04/07/2009Benvindos ao glorioso fundo do poçoA Espanha, a Inglaterra e os Estados Unidos, para destacar os ruídos mais incômodos, enfrentam taxas de desempregos horripilantes ao fim do primeiro semestre de 2009. No Brasil, são aproximadamente dois milhões de desempregados que avistam ladeira abaixo os quinze milhões de miseráveis, que não entram na estatística porque recebem algum benefício do Estado, e se esforçam para estarem ao lado dos vinte e cinco milhões de aposentados, cuja arrasadora maioria ganha apenas um salário mínimo. Esse quadro é conseqüência do prejuízo de R$150.000.000.000,00 (cento e cinqüenta trilhões de reais) de perdas ao redor do mundo desde setembro de 2008, segundo as estatísticas mais conservadoras de organismos econômicos reconhecidos.
No entanto, em que pese tal magnitude de desastre, o mercado, sustentado por trilhões de incentivos dos Estados aqui e alhures, abana-se frescamente com a chegada ao glorioso fundo do poço para alçar a subida projetada para o final deste ano e decolagem da aeronave americana com pista longuíssima e com todos os passageiros a rezar para que, no meio do caminho, não estoure o pneu calibrado com a bolha chinesa em 2010.
A comemoração antecipada dessa perspectiva, característica dos agentes de mercado especulativo, contaminou as políticas de governos - geralmente corruptos - que se fiam em empurrar o problema para os outros ou para frente, a adotar medidas de curto prazo, e ainda se apegam à propaganda enganosa para mentir sobre as causa da crise. O Brasil, por exemplo, chegou a comemorar o fato de ter entrado em recessão no primeiro trimestre de 2009, porque o PIB ficara menos ruim que o esperado. Assiste-se, pois, desde os fantasiosos balanços das instituições financeiras, para garantir os bônus milionários dos Executivos e ganhos especulativos trilhardários, até aos discursos falaciosos das autoridades econômicas mundo a fora, para garantir a unidade nacional em prol de ganhos em popularidade e proveito dos grupos de sustentação do poder político.
O resultado dessa arquitetura de dados mascarados, como no caso escandaloso das estatísticas “oficiais” da Argentina, é que, no fundo do poço, o Estado perde a ética e a dignidade dos atos públicos, ao se imiscuir como agente econômico majoritário no mercado, agora livre de distinção entre público e privado.
Hermano Leitão