Em alguns casos, a insulina pode provocar alergia. Essa é uma das complicações possíveis do tratamento do diabetes, mas, felizmente, é um evento raro, em grande parte porque a tecnologia já permite alcançar alto grau de pureza no produto, explica a endocrinologista Maria Elizabeth Rossi da Silva, do Hospital das Clínicas de São Paulo e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Maria Elizabeth Rossi da Silva – “Embora cada vez mais rara, a alergia pode atingir o usuário de insulina. As reações variam do leve desconforto a situações críticas, com manifestações letais como o choque anafilático. Os sintomas de alergia ocorrem mais usualmente nos primeiros seis meses de terapia insulínica e são mais frequentes em quem faz uso intermitente da medicação. Pacientes que desenvolvem alergia à insulina são também mais propensos a manifestar alergia a outros medicamentos, como a penicilina, por exemplo.
A manifestação alérgica pode incidir no local da aplicação ou ser uma reação generalizada. Quando é localizada, compreende três tipos principais:
a) Eritema (vermelhidão) e nódulo discreto, coceira (prurido) ou, às vezes, dor no local da injeção. A reação é imediata, com urticária, nódulo e prurido, seguida da fase tardia, 6-12h após, com edema, eritema e prurido (que podem durar até 2-3 dias).
b) Reação de hipersensibilidade intermediária, que se inicia após 4-8h da injeção, com pico após 12h. As lesões são endurecidas e dolorosas, às vezes com hematoma central, e causam coceira.
c) Hipersensibilidade tardia mediada por células. São lesões pruriginosas, endurecidas, avermelhadas, com queimação local, que aparecem após 12h da aplicação, com pico após 24-48h.
Eventualmente, o diagnóstico dessas lesões pode requerer biópsia.
Já a alergia generalizada é extremamente rara e atinge menos de 0,05% dos pacientes. Os sintomas podem incluir urticária generalizada, edema, vermelhidão, taquicardia e broncoespasmo (chiado pulmonar); raramente evolui para parada cardiorrespiratória.
O tratamento consiste em afastar fatores locais, tais como técnica inadequada de aplicação da insulina ou de higiene local, alergia ao álcool ou produtos utilizados na assepsia. As pistolas injetoras de insulina muitas vezes causam erosão na pele, simulando alergia. A agulhas ultrafinas utilizadas atualmente não causam danos à pele.
As reações locais tendem a ser autolimitadas e se resolvem espontaneamente em 1-2 meses. Pode ser necessário utilizar medicamento oral específico, principalmente aqueles com efeito anti-inflamatório ou anti-alérgico. A medicação não deve ser injetada junto com a insulina porque tem incompatibilidade química e precipita a insulina.
A alergia à insulina, mais frequente quando se usavam as insulinas bovinas ou porcinas era, muitas vezes, facilmente resolvida com a mudança para insulina humana. Como comentado, a alergia à insulina humana é extremamente rara. Nesses casos, uma possibilidade a ser considerada é a alergia a determinados componentes presentes na solução de insulina, podendo ser necessária a troca por outro tipo ou marca de insulina. Dispomos no mercado de insulinas de ação lenta (humana-NPH e análogos: glargina e detemir), de ação rápida (humana regular) ou ultra-rápida (análogos lispro, asparte e glulisina). Se, no entanto, todas essas alternativas falharem, o paciente deve ser submetido à dessensibilização, em regime de internação hospitalar.”