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24/06/2011
Presentes, mas, ausentes

 Presentes, mas, ausentes

As pessoas não são mais para as pessoas. Elas são para si mesmas. São para quaisquer distrações que lhes dêem prazer, auditivo ou visual, ou, ambos. Hoje o mundo está abarrotado desses “esqueça-se de si e de todos por todos os momentos”. A tecnologia corroborou com isso no separar pessoas mesmo entre os membros das famílias. Outrora, todos tinham tempo para todos. Mais à noite, a família ficava reunida durante e depois do jantar. Pais conseguiam conversar com seus filhos e vice-versa. Conseguiam ser carinhosos com eles e eles também para com os pais. Os casais, sempre presentes de “corpo e alma” mantinham entre si a profundidade de seus sentimentos tornando-os duradouros. Apenas as ondas de rádio invadiam os lares lhes proporcionando um entretenimento agradável e, até mesmo, inocente. Mas, convenhamos, ele foi o precursor do isolamento entre pessoas da mesma família. Nos horários de programas preferidos sempre alguém estava a pedir silêncio para poder ouvi-los. Eram horários para o rádio e não para a família. Depois dele e muito mais poderosa, a televisão apareceu mesmo para calar os familiares durante os seus programas ininterruptos. Agora estamos na era do computador. É outro ladrão de tempo a mais isolar as pessoas de outras. Rádio, televisão e computador são para serem nossos e não para nós sermos deles. Para os viciados nesses aparelhos tecnológicos, outras pessoas se lhes tornaram de menor importância, sem graça, incluindo mesmo os mais íntimos como, pais, irmãos, cônjuge e filhos. Diálogos, então, cada vez menos e, só os inevitáveis. Família parece mesmo ter perdido sua significação. Onde os jovens à noite se encontram e consomem álcool, se parece notar em suas alegrias uma tristeza a dizer que eles são vítimas do “cada qual só consigo mesmo” familiar. O estar só mesmo entre outros e no perder a importância para os entretenimentos tecnológicos teve suas conseqüências num descontentamento existencial incompreendido. Quando isso se agrava se manifestando em solidão, ansiedade e depressão, os psicólogos são ineficazes, inúteis para reverter essa situação. Eles não podem repor nas pessoas a “consideração por elas” agora perdida. Podem tentar ajustá-las na “sem consideração” em que se encontram como sendo “normal” para todos nesta época do “ninguém tem tempo pra ninguém”. Exposto aqui está que os seres humanos agora tão escravos de suas parafernálias não mais vivem em si mesmos, mais propensos que estão para a dispersão de suas mentes. Com isso percebemos em muitos um retardamento de seus raciocínios ao tentarem se comunicar com outros. Eles sentem dificuldade em se lembrar de palavras adequadas para qualquer assunto e em qualquer ocasião. Essas mentes “promissoras” talvez ainda possam inverter essa distorção de valores que assola esta nossa sociedade.

Altino Olympio

Altino Olímpio