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14/06/2016
Esclerose múltipla: novos tratamentos


Novo medicamento

Estudo desenvolve medicamento mais prático e seguro contra esclerose múltipla. Em teste, droga promoveu mesmos benefícios que remédio usado atualmente, mas com apenas uma injeção a cada duas semanas, e não uma por dia


Um novo medicamento contra a esclerose múltipla parece oferecer os mesmos benefícios que os remédios atuais, mas com menos efeitos adversos, sem a necessidade de ser usado diariamente e com um menor risco de resistência – ou seja, menos pacientes deixam de responder à droga.

Os efeitos do novo medicamento, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foram observados em uma pesquisa feita com mais de 1.500 pessoas com esclerose múltipla de 26 países diferentes. O estudo foi publicado nesta quinta-feira na revista médica The Lancet Neurology. A droga, porém, ainda não está disponível no mercado.

A esclerose múltipla é uma doença de causas desconhecidas e para a qual não existe cura. Trata-se de uma doença autoimune – ou seja, o sistema de defesa de uma pessoa passa a atacar o próprio corpo. No caso da esclerose múltipla, ele danifica ou destrói a mielina, uma substância que envolve e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico. Quando isso acontece, são formadas lesões, ou escleroses, capazes de desencadear diferentes sintomas sensitivos, motores e psicológicos.


O primeiro medicamento aprovado para o tratamento da esclerose múltipla foi o interferon beta. A droga, injetável, bloqueia a ação de algumas células do sistema imunológico que atacam a mielina em pessoas com a doença. Seu efeito varia de acordo com o paciente – em alguns casos, o benefício é pequeno, mas, em outros, a droga pode reduzir em um terço os relapsos e níveis de inflamação causados pela doença.

No entanto, o fato de as injeções serem diárias torna comum que pacientes abandonem o tratamento. Mesmo assim, de acordo com os autores do novo estudo, o interferon beta parece ser mais seguro do que os medicamentos orais que surgiram mais recentemente para o controle da doença.

Nova abordagem – O novo medicamento desenvolvido pelos cientistas americanos é uma nova formulação química do interferon beta – e recebeu o nome, em inglês, de pegylated interferon beta.

No teste clínico da substância, que envolveu mais de 1.500 pessoas com esclerose múltipla, um terço dos participantes recebeu uma injeção de placebo a cada duas semanas; um terço recebeu uma injeção do novo medicamento a cada duas semanas; e o restante, uma injeção da droga por mês. O tratamento foi aplicado durante um ano.

Efeitos – Após esse período, os pesquisadores observaram que, em comparação com o placebo, injeções a cada duas semanas de pegylated interferon beta diminuíram em 36% a taxa anual de relapsos da esclerose múltipla e em 67% o número de novas lesões no cérebro causadas pela doença. Já as injeções mensais da nova droga proporcionaram uma redução de 28% em ambos os aspectos.

Além disso, os participantes que receberam o novo medicamento, injetado tanto a cada duas semanas como mensalmente, apresentaram 38% menos incapacidade provocada pela doença – medida pela velocidade com que andam, qualidade da visão, força e sensibilidade.

O pegylated interferon beta demonstrou ser tão seguro quanto à formulação antiga – alguns pacientes apresentaram sintomas de gripe até 24 horas após a injeção – e, portanto, mais seguro do que medicamentos mais novos. De acordo com o coordenador do estudo, Peter Calabresi, professor de neurologia da Universiade Johns Hopkins, atualmente 20% dos pacientes com esclerose múltipla deixam de responder aos medicamentos. Essa taxa de resistência em relação à nova droga, porém, não chegou a 1%.

“Acredito que esse medicamento possa aumentar a adesão e tolerância dos pacientes ao tratamento, o que pode interferir positivamente na qualidade de vida das pessoas com esclerose múltipla”, diz Calabresi. “Nossos dados são muito claros. Nós podemos tornar as coisas mais fáceis aos pacientes sem efeitos adversos perigosos.”

 


Células tronco

Células-tronco são nova esperança contra esclerose múltipla Médicos canadenses conseguiram reverter forma grave da doença em 23 pacientes com um tratamento inovador que utiliza células-tronco
Por Da redação

Jennifer Molson foi uma das pacientes com esclerose múltipla grave e recidiva que se recuperaram após o tratamento inovador com células tronco (The Ottawa Hospital/Divulgação)

Pessoas incapacitadas devido à esclerose múltipla grave têm uma nova esperança de cura. De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico The Lancet, 23 pacientes voltaram a andar, trabalhar e até mesmo esquiar após serem submetidos a um tratamento inovador com células-tronco.

