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19/06/2013
As reações aos protestos

Análise de Mercado

A Política e o Quebra-Quebra

A situação política ameaça se deteriorar rapidamente, após a onda de protestos e depredações desta semana em várias capitais do País, principalmente no Rio e em São Paulo. O movimento, que tomou contornos de uma rebelião popular em expansão, teve início com o suposto objetivo de reverter o reajuste de R$ 0,20 na tarifa dos ônibus. É importante lembrar que esse reajuste ficou aquém da inflação e foi adiado durante meses, após acordos com o governo federal, exatamente para não contribuir para a escalada inflacionária. O Rio é governado pelo PMDB; a capital paulista pelo PT e o Estado pelo PSDB ― ou seja, estão sobrando pedradas dos manifestantes para todos os lados, a não ser na direção de integrantes dos partidos de extrema esquerda, como o PSTU, PCO, PSOL, infiltrados de primeira hora nos protestos.

“Infiltrados” porque aparentemente não são essas legendas os principais organizadores dos protestos, que tem à frente uma certa organização chamada Passe Livre, que não defende o cancelamento do reajuste, mas sim a extinção da tarifa. “Organização” maneira de dizer, porque os próprios “organizadores” afirmam que não há lideranças nesses atos, o que nos remete aos métodos cibernético- cinematográficos do Anonymous. Às vésperas da Copa das Confederações as cidades atingidas estão próximas do caos, a população amedrontada, muitos com dificuldade de voltar para casa depois do trabalho. A mídia internacional mostra os distúrbios ao lado dos graves incidentes na Turquia, que já contabilizam cinco mortos e milhares de feridos. O que deve se temer, portanto, é que a situação saia ainda mais do controle por aqui. Desde o início, os governos fizeram acusações de uso político dessa suposta bandeira tarifária. O intuito seria apenas o de atacar tucanos, petistas e peemedebistas no poder, não necessariamente nessa ordem. Com Fernando Haddad na prefeitura paulistana, o governo federal também poderia ser atingido por tabela. O fato é que, aos poucos, o movimento foi sendo engrossado por grupos de estudantes, trabalhadores insatisfeitos, entre outras tribos. Os governantes se recusaram a negociar; até porque, com quem?! Os baderneiros de sempre deram início a depredações. A polícia, embrutecida com a criminalidade reinante e sem o necessário preparo londrino para enfrentar essas situações, baixou o sarrafo com violência. Também foi vítima dela, bem como diversos jornalistas que estavam trabalhando em meio a esse fogo cruzado. O resto aparece estampado em todos os jornais. Hoje quase ninguém mais se lembra dos tais R$ 0,20. Os protestos são contra a polícia, os baderneiros, os governos, os corruptos, a elite que anda de carro, os donos das empresas de ônibus, os corruptos, a imprensa que não noticia direito o que está acontecendo... a lista não para de crescer. A situação só tem piorado a cada dia, aparentando estar fora de controle. Pela manhã se falava que a próxima passeata seria programada para a próxima terça-feira. No início da tarde corria o boato de que haveria um protesto relâmpago na frente da TV Globo de São Paulo, instalada em um dos principais corredores empresariais da cidade. Empresas da região já estariam dispensando funcionários para evitar envolvimento em eventuais confrontos.

Cenário Político

Não precisamos ser adivinhos para imaginar que, a seguir assim, os próximos alvos poderão ser as sedes de prefeituras e governos estaduais. Obviamente, as consequências, a qualquer momento, tendem a ser trágicas. Capas das revistas semanais devem vir carregadas de negro e vermelho. E no fim de semana tem jogo do Brasil! Tudo isso às vésperas da pesquisa trimestral do Ibope que medirá a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Já não lhe bastavam a inflação, o dólar, o pibinho (além da rebelião na base aliada por verbas e prestígio) que, segundo o Datafolha, por si só, já haviam produzido um estrago de bom tamanho nos índices de aprovação do governo federal. A questão agora não é se o eleitor vai responsabilizar diretamente a presidente pelo quebra- quebra país afora. Sobre isso, aliás, só quem tem aparecido para falar é o ministro da Justiça , José Eduardo Martins Cardozo. Acontece que os mandatários supremos se beneficiam, ou sofrem abalos, até por inércia, por conta da percepção geral de bem ou mal-estar. A conferir. Por seu lado, os governadores do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito paulistano, Fernando Haddad (PT), devem estar extremamente preocupados com essa situação tão grave em suas searas e com os possíveis estragos para as eleições do ano que vem. Haddad, não, porque só vai eventualmente tentar se reeleger em 2016. Contudo, este promete ser um péssimo início para seu mandato. De qualquer forma, ainda falta muito tempo para as urnas. Ou não. Tem gente que diz que a campanha já começou.

 

Ibsen Costa Manso

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Paula Pavon

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