Naquela saudosa rua de terra
Sob a sombra daquela amoreira
Que se sobressaia do quintal daquela casa
E que se alastrava por sobre a rua...
Quando perambulando por lá cheguei
Olhei para cima e vi sabiás que espantei.
Naquele chão manchado por amoras pisadas
Não ouvi ruídos de pisadas se aproximarem
Até quando saindo de minha distração
Eu vi passar aquela de quem hoje lembrei.
Ela nada disse ao apenas me dedicar um sorriso.
Naqueles momentos na sombra da amoreira
Na dispersão dos pássaros causada por mim
Na passagem dela pelo chão pigmentado de roxo
Das amoras caídas ao abandonarem seus ramos
Isso tudo era a vida tendo seus momentos
E também eu tendo tais momentos na vida.
Ela é o nosso existir de momentos conscientes
Subsequentes em ocasiões conscientes diferentes.
Hoje em um dos meus momentos de existir
Estive absorto ao olhar pela janela do quarto
Donde dá pra ver o “pé de manga” do vizinho.
O vento esteve balançando seus galhos
E neles todas as folhas muito se remexeram.
Foram instantes em que a natureza se impôs
Soberana no provocar lembranças felizes
Ela trouxe para a minha mente distraída
Aquela rua, aquela amoreira com a sua sombra
Aquele chão colorido de amora esmagada
E aquela moça que silente me viu e me sorriu.
Depois da visão do pé de manga
Inevitável foi a minha curiosidade...
Onde ela estará? Nunca mais tive notícias dela.
Assim é a vida e mais somos recordações
No vazio que muitos nos deixam.