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01/03/2010
Tempo perdido

De um modo geral as pessoas vivem dispersas do nascer ao morrer. Vivem conforme um padrão de existência já estabelecido pela sociedade. Entretidas com os compromissos pela sobrevivência, elas por anos e anos se aprisionam a eles como não tendo alternativas. Parece não ter mesmo, pois, viver implica em suprir suas necessidades e nisso está o se sujeitar como outros se sujeitam a um trabalho para seus sustentos. Todos se rendem ao paradigma proposto pela sociedade no como cada um deve encontrar os meios de se prover, pelo menos, o básico para poder se manter independente de auxílio alheio que é humilhante. Nessa dependência obrigatória a maioria despende muito anos de suas vidas. Não poucos vivem assim até o fim. Envolvidos nessas responsabilidades diárias e acomodados nelas num esquecer-se de si mesmos, todos parecem não querer lembrar que vão morrer. Se lembrassem iriam refletir se a situação em que se encontram é aquela que melhor convém. Entretanto, sair, fugir, escapar dessa situação de aprisionados é quase impossível. Se alguém “acorda” desse pesadelo de não poder ser o que e como quer ser e pensa “chega vou abandonar tudo e ir embora” já é tarde. Para si mesmo criou armadilhas das quais não consegue se desvencilhar. Sim, levado a atender o padrão de vida proposto e imposto pela sociedade, isso é sobrecarregado de deveres e responsabilidades inevitáveis e escravizantes. Tendo formado família então, os deveres para com ela, problemas e preocupações pertinentes causam ainda mais o enfraquecer da individualidade. Esta fica sem sua prioridade para atender a de outros. Tudo a corroborar com a perda da decisão para se safar de uma existência se ela é percebida como alienada. Para os conformados sendo eles a maioria, a vida se resume nisso e nem pensam se ela pode ser de outra forma. Temos um período de vida e nele os conformados só se entretêm deixando-o mais ser como ele está a acontecer. Nos já perto do fim de seus períodos de vida sente-se neles só o acúmulo mental do que a sociedade lhes quis em seus existir, o banal e o óbvio. Nisso viveram por tempos perdidos. Do nascer ao morrer cada um tem um tempo de vida a decorrer e nesse tempo sem perceber está a vir a ser conforme o sistema que veio a se estabelecer e disso pode ser prisioneiro até morrer. Que bonita é a democracia do livre viver alienado.

Altino Olímpio