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16/09/2013
A Loja da Fonsina

Andando recentemente por Caieiras  observei o quanto ela se modificou nos últimos 45 anos.
Em 1.965, morando  na Rua 4 ( hoje Guadalajara), a população contava com um número restrito de comerciantes. Não havia clínicas, consultórios, escritórios e lojas como hoje. O que existia foi tão marcante que fará  parte da história da cidade. Existiram  os pioneiros em atividades pouco exploradas numa época de dinheiro curto. Com eles um comércio batizado com o mesmo nome do proprietário: A Cooperativa  dos Furlanetto, a Coap dos irmãos Menegatti, a Farmácia do René, o Bar do Risca-faca lá no início da Av. Presidente Kennedy, o Bazar da Lurdinha, a Quitanda da Dona Iolanda na Praça Santo Antonio, a Loja da Angelina, o Cartório de Notas do Zizo, o Consultório Dentário do Dr. Helio Ricciarelli, o Sapateiro Laszlo na Ambrosina do Carmo, a Loja de móveis do Didi e a famosa Loja da Foncina ( cujo nome era Loja Vitorio). É dela que vou  contar alguns detalhes interessantes .
A loja ficava na Av.14 de Dezembro, ao lado da  linda casa de seus  donos ( Dona Afonsina e Sr. Vitório Schirmanoff) e tinha até uma interessante comunicação interna  que, possivelmente, facilitava a vida daquele casal  na administração do lar. Era muito grande, com o chão de cerâmica vermelha  sempre muito bem encerada, balcões belíssimos de madeira escura, prateleiras  fortes, vitrines e gaveteiros de boa qualidade. Vivia repleta de mercadorias e produtos de boas marcas. Ali se forrava botões e se vendia armarinho, papelaria, tecidos finos, roupas de cama, mesa e banho, utilidades domésticas, brinquedos,  presentes para casamento, louças, sabonetes, lenços e  muito mais. Tudo  naquela loja,  estava   sempre muito bem organizado e limpo, suprindo  em muito as necessidades dos moradores de Caieiras, com uma oferta incrível de produtos. Era um verdadeiro Shopping  Center na década de 60 e 70.
Dezenas de vezes eu saí de casa, para ir àquele local deslumbrante  e sempre cheio de coisas bonitas. Minha madrinha como costureira sempre me mandava lá para  buscar suas  linhas, botões, elásticos e colchetes.
Lembro-me perfeitamente dos balcões polidos de madeira maciça. Lembro-me das gavetinhas, das vitrines cheias de rendas,  fitas coloridas, zíperes  e botões dos mais variados  tamanhos, colados  em cartelas aderentes. Lembro-me da gaveta de retroses e carreteis com linhas de algodão da marca Corrente, dos novelos de lã  nas prateleiras mais altas, das peças de renda e laise caprichosamente empilhadas em ziguezague, dos cobertores peludos  em caixas de papelão e finalmente...Dos brinquedos, nosso maior sonho de consumo na época. Brinquedos com som, de vinil, com corda, panelinhas, bolas, carrinhos, trens de apito, bicicletas, bambolês, jogos, bonecas que beijavam,  falavam, e  choravam. Enfim... Tudo... Tudo que, sempre  encantava nossos olhos e  que provocava  nossa cobiça.
Éramos crianças entre 08 e 10 anos, famintas de novidades e surpresas. Por isso, entrar na Loja da Foncina era muito compensador. Ali, podíamos  sentir  a doce sensação do sonho realizado, mesmo que por rápidos instantes ou por roubados toques de curiosidade.
A  Dona Foncina contudo, nunca deu trégua  à criançada . Ficava de olho, atenta, sempre nos vigiando pela parte superior dos óculos e nos proibindo de mexer nos objetos mais frágeis.
Algumas vezes levei  bronca dela. Esquecia-me do que tinha ido comprar. Sabia  que era um carretel de linha. Mas que linha? Havia uma infinidade delas!
Ela então, muito  firme, me fazia voltar em casa onde  então, levava  outra bronca. Mas, retornava à Loja, para minha felicidade. Só que, desta vez,  com uma amostra da linha ,um  bilhetinho bem dobrado numa das  mãos e dinheiro contado na outra.
A loja, por décadas,  foi um grande centro comercial e um grande  ponto de encontro de moradores amigos caieirenses.
Mas, o tempo também  foi passando e mudando costumes. A modernidade trouxe outras necessidades e  novos estabelecimentos. Hoje, lojas de grandes redes dominam nossa cidade. Locais ocupados por comerciantes amigos, éticos e solidários foram cedidos a um novo conceito de negócios. Já não existe o mesmo  acolhimento de outrora. Já não existe  a mesma  interação amigável e pouco importa o contato afável que no passado se sobrepunha a qualquer interesse comercial.
Hoje, no mesmo local daquela  loja funciona uma farmácia, o que me fez sentir saudades de uma época em que a impecável  Loja da Foncina  contribuiu para o destaque e crescimento de Caieiras. Época em que a loja daquela  mulher, extremamente  batalhadora,  fez brilhar meu olhos e encheu  minha infância de muitas alegrias.

FATIMA CHIATI