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06/11/2016
Vita a problemática

Toca o telefone e uma voz de menina me pergunta: - Você atende adolescente problemática?
Um tanto surpresa, respondi com humor: - Para todo tipo de problemas, temos um tipo de solução. Ela marcou um horário...
No dia marcado, mas com um atraso razoável, chega à minha porta uma menina com cara de assustada, meio que pedindo desculpas por estar viva. Vita... Foi assim que a chamei, e na mesma hora, entendi o porquê de se achar uma adolescente problemática.
Ela não tinha um rosto com acne, ela tinha acnes com um rosto. Como se não bastasse o problema de pele, Vita era uma adolescente gorda.
Olhou bem nos meus olhos e disse: - Entendeu agora porque sou problemática?
Sinceramente, fiquei com pena, mas esse sentimento não nos leva a lugar nenhum, então disse a ela que poderíamos juntas, ir resolvendo cada de seus problemas, desde que ela sinceramente o quisesse. Ela tinha, na época, 15 anos.
Nossas sessões começaram semanais, para que pudesse aliviar um pouco aquela pele que a deixava com um aspecto triste. Mas na verdade, percebi que Vita, precisava mais era de conversa, de desabafos, no entanto, ela não confiava em mim e provavelmente em ninguém naquela altura de sua vida, onde já sofria bulling, por tudo.
Foram meses de tratamento e aos poucos, fui quebrando as barreiras que a impediam de falar...
Vinda de família rica, moradora em um dos bairros mais charmosos da cidade, eu não compreendia apesar dos problemas visuais, o porquê de tanta tristeza e medo de contato.
Foi então, que um dia falando sobre beleza, expliquei a ela, que todos nós somos belos, somos especiais em alguma coisa e sempre teremos algo para oferecer e alguém para receber.
Então ela me contou: - Selma, eu não sou amada nem pelos meus pais, que me chamam de gorda, ridícula e incapaz. Sou excelente aluna, apesar de odiar ir à escola, onde sou motivo de chacota de minha turma de classe. Não sei como fazer para ser aceita. Meu único prazer é a comida.
- Mas agora tenho você, uma pessoa que me recebe com um abraço, toda vez que aqui chego.
Profundamente chocada, mais uma vez eu a abracei e a partir desse dia, tive como objetivo maior, fazer com que Vita aprendesse a primeira lição para a vida: “Se Amar acima de tudo”.
Fomos então juntas, trabalhando sua pele, seu corpo e sua alma.
Sabia que ela ainda tinha coisas para me contar, mas nessa missão com Vita, fui entendendo mais os jovens, respeitar seu tempo, e usando essa experiência para dentro de minha casa, pois também era mãe de adolescentes na época.
Fizemos progressos, ela já ria de minhas piadas e já começava a contar o seu dia a dia. Até namorado arrumou.
E foi aprendendo a sorrir sem medo....

Selma