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13/06/2006
Varicocele

Varizes aparecem em mais de 25% dos adolescentes, por volta dos 15 anos

Um em cada quatro adolescente sofre de uma doença assintomática, quase imperceptível, mas que pode comprometer sua capacidade reprodutiva no futuro. O problema chama-se varicocele, ou varizes no escroto - um termo pouco agradável, que dificilmente faz parte das preocupações de qualquer garoto na puberdade. Assim como as meninas nessa fase passam a visitar rotineiramente um ginecologista, entretanto, a saúde reprodutiva do homem também merece acompanhamento médico desde cedo, dizem os urologistas.

“Da mesma forma que a mãe leva a filha ao ginecologista depois que ela menstrua pela primeira vez, o pai deveria levar o filho ao urologista”, diz o médico Agnaldo Cedenho, chefe do Setor de Reprodução Humana da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A varicocele não é a mais óbvia. O diagnóstico é simples e pode ser feito com um exame visual, até mesmo por um médico de família.

O problema aparece por volta dos 15 anos. Mas, como não causa dor, costuma passar totalmente despercebido. A grande maioria dos homens só vai perceber que há algo errado depois de casado, quando surgem problemas de fertilidade. Nesse ponto, um problema simples, que poderia ter sido resolvido na juventude, passa a representar uma barreira reprodutiva, cuja transposição pode trazer um alto custo financeiro e emocional.

Cerca de 30% dos homens que procuram uma clínica de reprodução humana sofrem de varicocele, segundo Cedenho. E, em quase todos os casos, o problema poderia ter sido detectado – e corrigido – na adolescência. “O ideal é que todo pai leve seu filho a um urologista a partir dos 14 ou 15 anos pelo menos uma vez por ano”, recomenda o médico Jorge Hallak, coordenador técnico-científico do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas.

Um estudo realizado com 360 adolescentes na faixa dos 14 aos 18 anos, estudantes do Senai de São Paulo, mostrou que 27,8% tinham varicocele de grau mais elevado (2 ou 3). “A freqüência foi surpreendente”, diz o urologista Marcos Mori, que fez a pesquisa para sua tese de doutorado na Unifesp. “A maior parte é totalmente assintomática.” Só 5% dos jovens, segundo ele, reclamavam de dor ou desconforto.

Jossam Eduardo da Silva, hoje com 24 anos, foi um dos que participaram da pesquisa logo no início, quando estudava eletrônica no Senai. Ele não sentia nada de errado nem tinha, jamais, ouvido falar de varicocele. Detectado o problema, fez um espermograma e descobriu que a saúde de seus espermatozóides não estava boa. Fez uma microcirurgia no Hospital São Paulo e, hoje, seu espermograma está normal. “Se não fosse esse exame no Senai, certamente eu não saberia de nada”, diz. “Homem não tem costume de procurar urologista. Acho até que tem um certo preconceito.”

Fábio, de 22 anos, também nunca sentiu dores, mas percebeu um certo inchaço no testículo esquerdo e resolveu procurar um médico. Descobriu também que tinha varicocele e que seus espermatozóides estavam seriamente comprometidos, tanto em quantidade quanto qualidade. Fez a cirurgia dois meses atrás e agora aguarda pelos resultado do próximo espermograma. “Nunca tinha ouvido falar em varicocele”, diz. “Não fazia a mínima idéia do que era.”

O comprometimento da capacidade reprodutiva ocorre pelo acúmulo de sangue em volta do testículo, o que eleva a temperatura dentro do saco escrotal e prejudica o processo celular de formação de espermatozóides. As varizes podem aparecer nos dois testículos, mas são mais comuns no lado esquerdo, devido a uma características anatômica.

A veia testicular esquerda desemboca em um ângulo reto na veia renal esquerda, onde a pressão sanguínea é extremamente alta. Conseqüentemente, o sangue que deveria subir é pressionado para baixo, causando dilatação e acumulo de sangue nos vasos testiculares. “É como se fosse um motorista numa ruela tentando entrar na Avenida Paulista às 6 da tarde”, compara Hallak. Não só ele pode não conseguir entrar na avenida, como uma fila de carros começa a se formar atrás dele na ruela.

Já a veia testicular direita desemboca sem maiores dificuldades na veia cava inferior: “uma via expressa de oito pistas”, segundo Hallak.

CASO A CASO

Quando o engarrafamento de sangue no testículo começa a comprometer a fertilidade, a solução é fazer uma ligadura dos vasos. Segundo Cedenho, é uma cirurgia rápida e minimamente invasiva. “Você opera de manhã e sai à tarde com o problema resolvido”, diz.

Nos casos mais graves, a qualidade do esperma pode ser 75% inferior à de um indivíduo normal. Nem todos os casos, porem, requerem cirurgia. Se o homem já tiver uma fertilidade inicial boa, é possível conviver com a varicocele sem comprometimento da capacidade reprodutora. Se a fertilidade inicial for baixa, entretanto, mesmo uma varicocele de menor grau pode se tornar um problema grave. A avaliação tem de ser feita caso a caso.

“Varicocele não é sentença de infertilidade”, garante Mori. Em média, segundo ele, só um entre cada cinco casos precisa de tratamento.

A preocupação é que o problema se agrava com o tempo. Quanto mais tarde for o diagnóstico, menor a capacidade de recuperação da fertilidade. “Como a tendência atual é ter filhos mais tarde, o paciente acaba se beneficiando pouco do tratamento e tendo de recorrer à reprodução assistida”, diz Mori.

Outros problemas que podem ser detectados pelo urologista incluem câncer de testículo e má-formação genital.

Reprodução

Defeito silencioso
A varicocele é uma das doenças mais comuns do aparelho reprodutor masculino

Incidência
Estudos indicam que um em cada quatro jovens (25%) pode ter varicocele. Em 25% a 30% dos casos, a doença pode causar problemas reprodutivos.

Sintomas
Pode causar dor ou desconforto, mas a maioria dos casos é assintomática. Visualmente, é possível perceber um certo “inchaço” e assimetria dos testículos afetados.

Causas
A varicocele é caracterizada pela dilatação e má circulação das veias que retiram sangue dos testículos. O problema é mais comum no lado esquerdo, porque a veia testicular desemboca na veia renal esquerda, onde a pressão sanguínea é muito forte. Em vez de subir, o sangue desce e fica acumulado na parte em torno do testículo, elevando a temperatura a prejudicando a produção de espermatozóides.


O Estado de São Paulo