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30/07/2008
Filantropia ao máximo


Existem várias histórias de “iluminados” que foram apagados apesar de continuarem iluminados para si mesmos. Quando alguém chega nesse estado é irreversível a sua situação. No ano de 1968, um ainda rapaz fora “iniciado” numa dessas sociedades filosóficas e esotéricas. Na época, contando talvez vinte e sete anos de idade, muito simpático o rapaz tinha um bom porte atlético, era desinibido, bem fluente no nosso idioma e tudo parecia indicar que ele teria um futuro promissor. Mas, com o passar do tempo, o aprofundar nos estudos das práticas para desenvolver as capacidades psíquicas fizeram-no descuidar do lado material da vida. De emprego em emprego, mais vivia desempregado. Considerava-se “superior” por pensar que detinha mais conhecimentos do que a maioria. Empregos, só escolhia aqueles que julgava ser compatível ao seu nível de evolução, o que às vezes, conseguia, até quando, se indispunha com os patrões, comparando-os como sendo seus inferiores.

De bom viver, apreciava bebidas finas, bons restaurantes, era freqüentador da vida noturna da cidade de São Paulo, tinha muita facilidade no trato com as mulheres e, com algumas delas, seu envolvimento resultou em confusões incontornáveis. Uma que muito gostou por dezesseis anos e num romance às escondidas era uma bonita psicóloga casada com um psiquiatra, este tendo entre seus clientes, pessoas famosas do nosso cenário político. O romance começou com os dois já sabendo terem sido amantes numa “outra encarnação” e nesse envolvimento a confusão foi maior. Terminou em ameaça de prisão para ele numa delegacia de polícia e aqui os detalhes desse caso tumultuado não se fazem necessários. O rapaz era um bom entretenedor e ao telefone com alguém, detalhista como era, a conversa, ou melhor, o monólogo se prolongava muito e ele não sabia parar.

Imbuído que era de seu estado avançado de evolução, conseguiu executar a maior de sua vida. “Foi eu” disse ele “foi eu quem acabou com a guerra do Vietnã”. Essa noticia se espalhou entre os “irmãos” daquela sociedade à que ele pertencia. Benfeitor da humanidade foi vítima de zombarias além da consideração de estar louco. Quando solicitado para ser mais explícito sobre aquele empreendimento supra-humano, ele, relatou: “Naquela tarde, sozinho, estive no recinto sagrado de nossa sociedade e lá concentrado meditando e com lágrimas escorrendo pela face, pedi o fim daquela guerra. No dia seguinte apareceu nas manchetes dos jornais em letras garrafais a frase FIM DA GUERRA DO VIETNÔ. Ninguém conseguiu dissuadi-lo dessa engenhosa intervenção e ao morrer poucos anos atrás tendo cerca de sessenta e dois, partiu acreditando nesse seu poder extremo, embora, fosse falho a ser utilizado em benefício próprio. Morreu enquanto vivia sozinho e desprezado pelos amigos. Essas sociedades para o “aprimoramento” humano, embora não querendo, podem desencadear em alguns de seus integrantes a manifestação de algum distúrbio mental antes não manifesto. Os com sanidade mental normal não correm esse risco, entretanto, não é impossível perdê-la.


Altino Olímpio