Versão para impressão

01/04/2016
Tamiflu gera controvérsias, é um medicamento bom ou ruim ?

Estudos independentes (sem patrocínio da fabricante Roche) têm apontado limitações na sua eficácia.


A polêmica se arrasta desde 2009, quando dezenas de países começaram a estocar o remédio para o caso de uma pandemia de gripe H1N1. Em 2014, revisão de estudos da Cochrane (rede de cientistas independentes que investigam a efetividade de medicamentos) apontou que o Tamiflu não é mais eficiente do que um analgésico comum (paracetamol) para casos de influenza em geral.

Segundo a Cochrane, o remédio não evita a disseminação da gripe influenza e diminui a persistência dos sintomas em apenas um dia, em média –de 7 dias para 6,3 dias em adultos e para 5,8 dias em crianças. Em 2014, estudo publicado na revista britânica "Lancet" mostrou que, nos casos de gripe H1N1, ele reduz o risco de morte em 19% quando ministrado em até dois dias após o início dos sintomas. "Para o influenza comum, não justifica o uso. Nos casos de H1N1, ele pode ser útil em casos bem selecionados [pacientes de risco]", diz o médico Álvaro Attalah, do Centro Cochrane Brasil.

Segundo os estudos, os efeitos colaterais mais frequentes são náuseas e vômitos, além de distúrbios psiquiátricos (que não são especificados). Para o infectologista Esper Kallás, professor da USP, o Tamiflu é um remédio ruim. "A eficácia é limitada, e o impacto na epidemia de H1N1 é questionável", afirma.

A melhor indicação do remédio, diz ele, é na prevenção de casos de gripe em pessoas sob risco de doença grave após a exposição ao vírus. "Por exemplo, uma senhora recebeu um transplante de medula e o marido chega em casa com H1N1. Daí, damos oseltamivir para ela antes mesmo que desenvolva a doença."

O infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos, afirma que a corrida indiscriminada às farmácias não se justifica. "Ele só é válido para pacientes de risco ou se os
sintomas de gripe [febre, prostração e falta de ar] forem significantes. E isso nas primeiras 48 horas após os sintomas."

O fabricante argumenta que diversos testes clínicos realizados com Tamiflu atestam a eficácia do medicamento na redução da gravidade e duração dos sintomas em pacientes com gripe, sendo seguro, bem tolerado e reduzindo o risco de mortalidade.

A farmacêutica afirma que o remédio tem efeito antiviral e age dentro do organismo para interromper a replicação do vírus influenza A. "A Roche reitera todos os dados que constam na bula do produto aprovado no Brasil pela Anvisa." A empresa diz reforçar a qualidade de evidências clínicas do Tamiflu.

CLÁUDIA COLLUCCI
JULIANA CUNHA
Site da Folha de São Paulo