Versão para impressão

12/02/2016
Saudades da natureza

Aquele lugar tão gracioso me viu chegar

Viu-me nenê a ser menino e a crescer

Crescido fui moço como foram outros

De criança até ser grande eu era o explorar

E me encantar dos cantos e recantos

Daqueles locais que foram o meu lar

A casa que eu morava e todas as outras

Eram parecidas e pouco se diferenciavam

Na minha tinha jardim inclinado com grama

Onde era plano havia um cercado de buchinho

Cercando pés de rosas plantadas dentro dele

Minha rua era de terra como lá todas eram

Do outro lado dela tinha uma cerca

A mata por detrás dela escondia o barranco

Onde tinha bananeiras plantadas até perto do rio

Lá sentado na margem observando sua correnteza

Ela me interiorizava distraído em devaneios

Surgiam curiosidades do meu viver e de como eu era

Os postes da rua tinham iluminação fraca à noite

E as mariposas rodeavam suas lâmpadas fracas

E assim se distraiam na luz do afastar da escuridão

Durante o dia o sol era um banhar de calor e luz

Ele era a alegria para as borboletas coloridas

No bater de suas asas eram lentas ao voarem

Muitas vezes as vi imóveis em flores silvestres

Elas pareciam existir para embelezar o mundo

As mamonas verdes com seus cachos de bolinhas

Tinham seus espinhos moles que não espinhavam

Eram o pousar dos pássaros tizius a pular e a cantar

Eu vi fortes chuvas que deixavam poças na rua

Como o Narciso também eu me espelhei nelas

Entre raios e trovões ouvi minha mãe falar alto

Diante de a vela acesa repetir o nome Santa Bárbara

Era para o acalmar da tempestade de granizo

Tinha o nome de chuva de pedra

Elas embranqueciam o chão da horta

Uma a uma colocadas numa caneca com açúcar

As pedrinhas de gelo eram sorvetes da natureza

Quando a chuva se enfraquecia e ia embora

O sol que estava escondido reaparecia

Para brilhar em cores nos pingos de chuva pelo ar

Que restaram para formar as cores do arco-íres

Em casa o abacateiro era o refúgio das rolinhas

O pé de amora sempre atraia sabiás e sanhaços

E o de caqui era o preferido pelos colibris

Lembro-me do cachorro Lulu e do gato amarelo

Meu companheiro o Lulu era preto e branco

Esperto o gato cego de um olho roubava alimentos

Minha mãe sempre o expulsava da cozinha

Contudo... O tempo a passar a tudo faz mudar

Chega à adaptação ou à inevitável imitação da vida

Da vida das responsabilidades sociais exigidas

Ser mais um no mundo dos escravos do ter e do ser

E só existir no como e no que a humanidade está a existir

Vivendo mais na humanidade e distante da natureza

Adeus bananeiras do barranco e do rio devaneio

Adeus meus espelhos de poça d’água da chuva

Adeus as borboletas e ao Lulu e ao gato amarelo

Adeus pedrinhas de gelo sorvete da chuva

Adeus ao se admirar com as cores do arco-íres

Adeus à inocência dos meus primeiros tempos

Os tempos de agora não são como os de outrora

Parece existir apenas para o passar das horas

Neste mundo onde o viver está tão tumultuado 

E faz saber que a natureza está por fora

Das agruras que neste mundo vigora

A natureza sempre esteve para o bem da humanidade

E a humanidade é o maior mal para ela

Natureza e seres humanos são antagônicos

 

Comentário de Vera Freitas

De: Vera de Freitas

Enviado: quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Para: Altino Olimpio
Assunto: RE: Saudades da natureza

 

Meu amigo, por alguns momentos lendo seu e-mail, me vi também diante da casa em  que nasci.
Estranho porque eu lia com atenção o seu relato , mas as imagens que passavam  na minha mente , eram as que vivi nesse mesmo lugar que viu você eu e mais alguns amigos nossos, com os quais ainda nos relacionamos.
Ah que saudades dos lugares por onde passei, brinquei, aprendi, amei, chorei e também fui muito feliz, pois tínhamos tempo e segurança para brincarmos quando crianças, irmos aos bailes e cinema na juventude.
Tantas coisas e pessoas me passam pela mente, como o cheiro da dama da noite, das rosas que meu pai plantava no jardim, de um arbusto que dava flores amarelas ao lado da escada que descia da rua até a entrada da casa.
Ah que delicia o parreiral  carregado de cachos de uvas tão doces e cheirosas, do mamoeiro, as goiabeiras, laranjeiras, morangos e tantas outras. Saudades também dos canteiros todos arrumadinhos e cuidados, com todo tipo de verduras, mas gostava mesmo era de comer a couve-flor, quando ela começava a nascer, para desespero do meu pai, rsrsrsrs.
Amigo às vezes sinto até saudades do abacateiro da Vila Nova rsrsrs.
Fico triste em ver que meus netos não terão o que recordar quando envelhecerem, pois passam os dias em frente de um computador, brincando online, com pessoas que nunca irão poder olhar nos olhos e chamar de AMIGO.
Amigo, obrigada por me levar às origens e não me deixar esquecer de quem realmente eu sou.
 

Abraços melhoramentinos,
Vera Freitas
 


Altino Olympio