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22/09/2008
Alterações em genes ajudam a ‘prever’ evolução do câncer de mama

Pesquisadoras brasileiras tentam entender tumores invasivos. Principal dificuldade é a semelhança entre variantes da doença.

Diferenças bioquímicas muito sutis, quase indetectáveis, parecem fazer a diferença entre um tumor de mama facilmente curável e outro com probabilidade elevada de se espalhar pelo resto do corpo. Esse quadro um tanto assustador emerge dos trabalhos de duas pesquisadoras brasileiras, apresentados nesta quarta (17) durante uma reunião científica em Salvador. Os dados, se forem confirmados por mais estudos, poderão ajudar médicos a tratar de forma diferenciada as pacientes cujo organismo está mais suscetível aos piores efeitos da doença.

Uma das pesquisas, coordenada por Dirce Carraro, do Hospital do Câncer de São Paulo, e apresentada durante o 54° Congresso Brasileiro de Genética na capital baiana, envolve a tentativa de entender como alterações na expressão (ativação ou desativação) de certos genes geram as formas mais agressivas de carcinoma ductal, um dos tipos mais comuns de câncer de mama, assim conhecido por afetar os dutos do tecido mamário. Muitos desses tumores são “in situ”, ou seja, nunca se espalham além de sua região original, o que facilita muito o tratamento e a cura – a paciente nem precisa de quimioterapia.

O problema é que uma pequena fração deles pode se tornar invasivo, espalhando-se por toda a mama e chegando a outros tecidos e órgãos do corpo, fenômeno conhecido como metástase. “As alterações moleculares [no DNA das células] que levam à invasão não estão bem estabelecidas ainda”, explica Carraro. O que a pesquisadora e seus colegas fizeram foi analisar de forma comparativa as formas invasivas e não invasivas da doença, examinando as diferenças na ativação do DNA entre as células capazes de se apoderar de outros tecidos e as células tumorais vizinhas que eram não-invasivas e portanto mais “mansas”.

No começo, parecia que a tarefa tinha naufragado: “Nós não achamos nenhuma diferença significativa no padrão de expressão. Provavelmente, era algo pequeno demais para ser detectado”, conta Carraro. O jeito foi começar de novo e tentar comparar genes já sabidamente envolvidos com capacidade invasiva graças a estudos feitos com outros tumores. Usando esse artifício e técnicas mais refinadas, a equipe descobriu que, embora tenham aparência “boazinha” e não-invasiva, as células tumorais que estão nas vizinhanças das invasivas já possuem alterações em seu DNA que as deixam preparadas para a invasão. Têm, portanto, “cara” de não-invasivas, mas perfil genético de invasivas. A idéia é que esses dados sejam usados, no futuro, para prever quais pacientes vão precisar de um tratamento mais agressivo para enfrentar a doença.

Cópias a mais ou a menos

Implicações parecidas tem o trabalho de Luciane Regina Cavalli, que hoje trabalha na Universidade Georgetown (EUA) e colabora com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná. Hoje, uma das principais maneiras de estimar a chance de uma paciente com câncer de mama ser portadora de formas agressivas da doença é avaliar o chamado linfonodo sentinela, região das axilas onde é comum aparecer a metástase (espalhamento) da moléstia.

“O problema é que as alterações morfológicas no linfonodo sentinela nem sempre indicam a chance de metástase, e a paciente pode não ter essas alterações e mesmo assim desenvolver o câncer mais agressivo. Seria interessante aumentar a precisão desse tipo de análise”, conta ela.

A chave, segundo o trabalho de Cavalli, pode estar na presença de cópias extras ou faltantes de pedaços de DNA das pacientes. Comparando o material genético de mulheres com linfonodos normais e alterados, a presença dessas alterações de grande escala no genoma mostrou uma correlação com a gravidade dos tumores de mama. Com isso, deverá ser possível melhorar a previsão sobre o avanço da doença em cada mulher no futuro.
 

G1