As crianças da Vila Leão se divertiam além da conta. Eu pelo menos, brinquei demais.Brincava em casa,no quintal, no portão, na escola,na Rua da Bomba e no campinho. Ah! Quanto brinquei no campinho que só no nome era pequeno.O espaço era enorme .O quintal da minha madrinha ( dona Cida Sant’Anna) fazia fundos com ele.Havia até um portão de acesso que facilitava bem o encontro com a criançada. Ali as meninas brincavam de amarelinha.Riscando o chão com um galho de árvore, esboçávamos os espaços a serem pulados na divertida brincadeira. Campeonatos eram realizados e antes de mais nada saíamos à procura de boas pedras para serem jogadas nos quadrados.Em seguida, feito sacis, numa perna, pulávamos até chegarmos “no céu” , o espaço redondo e grande onde fazíamos uma breve pausa .Voltar do céu e recomeçar o pula-pula era mais difícil, pois nesta volta tínhamos que recolher a pedra, sem pisar no risco, sem cair e sempre apoiando-se numa única perna.Mas todas sempre conseguiam vencer esta etapa.Complicadas eram as etapas seguintes: pular com a pedrinha na mão, pedrinha na cabeça,pedrinha no pé, de olhos fechados, pedrinha jogada de costas e assim por diante, numa sucessão de dificuldades que só a prática e muita sorte elegiam uma campeã.O segredo estava em escolher uma boa pedra, que não rolasse,que não tombasse e que fosse discretamente anatômica para as diferentes modalidades do jogo.Cheguei a ter umas seis pedras num único campeonato.Cada uma foi útil numa situação e felizmente, pedras na Vila Leão, não faltavam.Não me lembro mais das vencedoras,lembro apenas da brincadeira que, sempre acontecia à tarde e depois da escola.Lembro do campinho cheio de crianças.Lembro dos meninos jogando bolinha de gude, malha, rodando pião ou girando arco.Brincávamos tanto no campinho que, a poeira dele marcava em nossos pés e roupas, a intensidade da diversão .E a volta pra casa trazia sempre a certeza de que um grande banho de bucha nos esperava.O campinho foi assim, muito importante a nós.Foi mais um daqueles lugares mágicos e encantados da Vila Leão.Acolheu a criançada,guardou fantasias e risos de felizes e descontraídos momentos. Mas foi também mais que isso. Foi local de festas e encontros dos moradores.Ali registrou-se quermesses, fogueiras, pau de sebo e tantas outras atrações que também divertiram a comunidade . Fecho meu olhos e consigo ver as bandeirinhas enfeitando o local.Vejo as barracas de madeira cobertas com lonas. Vejo a barraca da roleta com seus prêmios cobiçados.Vejo a barraca do coelhinho,na qual inúmeras vezes arrisquei minha sorte.Vejo a banca dos quitutes deliciosos feito pelas mulheres da vila e sinto até o gosto do canudinho recheado com doce de abóbora, meu preferido na época.Vejo a penumbra do campinho naquelas noites frias e festivas, com suas lâmpadas fracas que tornavam o evento ainda mais acolhedor. Consigo ouvir os rojões,as bombinhas explodindo sob latas de condimentos, alegrando docemente e malvadamente os olhos dos meninos mais peraltas da Vila.Vejo gente rindo, brincando,conversando,se cumprimentando e se relacionando familiarmente num encontro social simples, sem as suntuosidades de hoje , mas carregadas acima de tudo, do calor humano de seus habitantes.Relembro gente que era feliz com tão pouco e me dá até uma certa tristeza saber que, hoje com tantos espaços sofisticados e modernos , nem assim ,em nenhum deles, se realizarão festas e acontecimentos como aqueles inesquecíveis, do campinho da Vila Leão.Quantas saudades!!!