Dois anos após do mercado do antiinflamatório
Vioxx e um ano depois da suspensão das vendas do Bextra, em função
da publicação de estudos que atestavam que o medicamento aumentava
os riscos de problemas cardíacos e renais, surge outra polêmica.
Novos estudos científicos sobre os efeitos colaterais de antiinflamatórios
indicam que remédios amplamente prescritos também aumentando risco
em até 40% de enfartes e derrames.
Um deles refere-se particularmente ao diclofenaco, no mercado desde 1988 e vendido
sob os nomes comerciais Voltarem e Cataflam, ambos do laboratório Novartis.
A empresa, no entanto, garante não ter planos de suspender as vendas,
feitas no Brasil facilmente sem receita médica.
Segundo pesquisadores da Universidade de Newcast, na Austrália, o composto
aumenta o risco de acidentes cardiovasculares em até 40 %, desde o primeiro
mês de tratamento. “O resultado é surpreendente”, diz
o farmacologista Antony Wong do Hospital das Clinicas de São Paulo. “O
diclofenaco faz parte de uma geração de antiinflamatórias
que protege contra a formação de coágulos sanguíneos
e, portanto, evita problemas circulatórios. Mas precisa ainda ser confirmado
com estudos clínicos.”
Além do diclofenaco, existem hoje no mercado mais quatro princípios
ativos da chamada primeira geração de antiinflmatórios,
os não esteroidais: ibuprofeno (Advil), nimesulida (princípio
do Nisulid), naproxeno (Naprosin) e piroxican (Feldene). Eles agem principalmente
numa substância que participa do processo de inflamação
chamada COX-L.
TESTES APONTAM PROBLEMAS COM OS REMÉDIOS VOLTAREM
E CANTAFLAM.
Ela está presente em todo o organismo. A boa noticia
é que nem todos os remédios antigos apresentam os mesmos problemas.
O naproxeno não influenciou o sistema cardiovascular, por exemplo.
O FDA, órgão que regula remédios e alimentos nos EUA, anunciou
que as novas evidências não mudarão a resolução
sobre os antiinflamatórios não-esteroidais.
Em nota, a Novartis diz que “a meta-análise não é
aceita pelos órgãos reguladores como evidência clinica para
suporte de registro de produtos”. A empresa, entretanto, garante que vai
analisar mais profundamente o assunto. “Não reconhecemos a validade
médica do estudo”, afirma Nelson Musolini, diretor corporativo
da Novartis.
Foram revisados 23 estudos clínicos, que envolveram cerca de 1,6 milhões
de pessoas.
Os dados foram publicados ontem no site da revista da Associação
Médica Americana por causa de suas implicações da saúde
pública-na versão impressa, sairá apenas na primeira semana
de outubro.
A revista também publica novas evidências de risco da segunda geração
de antiinflamatórios, os inibidores seletivos de COX-, presente nas articulações.
Entre eles estão o Bextra, o Celebrex , considerado boa alternativa pelos
médicos, aumenta o risco de doenças cardíacas quando ministrado
em altas doses. O Vioxx aumentava a chance de problemas renais em cena de 50%
e quase triplicava o risco de enfartes.