A terapia, desenvolvida por pesquisadores canadenses, primeiro destrói completamente o sistema imunológico com a ajuda de uma quimioterapia, para então reconstruí-lo com a transfusão de células-tronco da medula óssea. Dos 24 pacientes submetidos ao tratamento, 70% tiveram a progressão da doença interrompida ou revertida e 40% apresentaram a reversão de sintomas graves como a perda da visão, fraqueza muscular e perda de equilíbrio.

A esclerose múltipla é uma doença neurológica incurável e com efeitos devastadores que atinge cerca de 2,3 milhões de pessoas no mundo, dentre elas 35 000 brasileiros. De causa desconhecida, a doença se manifesta de uma hora para outra, quando o sistema imunológico ataca a mielina, substância que protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico. A cada surto, as lesões formam áreas de cicatrização, ou escleroses, que causam danos irreversíveis e podem deixar sequelas como cegueira, paralisia, lapso de memória e dificuldades na fala e na deglutição. Os medicamentos disponíveis atualmente para conter a moléstia não são 100% eficazes e podem proporcionar fortes efeitos adversos ao paciente.

O estudo canadense é o primeiro a trazer esperança de cura para portadores de esclerose múltipla grave, que não respondem aos tratamentos disponíveis atualmente, e é o primeiro que conseguiu parar e reverter a doença em longo prazo sem a necessidade de outros medicamentos. Todos os pacientes do estudo tinham esclerose agressiva, recidiva e foram acompanhados por até 13 anos após o tratamento. De acordo com o jornal britânico The Telegraph, seus resultados foram considerados ’emocionantes’ e ‘sem precedentes’ por especialistas.

“Nosso estudo é o primeiro a mostrar a supressão completa, em longo prazo de toda a atividade inflamatória em pessoas com esclerose múltipla. Uma variação deste procedimento tem sido utilizada para tratar a leucemia há décadas, mas a sua utilização para doenças autoimunes é relativamente nova. No entanto, é importante notar que esta terapia pode ter riscos e efeitos colaterais graves e só seria apropriada para uma pequena porção de pessoas que têm esclerose múltipla severa”, disse Harold Atkins, professor na Universidade de Ottawa, no Canadá e um dos autores da pesquisa, ao Telegraph.

Durante o estudo, um participante morreu de insuficiência hepática e outro precisou de tratamento intensivo devido a complicações hepáticas. Apesar dos riscos, para cerca de 5% dos portadores da forma grave e recidiva da doença, essa nova terapia talvez seja a única esperança.

Como funciona — Inicialmente, o paciente é submetido a um curto ciclo de quimioterapia que estimula a produção de células-tronco hematopoiéticas – que regeneram o sistema imunológico – no sangue. Em seguida, estas células estaminais são recolhidas, purificadas de qualquer sinal da doença e congeladas para depois serem reinseridas no corpo da pessoa por meio de uma transfusão. Mas, antes disso, o paciente precisa ser submetido a 10 dias de quimioterapia. Essa fase do tratamento, considerada o “inferno” pelos pacientes, tem o objetivo de matar o sistema imunológico doente. Então, as células estaminais congelados são descongeladas e transplantadas para o corpo da pessoa, de modo que elas possam originar um novo sistema imunológico livre da memória anterior de atacar o sistema nervoso central.

O problema é que, ao matar o sistema imunológico do paciente, o corpo não só fica livre da doença, mas também está mais vulnerável a infecções e precisa reaprender a se defender de bactérias e vírus.

Jennifer Molson, uma das participantes do estudo, foi diagnosticada com esclerose múltipla em 1996, aos 21 anos. Apenas cinco anos depois, em 2001, ela vivia em um hospital sob 24h de cuidados, pois não conseguia fazer nada sozinha. “Eu não tinha sensação do peito para baixo. Eu poderia tocar alguma coisa fervendo no fogão e me queimar. Eu podia tocar algum tecido sem saber se é uma lixa”, contou ao site de notícias americano Vox. Jennifer foi submetida ao novo tratamento em 2002 e dois anos depois ela já conseguiu entrar na igreja e dançar em seu casamento.

Atualmente, 15 anos após o procedimento, Jennifer trabalha como assistente de pesquisa no Hospital Ottawa, no Canadá e gosta de esquiar e andar de caiaque aos finais de semana. “Agora eu sou capaz de caminhar de forma independente, viver na minha própria casa e trabalhar em tempo integral. Eu também fui capaz de me casar, caminhar até o altar com meu pai e dançar com meu marido. Graças a esta pesquisa eu tive uma segunda chance na vida.”, disse.

No entanto, nem tudo são flores. Após o transplante, Jennifer precisou tomar todas as vacinas novamente e, por estar mais vulnerável a infecções, acabou desenvolvendo uma infecção no sangue, herpes e graves infecções da bexiga.
 


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