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25/10/2016
O Cemitério da Cerâmica

O Cemitério da Cerâmica e a lembrança dele

Ainda me lembro de quando para o início do mês de novembro, minha mãe Carmem plantava lírios brancos num dos canteiros da horta lá de casa, no Bairro da Fábrica de Caieiras. Eram eles para o feriado do Dia de Finados. Meu pai Alberto comprava maços de velas para a ocasião. Garoto ainda, minha irmã Anita me levava junto para irmos aos dois cemitérios daqueles tempos. O primeiro que ficava no Bairro da Cerâmica já era desativado e o outro ficava lá na Vila Cresciuma, hoje Centro de Caieiras, onde, continua sendo a última morada daqueles que se despedem dos que continuam vivos.  O trenzinho, ou melhor, a maquininha com mais vagões de passageiros do que era habitual, no Dia de Finados, saindo do Bairro da Fábrica com os vagões perfumados e coloridos pelas flores que os passageiros portavam para seus entes queridos desaparecidos, parava na Estaçãozinha da Cerâmica, onde cerâmica não havia e lá só se fabricava papel celulose.

Desembarcados da maquininha, enquanto ela se distanciava para seu trajeto final, eu, minha irmã com outros seguíamos a pé pela rua de terra e pelos trilhos dela até a entrada do Cemitério da Cerâmica que ficava à esquerda no começo da Rua dos Coqueiros, isso, pra quem vinha do Bairro da Fábrica. À direita lá estava o Rio Juquery. Da rua até a entrada do cemitério havia um grande e espaço quadrado e gramado muito agradável para os olhos antes da entrada do cemitério. A seguir, passava-se pelo portão de madeira e assim se adentrava àquele cemitério dos antepassados de Caieiras.

Muitas pessoas lá compareciam para o anual “visitar” de seus nonos, avós e bisavós, limparem suas sepulturas e embelezá-las com flores. Também, muitas pessoas lá se reviam e aproveitavam para atualizarem suas conversas. O dia era propício para rever gente amiga de todas as vilas do lugar, como, das vilas de Caieiras, da Fábrica de Papel, do Monjolinho, da Calcárea, do Bonsucesso... Daquela gente daqueles dias finados de visitas ao cemitério, muitas já morreram e as não muitas que ainda sobrevivem já são idosas, inclusive eu.

A ninguém conheci daqueles que lá estavam sepultados.  Todo haviam falecidos antes de eu nascer. Pelos nomes inscritos nas sepulturas, ou melhor, pelos sobrenomes conhecidos se sabia quem eram seus parentes que os “visitavam” naqueles dias feriados dedicados aos finados. Talvez não seja agradável dizer que um cemitério seja bonito, mas, assim eu considerava aquele desativado do Bairro da Cerâmica. Lá havia um túmulo “especial” onde eu e minha irmã acendíamos as velas e depositávamos os lírios brancos de minha mãe. “Pertencia” ele à Valdete Olimpio, nome este de um ainda anjo que, nascido em 1936 só viveu por seis meses.

Às vezes, quando me lembro, sinto saudades daquela irmãzinha nascida antes de mim, mesmo não a tendo conhecido. Mas, e aquele pássaro que, numa das vezes que estive lá, sobrevoou em círculo o cemitério e depois retornou para a mata donde ele veio, aquela que ficava ao fundo do cemitério? Teria sido para imaginar, inventar alguma superstição? O pássaro... Garotos sempre foram mais curiosos, mais observadores que os adultos, daí a visão do pássaro. Minha curiosidade era pra ver as caveiras, conforme diziam, elas e outros ossos ficavam num buraco num dos muros daquele recinto silencioso dos já idos para o além. Caveiras eu nunca as vi, só vi o escuro donde diziam que elas ficavam (risos).

Aqueles dias de finados mais pareciam dias de festa. Lembro-me do carrinho donde se fazia “algodão doce” e vagamente do homem que o fazia e o vendia. Depois de termos estado no “cemitério de baixo” de Caieiras (como se dizia) se ia a pé para o cemitério da Vila Cresciuma. Lá, muito mais pessoas compareciam, porque, lá estavam sepultadas pessoas da geração mais recente. Entretanto, para os jovens até era uma boa oportunidade para os flertes. Lá se via as mocinhas que a gente gostava e elas não sabiam, como, vice-versa também. Agora com tudo mudado, o romantismo tendo sido abandonado, nem mais vou aos cemitérios, finado que estou para esse “comprometimento” sem os flertes de outrora (risos).

                                                                                       Altino Olympio