era muito conhecida no pedaço, já que lá morei por 37 anos... “Selma Esteticista”, esse foi o nome que me deram.
Havia um grupinho de homens que ficava em frente ao bar do Tutcho, o espanhol, que me deixava um tanto irritada, pois toda vez que por lá passava, percebia que o grupinho me olhava, cochichava, e quando eu chegava perto, silenciava. Só as mulheres sabem que olhares são esses e como irritam.
Acabei sentindo certa antipatia por todos eles.
Certo dia, uma menina que foi minha cliente da adolescência até adulta, me perguntou se eu atendia homens! Eu expliquei a ela que dependia de quem fosse esse homem, pois só atenderia se fosse conhecido ou recomendado.
Ela então me disse que era seu tio e que ele gostaria muito de fazer um tratamento de pele, pois era vaidoso, mas tinha receio de falar comigo.
Foi assim que Tutcho, o espanhol, apareceu na minha porta.
Fiquei surpresa e um tanto sem graça, afinal ele fazia parte do grupinho de homens da rua, que eu não gostava nem um pouco.
Muito simpático, ele foi logo quebrando o gelo, dizendo: - Que bom que você aceitou me atender, queria muito cuidar da minha pele, mas tinha que ser com você.
De fato, foi uma sessão agradável, ele muito falante, logo foi me contando sobre sua paixão pelo seu país, a Espanha, as terras que têm por lá, etc...
Numa sessão de estética, quase sempre existe uma troca de informações, experiências, e ele conseguiu com isso que eu o olhasse com olhos menos críticos.
No final da sessão, ao efetuar o pagamento ele me ofereceu uma gorda gorjeta, que não é comum acontecer... Eu recusei, agradeci e então ele me diz: - Adorei seu trabalho! Você é muito simpática e eu gostaria de lhe fazer um agrado.
Foi minha deixa... Respondi: - Então Tutcho, se quer me agradar, peça aos seus amigos do grupinho da porta do bar, que quando eu passar por lá, façam de conta que sou invisível.
Muito surpreso e espontâneo, deu uma gargalhada e disse: - Pode ficar tranquila, um desejo seu será uma ordem para nós.
E foi assim, que ganhei um excelente cliente, e a partir desse dia, quando passava em frente ao bar, precisava me esforçar para não rir, ao ver aquele bando de homens, tentando disfarçar e cada um olhando para um lado.
O espanhol virou um grande amigo e trouxe muitos clientes... Todos no maior respeito! Como ele fazia questão de dizer.

Selma