As festas natalinas me trazem sempre muita nostalgia, uma sensação um pouco melancólica, mas acima de tudo muito boa por eu conseguir capturar de um canto especial do meu coração, tão belas lembranças e tão boas recordações.
Natal lembra família, euforia, luzes, cores, presentes e mesa farta de deliciosos quitutes. Assim foram os meus natais. Na casa da minha Madrinha os preparativos no início de dezembro já me enlouqueciam ( no bom sentido). Havia uma mistura de alegria, entusiasmo e ao mesmo tempo... Muito trabalho! Ela queria lavar as cortinas, arrumar os armários, as gavetas, montar a árvore, deixar a casa em ordem e bonita “para receber o Menino Jesus”, como dizia fervorosamente. E eu ajudava, arrumando tudo que aparecia pela frente. À medida que a data se aproximava... Mais serviço! Tudo tinha que ser separado: travessas, pratos, toalhas de mesa e todas as peças que só eram usadas em datas especiais. E eu na lida... Lavando, arrumando e polindo tudo. Dias antes se começava a pensar na comida, sempre diferente e própria para um dia tão importante. A família era enorme. Dividiam, democraticamente, os gastos. Cada um trazia um prato, uns as carnes, outros as bebidas, alguns as frutas. E assim a nossa mesa de Natal era abastecida entre louças, arranjos e muita cor.
Mesmo havendo esta divisão a dona da casa não cruzava os braços. Dois dias antes, lá estava ela em suas tarefas na cozinha. Alegremente, passava horas em pé preparando a sofisticada farofa de castanhas, a gelatina multicolorida que as crianças adoravam, o pudim de leite condensado, a salada de maionese com uvas passas e o frango maravilhoso que ela tão bem preparava. Muitas vezes critiquei aquele exagero de comida que ela fazia, já que todos traziam algo. Mas como poderia uma anfitriã receber visitas sem nada pra oferecer? Esta era a sua generosa resposta que me fazia engolir, envergonhadamente, minhas próprias críticas. Quando finalmente o dia chegava, sagrado para minha Madrinha era Missa do Galo, sagrados eram os pacotinhos de presentes que, a cada um de nós, ela havia reservado. Sagrados eram os seus bordados , crochês e panos de prato que, caprichosamente , se transformavam nas mais delicadas provas de carinho a todos os convidados.
Foram assim as festas natalinas na minha fase adulta. Festas marcadas de união e muito amor. Festas que me fizeram degustar não só daqueles maravilhosos quitutes, como também de momentos extremamente mágicos e doces que o tempo jamais conseguirá apagar.
Lembrar então tem um gostinho de saudade e melancolia. Afinal, tantas pessoas queridas já se foram.
Conforta, porém, a certeza de que lembranças boas se perpetuam à medida que as evocamos e as reverenciamos. Momentos inesquecíveis provocam marcas indeléveis em nossa alma, nos acompanham eternamente e nos motivam a seguir em frente.
Certamente o principal objetivo do Natal seja este. Fazer renascer em nós lembranças de momentos felizes. Fazer renascer alegrias sufocadas. Fazer renascer o perdão. Fazer renascer a tolerância, a humildade, a esperança, o amor e a generosidade.
Renascer o Menino Jesus!
Feliz Natal a todos!