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07/05/2010
Salivação no diabético

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3/5/2010 - Diabetes

Entrevista com a cirurgiã dentista Ana Miriam Gebara, do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape) da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo

Problemas de calcificação e atraso no nascimento dos dentes são algumas das consequências que o diabético tipo 1 pode ter de enfrentar em função da doença. Muitos dos problemas bucais que o diabético apresenta são resultado da menor produção de saliva, consequência do diabetes descompensado, informa a cirurgiã dentista Ana Miriam Gebara, do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape) da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

A falta de salivação aumenta a chance de a pessoa apresentar cáries – doença infecto-contagiosa por bactérias causada por fatores diversos, entre os quais a falta de saliva. Além disso, a ingestão de alguns alimentos como forma de combater a hipoglicemia pode criar condições favoráveis para o surgimento dessas cáries: alimentos pastosos, como o chocolate ou a goiabada, salgadinhos, pirulitos e outros que grudam nos dentes com maior facilidade aumentam a probabilidade de surgimento de cáries.

“A saliva tem entre suas várias funções a propriedade de realizar a limpeza mecânica dos dentes e de facilitar a calcificação”, explica Ana Miriam, que também é diretora do Departamento de Odontologia da Associação Nacional de Apoio ao Diabético (Anad). Por isso, ela recomenda que a higiene oral seja severa e que a criança ou adolescente evite comer à noite se não fizer uma boa limpeza oral em seguida.

A cirurgiã dentista recomenda que o diabético realize pelo menos três escovações ao dia. A pasta de dentes pode ser escolhida indistintamente entre as marcas existentes – no caso de crianças, dando-se preferência àquela que mais lhe agrada – desde que ela contenha flúor, mas é recomendável que se evitem as soluções enxaguatórias compradas em farmácia, uma vez que muitas marcas têm álcool em sua composição, o que afeta a glicemia do diabético.

Também são aconselhados os auto-exames de gengiva, feitos com apalpamento da região para verificar se não há focos de infecção. O diabético deve ainda observar atentamente se não ocorrem sangramentos durante a escovação e frequentar o dentista a pelo menos cada três meses.

Para o diabético tipo 2, além dos problemas enfrentados por crianças e adolescentes, podem ocorrer também amolecimento dos dentes ou o surgimento de focos de infecção causada por dentes ou obturações quebrados. É comum, ainda, o hálito com odor de maçã apodrecida, chamado de hálito cetônico, resultado de forte descompensação causada por hiperglicemia.

Embora problemas como a gengivite e a periodontite também afetem não diabéticos, Ana Miriam afirma que o cuidado deve ser redobrado com o diabético porque ele precisa de muito mais tempo para se recuperar desses problemas. “A inflamação pode levar de dois a três meses para desaparecer, obrigando o portador de diabetes a conviver com o problema por muito tempo”, afirma.

Responsável pelo atendimento a diabéticos no Cape, Ana Miriam conta que sua consulta começa sempre com um teste de glicemia e o encaminhamento do paciente, quando necessário, ao acompanhamento de um endocrinologista e de uma equipe multiprofissional de diabetes. Ela mede também a pressão sanguínea da pessoa e faz uma radiografia panorâmica que lhe permite avaliar o estado dos dentes e dos ossos de sustentação.

A consulta do diabético costuma ser mais curta que a de outros pacientes, explica, para reduzir o estresse de dentista que pode causar descompensação. Ela prefere, ainda, que essas consultas sejam realizadas na parte da manhã, quando o paciente está mais relaxado, medicado e alimentado.

Ela sempre reforça a necessidade de que o diabético não suspenda sua medicação em função do tratamento dentário, porque essa medicação não interfere nos efeitos dos remédios próprios para os dentes e sua suspensão pode gerar descompensações que só pioram o quadro geral do paciente.