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02/06/2008
Apartar-se


“Ao te isolares no estudo, tu te livrarás de todos os desgostos da vida, não mais desejarás a noite por aborrecimento do dia e não mais serás uma carga para ti mesmo, nem inútil aos outros” (Sêneca).

Serenamente estar só onde se está é um privilégio para quem gosta de sentir os próprios pensamentos. Esse hábito protege a invasão dos pensamentos provocados por outros quando de seus relacionamentos conosco. Os outros sempre estão a falar e o que falam, queiramos ou não, fica substituindo os nossos pensamentos para outros surgirem em atenção ao que ouvimos. Quando nos damos conta, algum tempo foi decorrido e estivemos sendo recipientes de exteriorizações de outra pessoa, atuais na importância para ela não sendo para nós. Estivemos temporariamente expostos e envolvidos com o conhecimento de fatos alheios aos nossos e no mais das vezes eles não condizem com a nossa apreciação.
Acostumando-se a manter outros à distância, cada vez mais diminuindo a oportunidade de contatos vamos se livrando do óbvio do cotidiano deles. Aquele “jogar conversa fora” por agradável como possa ser deixa de ser atrativo.

“Deve-se escolher com cuidado os homens; ver se eles merecem que lhes consagremos uma parte de nossa existência e se são gratos ao sacrifício de tempo que lhes fazemos; pois há os que chegam a considerar os serviços que lhes prestamos como um benefício para nós mesmos” (Sêneca).

Às vezes nos descuidamos ao considerar alguém pertinente aos nossos mesmos ideais e lhe permitimos tomar parte em nossos espaços como também aos nossos momentos. O tempo pode vir a mostrar um exagero de interferências e mesmo de intrometimentos. A objetividade dos mútuos ideais vai sendo esmaecida dando guarida a conhecimento de convívios irrelevantes e estes se tornam preferíveis para ser compartilhado. Ficamos então a avaliar a conveniência de tal intimidade e confiança estendidas a outro. Quanto mais nos intensificamos com a paz proveniente da solidão com que a introspecção sobre a vida promove, mais apreciamos ser individualista no sentir dela. É nessa bifurcação que nos separamos dos demais deixando de os compreender e pouco se importando se somos incompreendidos. Como se sabe, o ser humano mesmo na multidão é sozinho. Pensa que não é quando outro ou outros o distraem momentaneamente de sua individualidade. Ela que é o refúgio das mazelas e nela, só nela, a vida é mais sentida. A vida... Ah a vida, por si só é a imensidão nos tendo inclusos.

Altino Olímpio