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23/04/2012
A dificil trajetória de um pai .

Recentemente assisti o filme: Estão todos bem ( produção  2009), com a atuação magnífica de Robert de Niro. O filme conta a história de um homem, que após a morte da mulher, decide relacionar-se mais intimamente com seus 4 filhos e viajando para a casa de cada um deles, aos poucos, vai se infiltrando num cotidiano desconhecido, misterioso que sua mulher sempre lhe ocultara.Deixando à parte as interpretações dos atores e principalmente a de Robert de Niro que, como sempre é surpreendente, gostaria aqui de ponderar sobre um  tema que merece reflexões: A difícil trajetória de um pai. Todos são criados e condicionados a ver o pai, apenas,  como provedor, mantenedor e disciplinador. Já a mãe, na maioria dos casos é vista como figura perfeita, idolatrada e acima de qualquer julgamento.Mesmo com a presença dos dois,inexplicavelmente e inconscientemente  o predomínio da opinião feminina sempre foi mais intenso e a  família,indiretamente, passou a ser  matriarcal, mesmo que digam o contrário.Por razões óbvias, como por exemplo a maior disponibilidade de tempo em casa, a maioria das mulheres,abraça esta função de educadora dos filhos e tudo passa a se concentrar nela,com ela e através dela.Por razões subjetivas como, instinto de proteção,maior grau de tolerância, resignação e afetividade elevada , ela  passa a carregar por anos a fio a responsabilidade  de manter este controle, custe o  que custar.Por amor,por  imposição de uma educação recebida, também matriarcal,por problemas no relacionamento conjugal ou até por uma dose grande de autoritarismo  disfarçado, ela exclui desta tarefa, o marido, pai de seus filhos, e o transforma unicamente num chefe de família  ,aquele que simplesmente tem participação nos momentos críticos e em especial quando estão presentes os problemas financeiros da casa.Cria-se desta forma um redemoinho de emoções.Uma grande  animosidade se instala no lar. Este chefe, chamado de pai,passa a ser marginalizado,suas opiniões pouco importam,suas decisões são sempre consideradas arcaicas ou radicais   e sua posição nesta  sociedade, chamada família,  fica na maioria das vezes em segundo plano.Assim como no filme, somente com as situações de morte ou separação é que tudo, obrigatoriamente ,se modifica e este mesmo homem passa a repensar sua importância e passa a se enquadrar no verdadeiro contexto familiar.Sem alternativas e sozinho  ,ele se vê obrigado a reagir,se impor e reatar laços, antes interrompidos por contingências de uma estrutura que lhe foi praticamente imposta.Num novo momento de vida ele vai então, deixar de ser o mero provedor, a agência financeira, para assumir novas posições e um novo papel perante os filhos.Num campo agora menos competitivo,poderá exercer suas reais funções, além de provedor e recebendo portanto, a afetividade, respeito e consideração pelo que é e principalmente pelo que foi ao longo de tantos anos.Instintivamente,nesta nova fase pai e filhos irão se confrontar, se reconciliar e finalmente se dar as mãos  para uma caminhada conjunta de descobertas, de acertos e de consertos.Filhos descobrirão que aquele homem, tantas vezes, rabugento, bravo ou sério demais,na verdade é um homem sensível, dócil, amigo.Filhos descobrirão que aquele homem que parecia não querer participar de nada, na verdade também sofreu, ao ser expectador por muito tempo, de sua própria insignificância dentro da família, que demonstrava pouco interesse  por  suas opiniões.Filhos irão entender que aquele homem que se passava por simples mantenedor, nada mais era que um homem preocupado com a subsistência da família, quase sempre excessivamente consumista.Filhos irão enxergar que aquele homem que parecia tão ausente, estava presente sim, mas em pensamentos furtivos,durante  suas sofridas e longas jornadas de trabalho.Filhos irão sentir que, aquele homem injustamente taxado de ditador,na verdade sempre foi frágil e que inúmeras vezes o medo de fracassar foi tão forte, que o silêncio foi sua melhor  opção. Filhos verão que aquele homem, quase estranho e solitário também teve muitos sonhos irrealizados,vontades reprimidas e muitas ilusões perdidas no tempo.Filhos irão concluir que aquele homem enérgico, ditou pra si mesmo regras firmes de responsabilidade, abrindo mão de suas vontades maiores para simplesmente  oferecer    o melhor à sua família. Pai e filhos presenciarão  um renascimento mútuo, compensador.Tentarão então,  resgatar o que for possível.E certamente se entenderão, pois irão se reconhecer num amor verdadeiro, único e incomparável.Serão finalmente amigos.Como amigos dividirão promessas,sonhos,erros e acertos.Contarão vitórias,fracassos e se mostrarão como são, sem máscaras, sem disfarces.E ao se olharem nos olhos, profundamente, compreenderão que somente estas descobertas dignificam a relação humana.Principalmente entre pai e filhos.


Fátima Chiati